sexta-feira, abril 19 2024

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É com um tanto de frustração perceber que Spectre, o vigésimo quarto filme da franquia 007, parece querer dar um encerramento à fase Daniel Craig. Sam Mendes continua à frente da direção e o longo e elaborado plano sequência inicial dá a entender que teremos mais um James Bond cheio de estilo com uma roupagem mais “artística” a um filme de ação, algo que funcionou com certa eficácia no anterior Skyfall.

Por algum tempo, Spectre enche os olhos e mantém nossa atenção ao colocar Bond numa missão contra a autorização do MI-6 (no exato momento em que uma nova realidade política e tecnológica ameaça pôr fim aos agentes 00) que o levará a descobrir a clássica organização que dá nome ao filme. Este trajeto inicial é feito com cenas de ação um tanto burocráticas, mas eficientes e divertidas, em meio a momentos de puro prazer estético, como o primeiro encontro com a personagem da Monica Bellucci em um funeral, a ameaça à vida dela (um longo plano em que a câmera a acompanha de frente) e toda a sequência com o surgimento do vilão de Christoph Waltz.

A partir daí, infelizmente, a obra empalidece de forma incrível: nada ganha ressonância, e tudo é conduzido da forma mais básica e preguiçosa. Nem mesmo a entrada de Léa Seydoux em cena consegue elevar o filme para além de algo comum que, se não desagrada ou aborrece, também não surpreende nem traz nada que chame a atenção.

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Primeiro, porque Spectre parte de uma estrutura semelhante à do mais recente Missão: Impossível – Nação Secreta (a mega organização criminosa que almeja/detém todo tipo de informação e acesso; o herói que age por conta própria enquanto sua profissão é ameaçada; os colegas que ajudarão burlando as regras e hierarquia) e a inevitável comparação nos faz lembrar como a franquia de Tom Cruise cria situações de tensão mais interessantes, além de uma personagem feminina mais forte.

Depois, porque o filme continua a lidar com elementos da mitologia da série, como o passado de James Bond, a própria fundação da Spectre e seu líder (referências como o gato e a cicatriz, por exemplo), e uma ligação entre os filmes anteriores desde Cassino Royale. E aí, a comparação inevitável é com Skyfall, onde havia algo de engenhoso, que culminava com Bond visitando o passado e, ao lado de M, tentando sobreviver com armamento “analógico”. Em Spectre, não temos nada tão bem elaborado, as referências existindo pela mera referência, o vilão de Waltz não tendo um único momento (ou fala) memorável e a conclusão sem nenhuma ideia ou sacada brilhante.

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Ao fim, a impressão de que vimos algo que tem humor, que tem boa ação, que diverte na maior parte do tempo. Mas também tão sem alma, tão “piloto automático”, que assim que se sai do cinema, já esquecemos o que vimos. Isso na melhor das hipóteses. Na pior, o lamento de tanto potencial desperdiçado.

3star

3 comments

  1. Dá uma tristeza ler as críticas desse site porque parece que o audiovisual está acabando. Nos últimos anos coisas muito boas foram produzidas, mas o cinema entrou num espiral de fazer coisas divertidinhas e que rendam dinheiro como se a qualidade e a inovação da obra fosse um acessório. Aconteceu com SPECTRE também: a inovação e o aproveitamento dos elementos (personagens, carros, cenários, armas) foi muito superficial, mas no fim das contas o filme é bom, independente do que poderia ter sido, não foi um filme enfadonho e deu pra aguentar as 2h30 (!) de filme sem se cansar. Também fico triste que fizeram o último filme de Craig como o último filme de Bond, mas ainda assim gostei do resultado. Não acho que a crítica foi feliz.

  2. Talvez a gente diga “Bom” por também estarmos no piloto automático com relação a esse querido personagem. Pois as soluções foram muito forçadas… tudo perfeitamente colocado para ajudar nosso 007… quase infantil… Uma organização tão poderosa mas que basta derrotar UM vilão e ela deixa de ser problema? Simples demais…

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