[Com spoilers para quem é maluco e ainda não assistiu o episódio] Conspirações, disputas, guerras e sangue fazem parte da assinatura de Game of Thrones desde o início, mas nenhum desses elementos provocou – pelo menos até agora – tanta surpresa, choque, comoção e, no caso específico deste “The Lion and the Rose”, catarse, quanto as cerimônias de casamento vistas na série. É quase como se George RR Martin, autor dos livros que originaram a produção da HBO, tivesse tomado como missão de vida, transformar a imagem de um evento que geralmente é relacionado a momentos de felicidade e boas lembranças num pesadelo capaz de traumatizar até os mais românticos.
Quem acompanha Game of Thrones já tinha meio que se acostumado a esperar por grandes viradas apenas depois da metade da temporada. Por isso mesmo, é impossível ignorar como o ritmo e a escalada de acontecimentos parece de fato maior nesse quarto ano, dada a disposição do responsáveis pela série em abraçar o conceito do “vamos direto ao que interessa” como regra máxima a ser seguida.
Sob essa perspectiva, ao passo em que dedica sua metade inicial para, basicamente, (1) mostrar que Joffrey terá em Ramsay, pelo menos no que tange a crueldade, um substituto à altura dentro da série; (2) evidenciar que ainda existe uma certa relação de cumplicidade e respeito entre Tyrion e Jaime e (3) deixar claro o quão cegado pelo fanatismo religioso e manipulador de Melisandre, Stannis Baratheon (Zzzzz) continua na isolada Pedra do Dragão, é mesmo nos seus vinte e tantos minutos finais que este segundo episódio da quarta temporada ganha força.
Dirigido por Alex Graves (que esteve atrás das câmeras em outros dois episódios do terceiro ano da série) a partir de roteiro escrito pelo próprio George RR Martin, “The Lion and the Rose” foi o episódio que talvez tenha concentrado o maior número de personagens e cenas relevantes num mesmo ambiente, como, por exemplo, a envolvendo Olena e Tywin conversando sobre o Banco de Ferro (instituição que, creio eu, deve ganhar importância na trama) e, principalmente, aquela em que Oberyn Martell provoca Cersei e seu pai com comentários ousados que não só criticavam a hipocrisia real, bem como já indicavam a motivação de sua presença ali.
E sobre a sequência final em si, vale destacar que ao criar uma mise-en-scène amparada num clima de tensão crescente que aponta suspeitos (a la novela das 21, é verdade) e culmina na morte do garoto mimado que transformou a coroa numa desculpa para humilhações e maldades gratuitas (conforme nos evidenciam o teatrinho de anões e o próprio bullying com Tyrion), George RR Martin garantiu aos fãs da série não apenas mais um ponto de virada importante para os rumos da trama (como fica a briga pelo trono agora?), mas também um momento de fato catártico.
Afinal, quem aí não ficou com vontade de repetir o Cão de Caça e soltar um sonoro “Fuck the king!” ao ver o rosto sem vida do malditodesgraçadofilhodaputa Joffrey no final do episódio?