quinta-feira, março 28 2024

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Quando nos dispomos a assistir filmes que envolvam o conceito de viagem no tempo em sua narrativa, inconscientemente sempre assinamos um contrato com seus realizadores que possui basicamente uma única cláusula: amigos, o filme de vocês pode flertar com o paradoxo; brincar com o eterno dilema de quem veio primeiro (o ovo ou a galinha?), mas jamais, em hipótese alguma, deve se apoiar sobre uma lógica interna frágil e que ao final da narrativa simplesmente faça pouco ou nenhum sentido. É um acordo justo e bem razoável, eu diria,  e que, infelizmente, é ignorado quase que por completo por este O Exterminador do Futuro: Gênesis, o mais novo capítulo da famosa franquia iniciada em 1984.

Gênesis até começa bem com uma sequência de abertura visualmente impressionante que revisita a ativação da Skynet e toda destruição que veio com ela, imediatamente seguida por outra, já naquele futuro apocalíptico, onde vemos a frágil resistência humana liderada por John Connor tentando encontrar uma brecha que a permitisse derrubar o poderio e a supremacia da inteligência artificial responsável por subjugar e massacrar os poucos sobreviventes do dia do julgamento. Nesse sentido, ponto pra este Gênesis que em poucos minutos estabelece um futuro distópico angustiante e que tem uma atmosfera muito mais urgente que a do seu antecessor (A Salvação de 2009), cujo enredo, aliás, é completamente ignorado aqui (assim como também o é o do terceiro filme, A Rebelião das Máquinas de 2003).

A partir daí, contudo, ainda que dê para notar o esforço que a dupla de roteiristas, Laeta Kalogridis e Patrick Lussier faz para referenciar e reverenciar os dois primeiros filmes da franquia – há elementos (como uma versão do T-1000 que surge ainda no primeiro ato) e sequências icônicas daquelas produções re-apresentadas sob outra perspectiva e com pequenas doses de subversão de expectativa como, por exemplo, a que mostra um novo desfecho para o encontro do T-800 com aquele trio punk no filme de 1984 -, a triste verdade é que a narrativa vai gradualmente se perdendo num emaranhado confuso que jamais se define totalmente entre ser um remake daqueles eventos ou um reboot da história que tão bem conhecíamos.

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[Daqui para frente, spoilers do filme]

E sendo assim, por mais que O Exterminador do Futuro: Gênesis se venda como uma história que ocorre numa timeline alternativa àquela dos filmes de 1984 e 1991, ela o faz de forma trôpega ao incluir elementos que de início parecem até interessantes (como, por exemplo, o fato de Sarah Connor encontrar Kyle Reese em 1984 já sabendo muito bem quem ele é e de onde veio), mas que posteriormente revelam-se apenas grandes deus ex-machinas que ou não fazem sentido ou cuja explicação é mal dada ou mesmo ignorada pela trama mais tarde.

Nesse contexto, entram as  duas grandes ‘surpresas’ dos filme: (1) o fato de descobrirmos que um T-800 fora enviado para proteger Sarah Connor quando esta ainda era uma garotinha, e (2) que o próprio John Connor também viajara no tempo (depois de ser fundido à uma versão física da Skynet) assumindo ele próprio o papel de vilão da história dessa vez. E se a explicação dada por Gênesis para justificar o T-800 de aparência envelhecida é aceitável (a pele que reverte o esqueleto daqueles modelos é humana e, portanto, suscetível à ação do tempo), o mesmo não se pode dizer sobre a real razão de sua presença naquele passado.

A partir do momento em que a narrativa estabelece que as duas únicas pessoas que conheciam a importância de Sarah Connor e que, portanto, poderiam querer fazer algo no futuro para protegê-la no passado eram justamente Kyle Reese e John Connor, a trama se perde na lógica visto que os dois personagens, àquela altura, nem naquele futuro de 2029 estavam mais. Fora isso, a partir do momento em que o John Connor do futuro (feito por um Jason Clarke no automático) tomba tornando-se uma espécie de marionete zumbi da Skynet, que diferença faria ter alguém ou alguma coisa enviada de volta no tempo para proteger ou matar Sarah Connor, visto que a resistência humana no futuro já estaria condenada de todo jeito? Pois é, parece inverossímil e é mesmo.

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Para não parecer que estou sendo apenas duro demais com o filme (e acredite, como fã da franquia eu realmente gostaria de fazer apenas elogios a ele), é justo dizer que há sim pequenos acertos isolados aqui e ali. Assim, se o diretor Alan Taylor (de Thor: O Mundo Sombrio) faz o feijão com arroz básico nas sequências de ação (que funcionam, mas não impressionam), Arnold Schwarzenegger, por sua vez, revisita seu T-800 esbanjando carisma e nos convencendo que seu personagem é um ciborgue  velho, mas não obsoleto (como faz questão de repetir mais de uma vez ao longo da história), o que, aliás, acaba rendendo até algumas boas gags que só não ficam melhores porque o roteiro faz questão de sabotá-las estendendo-as demais ou inserindo-as em momento inoportunos.

