quinta-feira, abril 25 2024

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Empire é o novo fenômeno da TV americana, conseguindo um feito inédito ao aumentar progressivamente sua audiência em seus primeiros episódios. A razão estaria, dizem alguns jornalistas, no foco em um público alvo bem específico: com um elenco praticamente todo de atores negros, os afro-americanos responderam em massa ao programa, correspondendo a 60% da audiência (de uma média, excelente para uma série estreante, de mais de 14 milhões).

Mas obviamente que isso por si só não justifica o sucesso de Empire (embora seja positivo que protagonistas negros têm ganhado destaque na TV aberta como em Scandal, How to Get Away with Murder e Black-ish). Não é como se uma série com qualquer temática ou foco seria muito bem vista apenas por se destinar a um nicho bem específico de público. E Empire consegue uma aproximação com seu público-alvo, mas não só isso, por dois motivos básicos: ela explora o ramo da indústria musical e usa e abusa dos elementos que fazem uma boa novela, como a ganância e a busca por fama, poder e dinheiro.

Sim, “novela” é uma palavra importante aqui e as semelhanças com Império, da Globo, não ficam apenas no título: o protagonista (Terrence Howard) é dono de um verdadeiro império no mundo do hip-hop, sua ex-esposa (Taraji P. Henson, de Person of Interest), que esteve na prisão por 17 anos pra que isso fosse possível, retorna querendo o que é seu, e há três filhos do casal (um voltado para os negócios, os dois outros músicos) que brigarão pelo controle da empresa. Tudo é narrado da maneira mais simples possível e não adianta reclamar que o patriarca Lucious, em todo episódio, diz as mesmas coisas pro seu filho caçula Hakeem (“você precisa crescer/gravar no estúdio!”) ou que os diálogos constantemente reforçam os dramas que já conhecemos: Empire é o novelão mais básico que se possa ter e se esta não é a sua, nem precisa perder seu tempo.

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Mas se você gosta do gênero, será fácil descobrir porque a série está fazendo tanto sucesso. Eu detestei os 10 ou 15 primeiros minutos do piloto e quase abandonei ali mesmo. Mas a coisa fica divertida muito rapidamente (em especial o já icônico papel de Henson como Cookie Lyon, a sempre bem vestida e desbocada matriarca), e assume o que é sem pretensões de uma “TV de qualidade”, só que sem deixar de levar a sério o que faz.

O olhar sobre aquelas pessoas e o ambiente é honesto, pois não é só uma série com elenco negro, mas produtores são negros (inclusive o responsável pela área musical, o rapper Timbaland), e os diretores dos episódios também – o famigerado Lee Daniels, mas também John Singleton, por exemplo. Isso é importante pra uma identidade social porque não seria a mesma coisa se atores/personagens fossem brancos. O “ser negro” é bastante evidente, e sem a necessidade de se utilizar de temas como preconceito, discriminação e outras tentativas de levantar questões sociais. Gosto, por exemplo, da “ostentação” típica de quem saiu dos guetos e se tornou milionário, como quadros, fotografias e todo tipo de obra de arte convivendo desarmoniosamente nos enormes cômodos em que vivem; ou como quando um personagem morre e a lembrança que alguém herda não é uma simples pulseira ou objeto discreto, mas uma grossa e pesada corrente de ouro.

Por isso não é difícil entender o alcance de Empire. Pode ser irresistível pensar em questões sociais pra explicar o fenômeno, mas o fato é que ela passa ao largo de coisas mais sérias, com a única promessa de um novelão bem executado, onde o público negro simpatiza por motivos óbvios e os demais curtem a dramaturgia que envolve as paixões e conflitos básicos que todos gostam de acompanhar ao ligar a TV à noite e sentar no sofá.

A primeira temporada de Empire teve 12 episódios e deverá retornar no Fall Season com o segundo ano. No Brasil ainda não é exibida.

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