sexta-feira, março 29 2024

Por Davi Garcia

[contém spoilers] São vários os aspectos que tem me empolgado nesse início da 4ª temporada de Fringe, mas o mais fascinante deles se refere à capacidade demonstrada pelos roteiristas de explorar casos novos tão bizarros quanto os do início da série usando-os de forma alégórica para alimentar o grande mistério do arco atual (Onde está Peter Bishop?) ao passo em que expandem o conflito dramático de seus protagonistas. Escrito por David Fury (roteirista de “Walkabout”, um dos melhores episódios de Lost e co-produtor de Fringe), “Alone in the World”, 3º episódio da temporada, trouxe a história de um garoto solitário (Aaron) que estabeleceu, sem maiores explicações mais aprofundadas, uma espécie de simbiose com um fungo mutante que agia como se fosse uma grande rede neural. Afetado diretamente por aquele organismo e por tudo que ocorresse a ele, o garoto acaba sendo acolhido por Walter que, dividido entre o que julgava ser alucinações e a necessidade de estudar o fenômeno da vez, acaba enxergando no pequeno paciente não só a mesma dor provocada pela solidão que não compreende, mas também a chance de exorcizar o trauma da perda do filho vitimado pela doença e pelo acaso de um acidente.

Dando destaque ao drama de Walter cada vez mais assombrado pelo pedido de socorro que ele entende ser fruto da perda de sua sanidade, “Alone in the World” captou de forma muito incisiva todo o desespero do personagem (externado por mais uma performance excepcional de John Noble) que chega a tentar a lobotomia como rota de fuga daquele ‘fantasma’ só para descobrir, depois de ser salvo/impedido por Olivia, que esta também vinha experimentando, ainda que num nível inconsciente, a presença daquele que os dois desconhecem, mas cuja identidade agora pretendem e precisam descobrir.

Expositivo na medida certa para o momento da temporada e suas muitas perguntas/dúvidas, “Alone in the World” desenvolve a trama esclarecendo que, ao contrário do que podia parecer, Peter sempre existiu no universo que vemos agora. Ou seja, a circunstância e a motivação que levou Walter a atravessar a fronteira dos dois universos permanece sendo a mesma (resgatar o Peter de lá ainda garoto para salvá-lo de uma doença) e ‘só’ o que muda é a consequência de sua ação, uma vez que sem a intervenção do observador, o Peter de lá que se tornaria o adulto que conhecemos nos anos anteriores da série, morre afogado ao retornar pro lado de cá com Walter.

O que isso tudo significa? Talvez o reforço da ideia (já indicada pela cor diferenciada da abertura) de que o universo que vemos agora e que julgamos ser o ‘nosso’ seja simplesmente uma outra variação dele. Como o Peter adulto que conhecemos se encaixa nesse contexto? Não faço a menor ideia, mas o glyph code da vez (ver acima) falando em renascido certamente pode suscitar alguns bons palpites, não? Você arrisca algum?

10 comments

  1. Não sei porquê, mas começo a achar que o Peter será aquele que a matará, como ela citou em um episódio da temporada passada.

  2. Eu tbm gostei de notar pequenas coisas nesse episódio, como a adaptação do Lee. Ele abraça as teorias e peculiaridades do Walter com uma facilidade incrível.

    Devo dizer que sinto falta do Peter. Ele altera a dinâmica dos personagens com os outros e com a situação. Só com ele Walter interage com o exterior, por exemplo. E a formulação das teorias é muito mais interessante com os 2 gênios debatendo.

    No mais: Deem um Emmy pro John Noble! (E um Globo de Ouro, e um Oscar, e um Tony…)

  3. O John Noble arrasa, isso é fato! Ele consegue carregar o episódio nas costas. Mas acho que fui a única que não curtiu muito esse episódio… Achei esse caso da semana tão estranho! Ok, Fringe sempre tratou de fenômenos estranhos. Mas a coisa ficou mal explicada, uma relação emocional com um fungo assassino… Enfim, valeu pelos dramas do Walter.

  4. Uma aula de roteiro e de atuações. É tão sutil a atuação da Anna Torv ,que poucos percebem como ela interpreta agora uma personagem fria e solitária e que com a chegada de Lee, começa a se tornar mais receptiva e aberta, o que na minha avaliação, deve resultar em um romance com Lee. Noble é fora do comum em atuação. Gênio. Como disse o Davi, é incrível a capacidade metafórica de Fringe. Não é só uma série de Sci fi,mas sobre a vida e suas interações sociais e emocionais.

  5. Estava ficando perturbado com a situação do Walter. Parece besteira, mas tava foda ver a agonia do cara. Pelo final do ep. parece que ele vai dar uma melhorada. E a Astrid ein?? Eu Já não sei se a Jasika chora pela interpretação dela ou pela comoção das interpretações de Noble. Mito!!

    OBS.: Gus é um organismo que se aproveita da solidão de Aaron pra forjar uma ligação com o garoto. Só eu vi Breaking Bad aí? rssrs. Seria muita “viagem” essa menção?

  6. Melhor episódio da temporada entre esses três primeiros. E sei que é ‘chover no molhado’, mas John Noble se supera a cada episódio, extraordinário!

  7. Só fui eu que achei que eles fizeram uma referência a Breaking Bad, com Gus parecendo bom, sugando Aaron, e somente Walter poderia salvá-lo?

  8. hahaha! Boa! Na hora que falaram Gus, lembrei de Breaking Bad, só não tinha pensado nessa relação toda!

  9. Embora o mote (o garoto ligado emocionalmente a um fungo…) tenha sido esquisito demais – mesmo para os padrões de Fringe – o episódio foi muito bom. As pitadas de humor na medida certa, os dramas pessoais, as interpretações, tudo de primeiríssima qualidade.

    A lamentar, a quantidade ínfima de comentários. Acho que o hiato foi grande demais… Muita gente com quem eu falo nem sabia que Fringe tinha voltado!

    Uma pena, porque, se continuar assim com o “ibope” baixo, com certeza será a última temporada. E, embora Fringe não tenha tantos mistérios assim pra explicar, uma interrupção brusca prejudicaria a conclusão dos fatos.

  10. John Noble cada vez melhor!
    E a cena dele falando que assistiu o filme dos brinquedos falantes e foi “estranhamente desconcertante”, pra justificar o porquê de dar o boneco do Peter pro Aaron foi uma ótima tirada dos produtores e um sensacional alívio cômico pra um episódio tão denso para o Walter.

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