Já Emilia Clarke (a Daenerys de Game of Thrones), que emula razoavelmente bem aquela Sarah Connor destemida do filme de 1991 talvez por conta de sua semelhança física com Linda Hamilton, não chega a ter nenhum grande momento no filme, mas pelo menos não contribui, como o roteiro faz, de forma direta e decisiva para sabotar o resultado final deste Gênesis que sim, subverte a figura do herói e do vilão mais uma vez dentro da franquia criando um novo ponto de partida (ou de chegada) para aquele conflito, mas que o faz sem preocupação de estabelecer uma lógica ou, o que é pior, respeito à inteligência de seus espectadores.

2star

[Obs.: Há uma cena extra pós-créditos.]

11 comments

  1. Olá Davi

    Ainda não vi o filme, mas esperei para ver a sua crítica para saber se pago para ir ao cinema, ou espero estar disponível na “Locadora do Paulo Coelho”.

    Gostei bastante das suas ponderações e comparações.

    Menos um filme a ver no cinema (mas vou assistir no futuro em casa).

    Abs

    Luciano

  2. Então, não consegui tirar muitas conclusões desta crítica, uma vez que, como ainda não assisti o filme, não li a parte dos spoilers… Na minha opnião, a crítica deveria ajudar a decidirmos se o filme vale a pena o ingresso, sem comprometer as surpresas que o filme nos reserva… se é que sobrou alguma surpresa neste filme, visto tudo que os trailers já entregaram, kkkk… acho que vou ter que me basear somente na nota mesmo…

  3. O aviso de spoiler existe mais por conta de quem vai ver o filme sem ter visto os trailers, porque quem viu, não terá nenhuma grande surpresa. Tudo que os trailers burramente antecipavam eram “só” aquilo mesmo. =/

  4. Spoiler não leia se vc não viu.
    Creio q falar em inverosímil no filme sobre deslocamento no tempo não leva a lugar algum, até pq viagem no tempo é mais do que inverossímil (pelo menos atualmente e daqui uns séculos seguramente), e mesmo assim fala como se houvesse metodologia rígida em evento pretéritos inalteráveis mesmo com viagens no tempo, e para a viagem no tempo só dou a retrocausalidade e o paradoxo dos avos para inviabilizar qualquer filme que aborde o tema ou inviabilizar o efeito da causa da própria viagem no tempo, bom mais o cara tem que fazer crítica, então tá, e depois John não fala de que ano veio, lembrando q quando o Reese volta é que acontece a reviravolta com o líder da resistência e após isso que ele vai para 2017 ele faz outra viagem, esperemos o próximo filme pra sacramentar o furo de roteiro. E se pensar bem parece que John não é essencial, pois quem enviou o t-800? Ou melhor ainda, quem liderou a primeira resistência sem Connor? Já que Reese tem q voltar no tempo para depois haver um John Connor? se não sabemos isso imagine agora. Há o filme é bom sim, melhor q Velozes e Furiosos 7, tem mais cenas empolgantes q Jurassic, e se pensar nos vingadores, e ver a história de uma Inteligencia artificial que controla máquinas então ha um empate, colocando exterminador tranquilamente entres os 5 melhores do ano. Pra terminar uns dos produtores afirma: Genisis é um outro filme, não é sequencia e nem remake, é um filme inspirado no T1 e 2 então nd de falar q feriu a canonicidade do Terminator, é um reinicio mesmo quase como a última franquia do homem-aranha. Nenhum filme anterior foi pro lixo.

  5. Vá ao cinema, esse raciocínio da crítica não é acertada, não ha consenso sobre linha do tempo em ciência, quase tds que assistiram acharam bom ou ótimo, só quem não sabe que esse filme não é remake ou sequência acha q é ruim, pois acha q isso inválida os outros filmes, isso é um reinício, quase como a última franquia do batman, palavras do produtor David Allison.

  6. Eita ia apagar por conta do spolier, mas como enviei o texto como visitante não deu, se quiser retirar esse comentário fique a vontade. Desculpe.

  7. O filme é bom, diverte. Acho que a nota deveria ser melhor, ao menos 3 estrelas. Mas é opinião, cada um tem a sua, normal.

    Me diverti indo ao cinema ver mais uma vez os robôs contra os humanos. Já era tempo de um novo filme. Quem gostou dos anteriores, inclusive o 3 e 4, vai gostar desse tb.

  8. Vc nao tem opniao propia cara ? Isso foi o que ele achou do filme, nao deixe isso influenciar sua experiencia, e va ver o filme, vc pode acabar perdendo algo que vc gostaria muito, apenas porque alguem te disse algo ruim isso sobre o filme ou qualquer outra coisa que vc tenha interesse.

  9. Olha eles podem dizer que nao fizeram um remake, mas os produtores fizeram questao de toda hora no roteiro, dizer que os acontecimentos do terminator 1 e 2 foram mudados, por coisas diferentes que aconteceram no passado. Pra mim esta claro que foi uma sequencia sim, e das piores que ja vi.

    O filme nao empolga em momento algum, cenas de açao bem genericas, e a desculpa do porque do T-800 estar velho, foi uma coisa totalmente banal.

    Sem falar da falta de carisma do casal de protagonistas, que em nenhum momento vc consegue criar empatia por eles. Com certeza esse filme conseguiu estragar mais ainda a serie de filmes do exterminador.

    Visivelmente deveriam ter parado no 2 filme, onde o final dessa saga ja tinha acontecido, assim como o titulo do filme e o seu final ja tinham sugerido.

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