quarta-feira, abril 24 2024

gotham 1x04

[com spoilers do episódio 1×04] Assim como The Balloonman, Arkham chega a fazer a sua parte em termos de produção, montagem e até mesmo na estrutura da história, conferindo ao episódio uma atmosfera mais sólida e profissional (e fugindo daquele estouro da boiada de cenas que foram o piloto e Selina Kyle). Entretanto, deixa bem claro que Gotham continua completamente estéril de envolvimento, emoção, personagens cativantes, cenas memoráveis e, em boa parte das vezes, bom senso.

Porque Arkham consegue ser eficiente – dá à trama uma clara sensação de progressão, investe na busca dos policiais, estabelece sem pressa a motivação por trás dos assassinatos -, mas isso é o básico, é o mínimo que se espera de uma série policial (e aqui soa como uma evolução, para ver o nível que a coisa andava). E mesmo esses elementos são trabalhados de forma burocrática e previsível (alguém não tinha certeza de que aquele sujeito seria atingido no olho?), surgindo mais como obrigação do que como parte da história.  Apesar de existir um desenvolvimento dos eventos, o clímax é completamente raquítico porque Arkham não soube colocar Gladwell como uma ameaça assustadora nem a suposta “guerra de gangues” como algo crível. Sabemos que o assassino é um inimigo difícil porque isso é algo que foi dito (“ele é um profissional”), sabemos que a guerra pode acontecer porque isso é algo que foi dito, mas tudo que acontece com relação a esses dois elementos é datado e não provoca impacto nenhum.

Paralelo a isso, Gotham continua o pináculo da preguiça, bombardeando o espectador com diálogos que atentam ao pudor (após Ed falar que as mortes foram iguais, Bullock dispara um “então é o mesmo assassino?“; no discurso final, o prefeito não se aguenta em explicar que “é o melhor dos dois planos“) e simplesmente abandonando a lógica e jogando tudo pro alto de vez em quando (como Gordon pegou a arma de volta? Por que ele não perseguiu Gladwell quando este estava escondido nos armários? Por que não chamou reforços para proteger o prefeito? Como ele chegou na casa de Bruce durante o discurso do prefeito se estava na delegacia?). Além disso, a facilidade com a qual as pistas aparecem – os recortes na mesa, o telefone, o prisioneiro que por acaso sabe todas as informações, Gordon pegando a lista e olhando direto para o “CLM” – é tão absurda que o próprio Bullock a certa altura fala “gosto dos fáceis“. Quem sabe no próximo episódio eles resolvem o crime do assassinato da suspensão da descrença?

E mesmo momentos que poderiam ter algum impacto são sabotados porque Gotham não está nem aí para suas personagens (que parecem ser um fardo que a série aceita carregar para poder dizer que faz parte do universo do Batman): o “rompimento” entre Gordon e Bárbara na delegacia seria bastante simbólico – já que é a delegacia que está entre eles – se a) Bárbara tivesse aparecido em algum episódio como uma personagem, e não uma alavanca para a investigação, b) Gordon fosse capaz de um sentimento além de cerrar os dentes e c) a relação deles não tivesse virado um drama de repente e sem explicação nenhuma. Aliás, a discussão entre ambos algumas cenas antes é um atestado de demência, sem nenhuma antecipação ou nada que provocasse aquele momento (no início do episódio estão de boa) ou indicação de que aquilo estava para acontecer. Simplesmente caiu ali feito um saco de batatas.

Gravitando ao redor da Gordon e Bárbara Ltda. (porque aquilo parece ser mais uma associação do que um romance) temos Bullock mais uma vez xingando e condenando tudo que não seja corrupto, Fish Money mais uma vez sendo caricatamente dissimulada, Bruce e Alfred mais uma vez participando do episódio de maneira forçada, enfim, em Arkham temos Gotham mais uma vez abraçando a mediocridade e se deixando levar por ela. Mesmo a boa subtrama envolvendo as manipulações do Pinguim, que vai crescendo de forma natural na hierarquia da cidade, acaba de forma ridiculamente previsível. E pelo visto essa filosofia de se manter sempre em terreno mais do que seguro é que vai guiar a série.

2star

8 comments

  1. Melhor episódio disparado! Pinguim como sempre roubando a cena quando aparece.

  2. Gotham me parece uma novela brasileira, bem produzida, mas muito simples, tudo muito obvio de mais. Como vc mesmo definiu, medíocre.

  3. Tem tudo pra dar certo e está, aparentemente e se continuar assim, dando errado…
    Não entendo. :
    Fico esperando “aquele algo a mais” em todo episódio e isso nunca acontece.

  4. Sem preconceito, mas o Pinguim tinha que ser afeminado?

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