quinta-feira, abril 18 2024

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Depois de perder quase tudo que parecia importar, é a hora de Don Draper e cia. experimentarem o “paraíso da publicidade” e, como eles já previam naquela melancólica celebração do episódio anterior, nada pode ser como antes e, a não ser que seja um mero sobrevivente conformista (Ted) ou que se adapta facilmente (Pete), as coisas só podem piorar.

E que sequência maravilhosa a que coloca Don numa sala cheia de colegas, após se ver muito bajulado por Jim Hobart (somente porque conseguiu o que queria por 10 anos), apenas para perceber que seria só mais um com papel e caneta naquela máquina de criação ouvindo um discurso sobre o homem comum inconformado mas domesticado (seria ele mesmo?) que é o público-alvo da nova cerveja diet (mais uma vez a publicidade como produção de desejo e aparência de felicidade). Um discurso que já não tem a ver com o que Don fazia (que buscava uma “ligação sentimental com o produto”, como ele diz no fim da primeira temporada), embora se utilize da mesma retórica.

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A perda de sentido, de não pertencimento àquele lugar, resulta numa fuga provavelmente diferente das que Roger diz a Hobart que são comuns: uma rápida pesquisa no mapa dos EUA mostra que St. Paul, o lugar para onde Don vai levar o caroneiro, está a seis horas de Racine, mas para o lado oposto de Nova York, em direção a Oeste. É sempre difícil imaginar o episódio seguinte de Mad Men, porque costuma haver saltos no tempo de um para o outro, e é possível que já vejamos Don de volta à McCann. Mas acredito que esta pode ser a fuga definitiva, se não das pessoas ao seu redor, ao menos do trabalho. Ele não vê como pode ser relevante ali, vai buscar sua filha e não a encontra por ser independente o suficiente para não precisar do pai, Betty corta qualquer insinuação de que precise algo mais dele (embora talvez nunca estiveram tão à vontade um com o outro e é bonito ver isso na forma como ele a chama de “Birdie” – mas Betty tem que continuar sendo Betty, chamando a secretária dele de idiota, quando claramente Meredith é a melhor que ele já teve, ou pelo menos a minha preferida), e Diane continua desaparecida. “Ela parecia tão perdida”, ele diz para o ex dela, deixando claro que o que Don quer é algo ou alguém que ele possa salvar. Talvez o caminho seja mesmo a Califórnia, lugar que ainda significa algo para ele, como Ted disse no episódio anterior e ele parecia concordar, mas certamente não estava pensando em Megan, mas sim em Stephanie, a sobrinha de Anna Draper. Para quem mais ele poderia servir pra algo?

Mas Lost Horizon também é um episódio sobre os efeitos da McCann em outros personagens. Ao fim veremos que Joan estava certa ao dizer a Pete que nunca seria respeitada, com subalternos desconfortáveis em serem chefiados por uma mulher, e superiores com segundas intenções. E é muito interessante a forma como isso é conduzido, destacando três aspectos. Primeiro, o que deve ser a provável despedida de um personagem menor: Shirley, no início do episódio, despede-se de Roger dizendo que “publicidade não é para qualquer um” e o plano em que ela se vira e vai embora parece durar um pouco mais do que o normal. Provavelmente marcando sua última presença na série, mas também como alerta para o que veremos em seguida. No fim, Roger também observará Joan abandonando a publicidade, mas de uma forma muito mais amarga, confirmando as palavras da bela e estilosa secretária no início.

Segundo, que essa confirmação é muito bem escrita e representada no confronto entre Joan e Hobart, onde o lado dela não poderia ser melhor defendido. É até importante que não haja sexismo por parte dele: ele simplesmente não se importa com a sociedade dela, assim como provavelmente dos outros (exceto Don e, talvez, Roger). Ele faria algo diferente se ela fosse mais clara e dissesse abertamente o assédio que estava sofrendo? Não saberemos. Joan sempre evita se fazer de vítima e depender de homens mais do que o necessário e, numa época e lugar que ainda não permitem que uma mulher ocupe esse espaço, sua despedida não poderia ser mais triste. Só me recuso a acreditar que seja da série…

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Terceiro, é curioso o paralelo que a série faz com Peggy, quase como uma crueldade com Joan: em The Other Woman, quando ela se prostitui para ser sócia, tínhamos Peggy pedindo sua demissão, saindo da agência com cabeça erguida, enquanto ela comemorava a conta da Jaguar. Aqui temos Peggy novamente carregando suas coisas por um corredor de agência, mas entrando, com a mesma dignidade e ainda mais confiança. É verdade que Ferg diz que o próprio status dela, entre os redatores, pode mudar, mas a série sempre apontou para Peggy como alguém que sabe lidar melhor do que Joan (ou de uma forma mais prática, que seja) nas questões sexistas.

Antes daquela entrada triunfal em câmera lenta, Peggy ainda teve outro momento memorável quando, alcoolizada e de patins, passeia pelos ambientes vazios da SC&P, com Roger melancólico tocando num teclado. Mas tudo até ali dizia mais respeito a Roger do que ela, e esta linda e triste sequência é filmada com a câmera girando como o carrossel de Don no final da primeira temporada, registrando as memórias daquele barco que eles foram forçados a pular fora. Se há alguma alegria aí é apenas a reunião tão rara entre esses dois personagens. Poderíamos ter um episódio todo apenas com Peggy e Roger interagindo, bêbados.

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Mas infelizmente não teremos. Faltam dois episódios para o fim.

5star

4 comments

  1. Excelente análise sobre o excelente episódio, Hélio!

  2. Hélio, adorei a análise do episódio (e nosso papo pelo Twitter!). Pena que falta pouco para acabar…tristeza.

  3. Tristeza é pouco, Ninna. Mas a gente sobrevive… relembrando e com outros papos pelo twitter também. :)

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