quinta-feira, abril 18 2024

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[com spoilers do episódio 4×01] Complicado falar de Veep. A série é, basicamente, um efeito borboleta de one-liners ofensivos que explodem ao longo do episódio feito fogos de artifício e que frequentemente dão match com a genialidade no Tinder, fazendo com que o universo ao redor se comporte apenas como combustível para tais diálogos: as personagens agem da mesma forma, os eventos não têm muita consequência e não há ninguém realmente cativante. E, ainda assim, costuma ser absurdamente divertido.

Joint Session é forte representante dessa filosofia, metralhando tiradas carregadas de ofensa e desprezo ao longo de seus vinte e oito minutos. Compilar os melhores one-liners aqui seria tarefa digna de trabalho de conclusão de curso de Biblioteconomia (alguns dos meus favoritos: “este discurso é apenas ar formatado“, “Ken se formou em biscoitos da sorte“, “é ‘senador Furlong’ para você, Elvis grisalho“, “seria o mesmo que ter uma estratégia anti-unicórnios“), mas o que mais impressiona é que, mesmo com o público sabendo desse clima “jantar em família após uma prima anunciar uma gravidez indesejada”, os diálogos conseguem surpreender: a montagem e mise-en-scène frenéticas, em planos que raramente enquadram menos de três pessoas, cria essa dinâmica imprevisível onde não dá para perceber de onde vai vir a próxima marretada, tornando as situações genuinamente engraçadas.

Há também uma tentativa de estabelecer as coisas agora que Selina é a manda-chuva, posicionando as personagens principais em seus lugares (Mike e Dan na comunicação, Amy na campanha, Jonah no gabinete do vice-presidente), mas não chega a investir o tempo necessário para entendermos as funções e responsabilidades de cada um. O conflito de manter Gary deslocado também não soa muito inspirado, e acredito que a trama logo deve comer capim pela raiz. Por outro lado, Joint Session é hábil ao ilustrar o quão ridículo é esse universo de “disputa pelo poder”, seja com um vice-presidente correndo para tentar chegar em uma reunião e voltando logo depois de não conseguir, senadores mantendo projetos de 50 bilhões de dólares para ter apoio ou uma presidente baseando o seu plano de governo em uma acidental troca de arquivos em um computador.

Um início de temporada tão ácido e afiado quanto qualquer um poderia esperar e que, apesar de não variar muito, mantém o fôlego com a criatividade nas ofensas (é sério, pegue um bloquinho para anotar e usar depois) e em alguns momentos mais elaborados (uma conversa entre Mike e Amy pelo telefone é particularmente hilária). Foram apenas 28 minutos e um início de história, mas uma coisa é certa: Veep ainda tem o meu voto.

4star

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