quinta-feira, março 28 2024

SoA 701

Se Jax Teller conhece as reflexões propostas pelo filósofo chinês Confúcio, eu não sei, mas não tenho qualquer dúvida de que ele deveria seriamente levar em consideração aquela recomendando que “Antes de embarcar em uma vingança, cave duas covas”. Aliás, não apenas duas, pois se formos levar em conta que tipo de consequências devem surgir a partir das ações de Jax, Gemma e cia neste “Black Widower”, episódio que abriu a última temporada de Sons of Anarchy, o mais apropriado seria reservar logo um cemitério inteiro só pra garantir.

Escrito pelo criador da série, Kurt Sutter, “Black Widower” (cuja tradução, Viúvo Negro, diz muito sobre o momento do protagonista) começa e termina no mesmo tom mostrando um Jax absolutamente consumido pela violência e totalmente distante da possibilidade de redenção que chegou a vislumbrar em outros momentos da história. Redenção, aliás, é um elemento que, creio eu, já podemos descartar pro final de Sons of Anarchy. Afinal, a essa altura é difícil imaginar um desfecho que não traga aqueles personagens tendo que conviver ou, quem sabe, morrer abraçados às escolhas terríveis que fizeram e que trouxeram sangue e sofrimento aos seus entes mais queridos.

SoA 701(4)

Nesse contexto, a montagem da sequência de abertura que, dentre outras coisas, mostra o bebê Thomas chorando como se tivesse assistindo seu pai espancando um sujeito na prisão, é singular por refletir a ideia de que a família (ou que o restou dela) não é, no momento, uma prioridade para o líder do Samcro então obcecado pelo desejo de vingança e pela disposição de se entregar às mesmas sombras que marcam a violenta sequência final em que mata, com requintes de extrema crueldade, um capanga dos chineses a quem ele, manipulado por Gemma e levado por conflitos de um passado recente, erroneamente credita o assassinato de Tara.

E se Jax já não tem mais nenhum pudor para abraçar o crime e a violência como ferramenta que garanta a sobrevivência do clube (e a cena em que ele discursa à mesa para seus pares do Samcro reforça essa ideia), Gemma, por outro lado, divide-se entre a sociopatia de quem realmente acredita ter feito a única coisa que poderia garantir a integridade de suas duas famílias e a necessidade de conviver com a leve(?) culpa de seu ato e de ter que mentir para Jax por saber que, vindo à tona, a verdade inevitavelmente acabará com ambas de maneira devastadora e irreversível.

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Sendo assim, não deixa de ser curioso notar que à essa altura, dois dos personagens mais “inocentes” (por falta de uma palavra melhor) da trama, Nero e o Unser, se vejam arrastados mais uma vez para o núcleo dos Sons e tenham sobre si a ameaça de sofrerem as consequências oriundas do círculo de mentiras que alimenta aquele universo. Nero por voltar a se envolver com Gemma, claro, e por ser uma espécie de intermediador das alianças que Jax faz com interesses que nós, como espectadores, já sabemos serem motivadas por coisas diferentes daquelas que diz ter. E Unser, claro, por descobrir (com uma ajudinha aparentemente deliberada de Wendy) que Juice, o barril de pólvora ambulante protegido por Gemma, certamente tem algo de muito grave a esconder fugindo dos Sons.

Dando um recado contundente de que o arco final de sua história não será nada feliz, Sons of Anarchy voltou nos forçando tanto a questionarmos a identidade que desenvolvemos com aqueles personagens, bem como dado um pouco de tudo aquilo que, em resumo, fez com que admirássemos a série: bons conflitos, ação, tensão e, claro, diálogos e cenas (como aquela que mostra os Sons interrompendo uma orgia de forma violenta) que chocam pela forma gráfica e pelo tom provocador que caracteriza o autor da série.  It´s gonna be one hell of a final hide, folks!

5star

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