sexta-feira, março 29 2024

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[com spoilers dos episódios 6×01 e 6×02]#SixSeasonsAndAMovie. A vida imita a hashtag – pelo menos até aqui: após ser abandonada ao léu pela NBC ao final da quinta temporada, Community tropegou pelas sarjetas até encontrar um novo lar no Yahoo!, garantindo a sexta temporada de uma das mais criativas e ousadas séries da televisão aberta. Se teremos o filme ou não, vai depender do que Dan Harmon e cia. tirarem da cartola nos próximos episódios. E, se depender destes primeiros episódios, já podemos preparar a pipoca.

O bom da metalinguagem descontrolada é que Community, talvez mais do que qualquer outra série, consegue absorver com naturalidade as mudanças. Assim, a ausência de Shirley é justificada de forma brilhante (“ninguém sai em um spin-off na vida real, Abed. Shirley foi cuidar do pai dela em Atlanta e acabou conseguindo um emprego de chef de um brilhante mas problemático detetive“), ganha impulso com a insinuação de racismo e se torna algo crível dentro daquele universo (além de ser premiada com um vídeo ao final do episódio que deveria ser indicado ao Oscar de curta-metragem). Da mesma forma, a chegada de Frankie é amaciada pela interpretação de Abed do evento (“você é a primeira pessoa que diz isso e que eu não deleto imediatamente do meu cérebro“) e da própria vulnerabilidade da moça diante do caos absoluto que reina em Greendale (a cena em que ela entra no bar).

Foi com fluidez que Ladders, a abertura desta sexta temporada, juntou as peças e deu o empurrão inicial nesse carrinho desgovernado e repleto de referências pop que é Community. Ainda há uma sensação de estranhamento ao ver o grupo cada vez mais diminuído e novas personagens ganhando mais relevância, mas o episódio teve tudo o que se espera da mitologia communityana: diálogos inspirados (“Em marketing, é o que chamamos de Good Belushi“), sátiras fanfarrônicas aos elementos dramáticos das séries (as montagens), uma ótima direção de arte (algo que nunca é muito comentado – e a cena do bar é lindamente direçãodeartegrafada), quebra das expectativas, aprendizado das personagens e trocadilhos com “dean”. Um excelente coquetel de abertura da temporada (inclusive com bastante álcool, como todos os bons coquetéis de abertura).

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Lawnmower Maintenance & Postnatal Care, entretanto, chegou atrasado na distribuição de dinamismo e humor e se mostrou um esforço um tanto arrastado, ainda que conte com uma piada inicial que só pode ser definida como gloriosa. O excesso de tempo em Britta e no Dean Pelton, duas das personagens mais caricaturais (e cujas características funcionam bem em shots, mas cansam um pouco em pints de 500 ml), torna a trama repetitiva, como se estivesse construindo um clímax/punchline que nunca chega. Com a debandada de quase metade do grupo nas últimas temporadas, talvez seja o momento de tornar Britta uma personagem menos unidimensional para ter mais espaço para manobrar as histórias.

De qualquer jeito, o segundo episódio teve também suas tiradas fatais (“Jesus wept!“), além de colocar Frankie em uma posição mais confortável dentro do grupo (ela ajuda Jeff e Britta) e proporcionar um vislumbre do que seria uma impagável versão portuguesa de Gremlins (pelo visto, a piada do vídeo final será algo recorrente nesta temporada). O resultado final é mais positivo do que negativo – e, somado a todos os alvos que o episódio de abertura acertou na mosca, a expectativa é a de que sim, há folêgo suficiente para levar a temporada até o final com a qualidade de sempre. E, quem sabe, até fazer um filme depois.

4star

5 comments

  1. Não concordo com esse comentário sobre a Britta ser ‘unidimensional” e não merecer tanto tempo em tela..a Annie é tanto quanto ela, e o Abed e o Chang são mais caricatos ainda. Então, vai focar em quem?
    Desenvolvimento de personagem não é o forte da série, sendo o Jeff provavelmente o unico personagem com mais de uma camada.

  2. Que grande retorno do Chang, ele virou uma espécie de substituto da dupla Troy/Pierce no papel de máquina de piadas aleatórias.
    Chorei de rir quando ele mandou um “screw you” pro Abed, melhor uso que já fizeram da piada Change/Chang.
    E eu estava com saudade desse clima mais leve de primeira temporada, com bastante cena externa e uso de diferentes sets, Yahoo abriu os cofres, nas ultimas temporadas parecia que eles estavam em um Greendale Asylum de tão claustrofóbico.
    Agora no aguardo pelo esperado episódio 100.

  3. Pra mim, só o fato de Community ter voltado já é motivo pra glorificar em pé

  4. “Greendale Asylum” kkkkkk não tinha prestado atenção nisso, mas depois que você falou percebi que faz sentido mesmo

  5. Gostei pelo fato de eles tirarem aquela Britta “inútil” e “retardada” que só fazia coisa errada e colocarem algo de humano nela. Ela é o coração do grupo, e por mais que faça besteiras e seja impulsiva, é parte vital e não uma mera coadjuvante desastrada. Espero que o personagem cresça no decorrer da temporada. Frankie foi um suspiro de alívio, um pouco de “normalidade” pra balancear as maluquices que estavam descontroladas na temporada anterior. Mas eu acredito que em breve ela vai ensandecer um pouco também. Aliás, todos nós, com a volta dessa série incrível.

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