Foi com um olhar vago, triste e enternecido que um amigo me confessou a tragédia que dá título a este post. Era uma noite chuvosa num bar decorado por um jazz melancólico e corações quebrados. Era uma mesa ornamentada com garrafas de cerveja vazias, cada vez mais. Ele suspirou. O tamanho do suspiro é sempre diretamente proporcional ao tamanho do peso nos ombros. A namorada dele não gosta de LOST. E agora?
A madrugada se arrastou com lamentações e deixou um gosto amargo na chegada do dia. A falta de compatibilidade no gosto de séries é um terremoto que pode abrir uma fenda no relacionamento. Como lidar com tamanho obstáculo? Pensando a respeito, cheguei em quatro soluções (LOST será usada como exemplo, mas vale para qualquer série – ou seja, alguns spoilers do show aguardam logo adiante):
1 – Ser adulto e aceitar
É a decisão mais madura, amistosa e evoluída a ser tomada – se você tiver caído em um caldeirão de covardia quando era pequeno. O gosto por séries não é uma parte leviana do relacionamento, como decidir em qual restaurante jantar no sábado a noite ou ter filhos. Guarde a civilidade junto com a sua disposição de começar uma dieta e se prepare para uma luta intensa, acirrada e desgastante pela alma do seu namoro (ou noivado. Ou casamento. Ou sexo casual).
2 – Intervenção
Reúna os amigos mais próximos e queridos da pessoa amada. Prepare cartas explicando o porque LOST é tão incrível e como não gostar de LOST leva a uma vida repleta de horror e amargura. Caso necessário, invente as informações para conferir o peso dramático necessário ao argumento – para todos os efeitos, Hitler não gostava de LOST. Pendure um banner com os dizeres “INTERVENÇÃO” em caixa alta e fonte amigável. Separe trechos dos melhores episódios para mostrar. Alugue um projetor e uma tela do tamanho de um continente e um sistema de som tão alto que deixa o ar ao redor rarefeito. Pegue enxertos das críticas aqui do Ligado em Série. Não economize palavras na hora de falar sobre Desmond. Use elementos atrativos da série – magnetismo, ursos polares, aviões se partindo ao meio, um sujeito que nunca envelhece, o monstro de fumaça, pessoas bonitas na praia vestindo uma quantidade reduzida de tecido – como uma fatia de queijo para prender a pessoa na sua ratoeira retórica. É sério, não economize palavras na hora de falar sobre Desmond.
3 – Contratar o homem de um braço só
Em Arrested Development, George Bluth chama um ex-funcionário seu com o braço direito emancipado do resto do corpo e pede que ele dê uma mãozinha (desculpem) para ensinar valiosas lições de vida aos seus filhos (como anotar que precisam comprar leite). Eis aqui uma regra da vida: se funcionou para George Bluth, use. É meio impossível seu companheiro(a) ficar indiferente à demência total de ver um sujeito “perdendo” um braço apenas porque ele(a) acha LOST “um porre sem sentido”. Certamente os cenários altamente intrincados nos quais o homem monobraço se envolve serão efetivos para mudar de forma definitiva a opinião errada que o seu momôzinho tem da série – com algumas descargas de adrenalina de bônus, principalmente se seus amigos e/ou família são tão disfuncionais quanto os Bluth. Efeitos colaterais: possível trauma psicológico.
4 – Suit up!
Antes de cada episódio se tornar uma rocha de 300 quilos que os fãs precisavam carregar nas costas para chegar até o final da série, How I Met Your Mother criava momentos épicos onde Barney virava o mundo do avesso vestindo roupas que gente como nós só usaria no Halloween (talvez nem no Halloween). Outra regra da vida: se funcionou para Barney, use (ok, selecione bem antes de usar). Invista em figurinos que remetam às personagens da série e também que emulem as pessoas mais importantes para seu namorada(o). O subterfúgio de usar um disfarce para enganar outrém pode se mostrar incrivelmente produtivo porque a) há a possibilidade de manipular emocionalmente a pessoa fazendo-se passar por alguém próximo à ela, b) corrobora qualquer argumento apresentado anteriormente ao construir um novo e importante (mesmo que falso) agente reproduzindo o mesmo discurso (tipo estabelecendo uma muralha da China retórica) e c) pressupõem níveis avassaladores de diversão. Imagine o efeito que não terá um amigo de infância ressurgindo de repente para desfilar elogios à estrutura narrativa ou um parente distante chegando com presentes e mistérios envolvendo números. E, mesmo se tudo isso falhar, há sempre a hipótese de deixar a barba crescer, fazer cara de choro e chegar na frente da pessoa gritando “we have to go back!“.
5 – Lobotomia
Porque às vezes fazer um corte no cérebro é a única opção.
Hahahaha adorei! :D
LOST forever!!!
Se ela não gosta, eu ODEIO Lost!!!
LOST É FODA
Lost forever. Saudades. Que surpresa ler isso, logo agora que estou revendo a serie
Ela está certa! Se eu soubesse como a ultima temporada ia ser uma B*sta. E que aquele final ia ser a M*rda que foi, eu nem teria perdido meu tempo assistindo. Você está corretissíma, minha filha. Passe longe dessa série!
Menina esperta!
Se ela ou ele não gosta de LOST, só lamente e siga em frente. A inteligência e o bom gosto não são para todos!