quinta-feira, março 28 2024

masterofnone

Em determinado episódio de Master of None, série estrelada por Aziz Ansari (Parks and Recreation) para a Netflix, os personagens discutem por que hoje dois atores de origem ou ascendência indiana não podem protagonizar uma série de TV nos EUA. Isso logo traz um paralelo interessante porque esta comédia é estrelada por um elenco diverso e composto em grande parte por atores étnicos (incluindo os pais verdadeiros de Ansari). Esta e várias outras questões pertinentes nos dias de hoje são colocadas com um cuidado absurdo numa agradável sitcom sobre a vida de um imigrante em Nova York.

Quando a Netflix anunciou que Ansari protagonizaria sua produção, me perguntei se o intérprete de Tom Haverford em Parks estaria apto ao desafio de se desvincular de um personagem que, na maior parte do tempo, era exagerado e servia como escada naquele ensemble. Felizmente ele demonstrou não apenas ser capaz de criar uma persona distinta, como também surpreendeu assinando os roteiros e, em alguns episódios, a direção.

Por conta deste tom autoral e da ambientação em Nova York – a série é em parte baseada em experiências de Ansari – é inevitável a comparação com Louie. Mas ambas as produções se parecem em estilo e destoam na forma com que apresentam as suas situações cômicas. Dev é um imigrante que morou grande parte de sua vida nos EUA e, aos seus trinta e poucos anos, mantém uma vida estável e relativamente feliz em busca de sucesso na carreira de ator. Ele é um verdadeiro otimista (ao contrário do Louie de Louis C.K.), que sempre enxerga o melhor, até mesmo quando a situação está desfavorável: “É um pouco racista, mas ficou legal“, exclama o jovem ator ao se deparar com o desenho dele que a filha de uma amiga fez.

Aliás, discriminação e racismo são temas corriqueiros na trama, mas sempre tratados de forma respeitosa sóbria. Master of None nem por isso é uma série que quer ser politicamente correta por ser. Ela apenas é porque usa a plataforma dada pela Netflix para fazer o público repensar certas atitudes como, por exemplo, a forma como a sociedade trata pessoas obesas e os próprios imigrantes. Só por isso ela é relevante nos dias de hoje, onde um candidato à presidência lidera pesquisas propondo-se construir um muro entre os EUA e o México ou onde mulheres são repreendidas publicamente por unificarem o discurso igualitário contra os que as oprimem (é por isso, também, que nenhum interesse amoroso de Dev é objetificado na série).

Repleta de diálogos inspiradíssimos – aquele onde Dev e Arnold (Eric Wareheim) discutem o ponto de vista da música 8 Mile do Eminem é genial -, humor rápido e participações especialíssimas (a de Claire Danes e Noah Emmerich é digna de nota), Master of None é uma excelente surpresa na tela da Netflix. É uma série redondinha, deliciosa de se assistir, com uma fotografia linda e que merece desde já um lugar cativo no calendário anual do serviço de streaming. Ela prova, inclusive, que um elenco diversificado e não “all white” pode muito bem estrelar uma série mainstream. Afinal, estamos em 2015 como bem apontou o primeiro-ministro canadense

5star

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