sexta-feira, abril 19 2024

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[com spoilers do episódio 5×15 de The Good Wife] Uma tese de defesa em um complicado processo, um contrato bem feito que resguarde os interesses de seu cliente ou o roteiro de um bom dramatelevisivo demandam, basicamente, de esforços comuns: uma construção cuidadosa da tese, das cláusulas ou da narrativa; a antecipação dos argumentos ou reações da outra parte (o litigante, o contratante ou o público) e muitas horas de dedicação à frente da tela de um computador com sua equipe.

Mais uma vez sem jamais subestimar a inteligência do seu espectador, os roteiristas de The Good Wife construíram, nesta quinta temporada, a sustentação perfeita de sua tese inicial, totalmente interligada com os inúmeros aspectos da complexa trama e capaz de resistir a qualquer objeção, agravo ou palavra de ordem. Eles planejaram por meses e no episódio Dramatics, Your Honor, ganharam a causa com um veredicto final e unânime.

Retomemos a história desde a separação de Alicia e Cary do Lockhart/Gardner e da conturbada eleição do governador Peter Florrick. Polarizando os escritórios e colocando todos aqueles personagens como heróis e vilões ao mesmo tempo, os realizadores de The Good Wife manipularam as peças de forma meticulosa como num grande e importante jogo de xadrez. Enquanto litigantes brigavam por clientes, a NSA se envolvia por conta de um nome em uma causa e o governo acabou deflagrando uma imensa fraude eleitoral.

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Nenhum caso estava lá por acaso. Tudo contribuiu invariavelmente para aquele trágico e chocante evento que vimos ao final do capítulo, deixando qualquer um envolvido com esta magnífica produção boquiaberto e sem condições de reagir ao que inevitavelmente estava vendo. É fascinante o domínio que Robert e Michele King possuem de sua criação, capazes de trazer à tona o julgamento de um caso já por nós esquecido para então mudar as regras do jogo de forma brutal, corajosa e jamais covarde ou artificial como em outras produções.

Não, não precisou um avião cair no meio do fórum ou um furacão para atingir o efeito dramático naquele tribunal (Dramatics, Your Honor!). Foi apenas um garoto acuado e desesperado diante das idas e vindas da politicagem e da injustiça do sistema judiciário e um pequeno descuido de um agente carcerário para encerrar a definitivamente a história dos encontros e desencontros de Alicia e Will Gardner. E onde enxergamos o fim da linha, The Good Wife vê oportunidades.

Não há, leitores, produção hoje na TV aberta (e me arrisco a dizer, na paga) capaz de exibir uma tão bela sequência narrativa que não tem o receio de mudar tudo no meio de uma temporada, faltando ainda sete capítulos para o fim, sem permitir a indulgências como arrastar a revelação por mais um ano, no mínimo. O Will, gente. Ele estava defendendo aquele garoto com unhas e dentes! Estava. É passado. Com as cartas viradas, The Good Wife chega a mais um de seus ápices e tenho certeza – ainda mais pela prévia que vimos – que esse é só o começo da virada da produção mais audaciosa que hoje temos no ar.

5star

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Aos fãs, Robert Michelle King escreveram uma carta que explica que The Good Wife é uma série sobre “A Educação de Alicia” e que a decisão de deixar a produção originou do próprio ator Josh Charles, há um ano. Secretamente – outro grande mérito – os realizadores orquestraram algo que é difícil conter na indústria televisiva, spoilers. Quando importantes jornalistas e críticos norte-americanos começaram a publicar na noite de domingo suas reações imediatas ao que estavam vendo, significa que tudo foi muito bem executado e que, embora sejamais fácil deixar aberta a oportunidade do ator voltar, eles quiseram aproveitar o gancho para criar algo muito mais relevante para a história.

E embora Will – um dos personagens favoritos de todos nós – tenha partido, não deixa de ser agridoce acompanhar esta incipiente mudança que trará inevitáveis momentos de puro brilhantismo televisivo, ainda mais com os retornos já confirmados de Louis Canning (se proclamando “o novo Will”, como vimos), Colin Sweeney, Eslbeth Tascione, Grace e Zack, David Lee, Clarke Hayden e muitos outros.

O universo de grandiosos personagens – dos regulares às participações especiais – é imenso e tenho certeza de que Will Gardner nunca estará tão central e presente nos próximos desenrolares desta deliciosa trama como nunca. Semana que vem tem mais:

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