quinta-feira, abril 18 2024

dupla identidade

Uma das maiores frustrações para grande parte das pessoas que adoram assistir séries de TV reside no fato da impossibilidade de poder ver todas as séries que estão passando no momento e, no meio tempo, fazer maratonas de outras que são particularmente especiais para cada um. A falta de tempo disponível nos obriga a excluir várias delas da nossa lista de prioridades, e acabamos por dar cada vez menos chances àquelas que já não causam uma boa impressão em seu material de divulgação promocional. Em contra partida, uma das melhores partes desse hobby é poder descobrir uma série espetacular onde normalmente você não depositaria muita confiança. E Dupla Identidade se encaixa perfeitamente nessa segunda descrição.

Tudo bem que serial killers já são vistos aos montes em dezenas de produções americanas (em Criminal Minds tem um por semana, nem imaginava que haviam tantos por aí). Mas, mesmo uma ideia batida como essa pode ganhar uma força incrível quando aliada a um ótimo roteiro, atuações soberbas e uma direção que não deixa nada a desejar a qualquer série que você vê por aí.

A série conta a história de Eduardo (Bruno Gagliasso, com uma atuação que beira o extraordinário), um psicopata que passa a atacar, estuprar e assassinar mulheres com requintes de pura crueldade. Com o passar do tempo, os crimes vão se tornando mais e mais frequentes até que a opinião pública pressiona o delegado Dias (Marcello Novaes) e sua força-tarefa a capturar o criminoso, que nunca deixou qualquer vestígio que pudesse liga-lo às mortes. Vendo nesse caso uma oportunidade para alavancar sua carreira eleitoral, o senador Otto Veiga propõe a contratação da psicóloga forense Vera Muller (Luana Piovani), que vem de um estágio no FBI, e antiga namorada de Dias, para ajudar nas investigações a fim de traçar um perfil do criminoso. O senador, por sua vez, vive um casamento de fachada com a esposa, Sílvia, e conta com a ajuda do próprio Eduardo em seu comitê eleitoral. Eduardo também mantém um relacionamento com Ray (Débora Falabella), uma mãe solteira, insegura, e que constantemente sofre de crises de ansiedade, o que a leva a se auto infligir ferimentos, que eventualmente a levam para o hospital.

Um dos grandes trunfos da série é o pano de fundo político que a mesma invoca ao evidenciar a falta de escrúpulos do senador, que não se importa com os crimes, mas apenas com os benefícios que a resolução deles lhe trará (ao mesmo tempo, é sintomático o desdém com o qual ele trata das propostas de leis contra o estupro que seu staff lhe sugere, as quais ele aceita apenas para ganhar pontos com a mídia). Do mesmo modo, o delegado Dias, apesar de ter uma personalidade mais humana, também vê na resolução do caso a possibilidade de ocupar a Secretaria de Segurança do Estado, chegando ao ponto de acusar um sem-teto em certo momento apenas para dar um fim a tudo e, consequentemente, calar a mídia que o pressiona.

dupla identidade 2

Além disso, o roteiro eficiente de Glória Perez (nunca pensei que fosse escrever isso) consegue manter a narrativa sempre coesa, sustentando a tensão durante todo o momento, evitando cair na armadilha dos fillers, em que várias séries derrapam. Também merecem destaque a trilha sonora, que casa perfeitamente com o ritmo da série, bem como a linda fotografia, que é marcada por tons escuros pontuados de cinza, refletindo a todo momento o estado de espírito dos personagens (e mesmo nos raros momentos em que eles parecem felizes, as cores não são ressaltadas em relação à névoa que parece rondar todo o ambiente). Num meio em que pouca coisa realmente vale a pena ser apreciada, Dupla Identidade se sobressai com inúmeros méritos, justificando todo o tempo empreendido para assisti-la. Como dizia a minha avó, é biscoito fino, como há muito tempo não se via na TV nacional.

5star

Obs.: A série conta com uma das aberturas mais cool da história das séries.

4 comments

  1. Acho que quem escreveu esse review não viu a versão original em The Fall hehe

  2. Concordo. Para os padrões brasileiros, Dupla Identidade é excelente.

  3. Sinceramente, achei bem exagerado esse review. Não quero cair no “complexo de vira-lata” de achar que só porque é brasileiro é ruim, mas tb não é essa coca-cola toda. O Bruno está muito bem e Marcello Novaes e Débora Falabella fazem seu papel, mas Luana Piovani traz essa média pro chão. Na minha opinião, ela simplesmente não convence. Além disso, o roteiro tem algumas manias de novela. Enfim, não vou dizer que a série é ruim, mas também não chega a ser excepcional.

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