quinta-feira, abril 18 2024

Thriller é uma porrada no melhor estilo Se7en e O Silêncio dos Inocentes

Os SuspeitosO impacto físico e emocional que o desaparecimento de um filho provoca nos pais é algo que eu posso apenas imaginar, mas que Os Suspeitos (Prisoners) faz questão de retratar de forma intensa, brutal e extremamente dolorosa.  Partindo de uma premissa que poderia facilmente descambar para o melodrama em mãos menos habilidosas, o filme se concentra basicamente entre (1) desenvolver o panorama da complicada investigação que logo se revela muito mais complexa do que uma primeira impressão poderia sugerir e  (2) explorar, através do personagem de Hugh Jackman (excelente como o pai desesperado, Keller Dover), quais seriam os limites toleráveis numa situação como essa na qual o papel de vítima e agressor se confundem de maneira irreversível e chocante.

Os Suspeitos (1)

Escrito por Aaron Guzikowski (que até então tinha apenas o filme Contrabando no currículo) e dirigido pelo canadense Denis Villeneuve (do elogiado Incêndios), o filme – cujo título original reflete com muito mais propriedade o estado de espírito de seus personagens que passam toda a trama literalmente presos às circunstâncias trazidas pelo sumiço de duas crianças -, traz uma história carregada de tensão e que estabelece um “herói” que, cedendo à pressão, se transforma num tipo vigilante que usa a brutalidade e a tortura do principal suspeito (personagem de Paul Dano) como ferramentas ao tomar para si as rédeas da investigação quando a polícia parece longe de encontrar uma resposta para o caso.

Os Suspeitos (3)

Com personagens densos e que mesclam vulnerabilidade e uma obsessão crescente ao longo da história, Os Suspeitos tem no elenco de performances inspiradas (notadamente as de Jackman e Dano), um de seu grandes trunfos. O detetive Loki de Jake Gyllenhaal, por exemplo, é um sujeito solitário que inicialmente se prende às regras da burocracia, mas que passa a contrariá-las ao ver sua perspectiva mudar quando se depara com peças aparentemente desconexas do caso. Já Alex Jones, personagem de Paul Dano, que é apontado logo de cara como autor do crime, faz um jovem marcado pela fragilidade e pelo desequilíbrio (algo que o tom sempre baixo de sua voz e os ombros curvados denotam) ao passo que o Keller de Jackman surge como um sujeito tomado por contradições e em constante conflito com as escolhas que faz.

Os Suspeitos (2)

Contando com uma série de momentos desconfortáveis (sobretudo aqueles em que envolvem as ações brutais de Keller contra Alex) e valorizados pela direção segura de Villeneuve que impõe em cada um deles todo o impacto emocional dos personagens envolvidos (notem, por exemplo, a reação de Franklin Birch, personagem de Terrence Howard pai da outra menina desaparecida, quando descobre o que Keller estava fazendo e que passa a estabelecer-se como um fraco compasso moral ali), Os Suspeitos tem também na trilha e principalmente na fotografia do renomado Roger Deakins e sua paleta fria e dessaturada, a força necessária para transmitir o tom opressivo, desesperançoso e sombrio que a ambientação da história e seus cenários refletem.

Os Suspeitos (4)

Falar mais da trama ou mesmo das demais personagens que surgem no centro dos eventos (como as mães feitas por Viola Davies e Maria Bello que reagem impotentes e de maneiras distintas ao sumiço de suas filhas ou mesmo a de Melissa Leo, que faz a tia de Alex) seria entregar as pequenas viradas que ela apresenta. Sendo assim, saiba apenas que ao assistir Os Suspeitos, você vai encontrar um longo, impressionante e tenso estudo sobre moralidade e limites disfarçado numa história de suspense policial que é uma verdadeira porrada e que nos questiona como espectadores até onde iríamos numa situação como aquela.

Os Suspeitos chega aos cinemas do Brasil no dia 18 de outubro.

5star

Deixe um comentário