quinta-feira, abril 25 2024

[com spoilers dos episódios 3×15 e 3×16] Mais uma vez The Good Wife apresenta um distinto domínio de fatos relevantes e atuais, como nenhuma outra série de TV hoje é capaz de fazer. Além disso, a série apresenta casos complicadíssimos envolvendo inclusive Direito da Informática, uma área em que ainda hoje há pouco entendimento jurisprudencial, que mesmo assim é discutido com propriedade e inteligência. Em Life From Damascus, o escritório Lockhart/Gardner peticionou por três famílias que tiveram entes detidos e mortos durante a guerra civil na Síria, curiosamente graças a ajuda de um software desenvolvido por uma empresa americana (evidência máxima da globalização). Já Will Gardner mal recuperou-se de seu desgaste com o Grand Juri para se tornar vítima da vingança pessoal de Wendy Scott-Carr com Peter Florrick e acabou sendo suspenso pela Ordem em virtude de uma falta disciplinar ocorrida 15 anos antes e nem a prescrição pôde salvá-lo. Adotando sempre uma narrativa que envolve o espectador mesmo diante de várias histórias paralelas, o episódio contou ainda com ótimas participações especiais de Rita Wilson, Parker Posey e Amy Sedaris, estas últimas envolvidas no sórdido jogo de bastidores do estrategista Eli Gold.

Mas foi em After the Fall que as cartas que nortearão a reta final desta temporada foram postas sobre a mesa de Diane Lockhart, com os abutres David Lee, Julius Cain e o próprio Eli disputando a vaga recém deixada pelo ex-sócio majoritário Will – algo que é prosaico em grandes escritórios de advocacia por aí. E enquanto Alicia defendia um cineasta que fez um filme sobre suicídio e era acusado pela família da moça de tê-la incentivado a tirar a vida, a própria advogada se viu à beira do abismo ameaçada pela concorrência da jovem Caitlin. E não deixa de ser curioso que a sobrinha de David Lee só foi promovida depois de desempenhar bem no tribunal e ali fora colocada pela própria Alicia em virtude de sua beleza para chamar atenção do juiz. Em nenhum momento The Good Wife escancarou isso, preferindo sugerir com a sua usual sutileza. Até agora a temporada segue de forma impecável e irrepreensível, seja quando aborda a campanha de Peter e os casos da semana ou até mesmo com os bem-vindos momentos de alívio cômico como aqueles envolvendo as irmãs de Will. Que série!

11 comments

  1. Como você disse, a temporada está impecável, Bruno! Os roteiristas mereciam chuvas de prêmios em suas cabeças.

    A história da Caitlin, aliás, é genial (e é genial porque soa absolutamente autêntica). Alicia tinha suas ressalvas com a competência dela no início por conta da sua contratação ter sido imposta, mas a moça surpreende. Agora, numa reviravolta, surpreende tanto que ascendeu muito mais rápido do que a Alicia previa e sem proteção, só pelos seus méritos. É incrível notar como a Alicia percebe tudo isso e se sente incomodada, com certa inveja (embora ela seja educada demais para fazer qualquer comentário a respeito). E é assim mesmo que as coisas funcionam, não é? Caitlin teve um empurrãozinho inicial, mas mostrou-se competente na hora certa (dada a saída de Will e a sobrecarga no escritório) e ganhou a vaga. Simples como o mundo real.

  2. uma coisa que eu nao entendi, é o Eli querer a vaga do will. ele é formado em direito, ou ele so é guloso?

  3. Ótima review.

    The Good Wife é a melhor série de tv em exibição, ‘in my opinion’. A 3ª temporada está fantástica.

  4. Até onde sei, a história do filme que incentivou o suicídio é “real”. O filme em si se chama The Bridge.

  5. Acredito que ele não precisa ser formado em direito para associar-se a uma firma jurídica nos EUA. Profissionais contábeis, estrategistas, consultores e outros podem ser “named partners” lá. Às vezes isso é feito sob outra forma ou sociedade.

    Essa vedação existe no Brasil em virtude do Estatudo da OAB, que proíbe estes tipos de associação.

  6. Eles vivem se inspirando em casos assim. Teve até o do Facebook ano passado após o filme A Rede Social.

  7. Na verdade, há um erro na série. A American Bar Association proíbe expressamente que pessoas que não são advogados sejam sócios em escritórios de advocacia: “Rule 5.4 of the ABA Model Rules of Professional Conduct, adopted or adapted by many state bar associations, specifically forbids lawyers from forming partnerships with nonlawyers or sharing an interest in a law firm with them.” (http://www.abajournal.com/magazine/article/selling_law_on_an_open_market/), e

  8. Francisco vou verificar, pois já prestei serviço para um escritório americano em que eu lembro claramente que existia a figura do sócio não-advogado.
    ***
    Verifiquei e realmente existe a vedação. Contudo, há uma proposta da própria ABA para permitir tal figura. Veja aqui: http://www.americanbar.org/content/dam/aba/administrative/ethics_2020/20111202-ethics2020-discussion_draft-alps.authcheckdam.pdf

    Conversei com um dos sócios no escritório que trabalho e descobri que os não-advogados lá criam uma outra sociedade com advogados (outra PJ) para os serviços não jurídicos. Isso acontece muito no Brasil também com consultores fiscais dentro de escritórios de advocacia, mas sócios de uma outra sociedade que não a inscrita na OAB.

    Tal fato na série, então, é licença-poética da parte dos roteiristas. Ou então Eli Gold é advogado com inscrição na ABA seccional Cook County (vai saber). ;)

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