quinta-feira, abril 18 2024

jack lost

Foi com um olhar vago, triste e enternecido que um amigo me confessou a tragédia que dá título a este post. Era uma noite chuvosa num bar decorado por um jazz melancólico e corações quebrados. Era uma mesa ornamentada com garrafas de cerveja vazias, cada vez mais. Ele suspirou. O tamanho do suspiro é sempre diretamente proporcional ao tamanho do peso nos ombros. A namorada dele não gosta de LOST. E agora?

A madrugada se arrastou com lamentações e deixou um gosto amargo na chegada do dia. A falta de compatibilidade no gosto de séries é um terremoto que pode abrir uma fenda no relacionamento. Como lidar com tamanho obstáculo? Pensando a respeito, cheguei em quatro soluções (LOST será usada como exemplo, mas vale para qualquer série – ou seja, alguns spoilers do show aguardam logo adiante):

1 – Ser adulto e aceitar

locke lost

É a decisão mais madura, amistosa e evoluída a ser tomada – se você tiver caído em um caldeirão de covardia quando era pequeno. O gosto por séries não é uma parte leviana do relacionamento, como decidir em qual restaurante jantar no sábado a noite ou ter filhos. Guarde a civilidade junto com a sua disposição de começar uma dieta e se prepare para uma luta intensa, acirrada e desgastante pela alma do seu namoro (ou noivado. Ou casamento. Ou sexo casual).

2 – Intervenção

charlie lost

Reúna os amigos mais próximos e queridos da pessoa amada. Prepare cartas explicando o porque LOST é tão incrível e como não gostar de LOST leva a uma vida repleta de horror e amargura. Caso necessário, invente as informações para conferir o peso dramático necessário ao argumento – para todos os efeitos, Hitler não gostava de LOST. Pendure um banner com os dizeres “INTERVENÇÃO” em caixa alta e fonte amigável. Separe trechos dos melhores episódios para mostrar. Alugue um projetor e uma tela do tamanho de um continente e um sistema de som tão alto que deixa o ar ao redor rarefeito. Pegue enxertos das críticas aqui do Ligado em Série. Não economize palavras na hora de falar sobre Desmond. Use elementos atrativos da série – magnetismo, ursos polares, aviões se partindo ao meio, um sujeito que nunca envelhece, o monstro de fumaça, pessoas bonitas na praia vestindo uma quantidade reduzida de tecido – como uma fatia de queijo para prender a pessoa na sua ratoeira retórica. É sério, não economize palavras na hora de falar sobre Desmond.

3 – Contratar o homem de um braço só

lost estatua

Em Arrested Development, George Bluth chama um ex-funcionário seu com o braço direito emancipado do resto do corpo e pede que ele dê uma mãozinha (desculpem) para ensinar valiosas lições de vida aos seus filhos (como anotar que precisam comprar leite). Eis aqui uma regra da vida: se funcionou para George Bluth, use. É meio impossível seu companheiro(a) ficar indiferente à demência total de ver um sujeito “perdendo” um braço apenas porque ele(a) acha LOST “um porre sem sentido”. Certamente os cenários altamente intrincados nos quais o homem monobraço se envolve serão efetivos para mudar de forma definitiva a opinião errada que o seu momôzinho tem da série – com algumas descargas de adrenalina de bônus, principalmente se seus amigos e/ou família são tão disfuncionais quanto os Bluth. Efeitos colaterais: possível trauma psicológico.

4 – Suit up!

jack lost2

Antes de cada episódio se tornar uma rocha de 300 quilos que os fãs precisavam carregar nas costas para chegar até o final da série, How I Met Your Mother criava momentos épicos onde Barney virava o mundo do avesso vestindo roupas que gente como nós só usaria no Halloween (talvez nem no Halloween). Outra regra da vida: se funcionou para Barney, use (ok, selecione bem antes de usar). Invista em figurinos que remetam às personagens da série e também que emulem as pessoas mais importantes para seu namorada(o). O subterfúgio de usar um disfarce para enganar outrém pode se mostrar incrivelmente produtivo porque a) há a possibilidade de manipular emocionalmente a pessoa fazendo-se passar por alguém próximo à ela, b) corrobora qualquer argumento apresentado anteriormente ao construir um novo e importante (mesmo que falso) agente reproduzindo o mesmo discurso (tipo estabelecendo uma muralha da China retórica) e c) pressupõem níveis avassaladores de diversão. Imagine o efeito que não terá um amigo de infância ressurgindo de repente para desfilar elogios à estrutura narrativa ou um parente distante chegando com presentes e mistérios envolvendo números. E, mesmo se tudo isso falhar, há sempre a hipótese de deixar a barba crescer, fazer cara de choro e chegar na frente da pessoa gritando “we have to go back!“.

5 – Lobotomia

ben lost

Porque às vezes fazer um corte no cérebro é a única opção.

7 comments

  1. Lost forever. Saudades. Que surpresa ler isso, logo agora que estou revendo a serie

  2. Ela está certa! Se eu soubesse como a ultima temporada ia ser uma B*sta. E que aquele final ia ser a M*rda que foi, eu nem teria perdido meu tempo assistindo. Você está corretissíma, minha filha. Passe longe dessa série!

  3. Se ela ou ele não gosta de LOST, só lamente e siga em frente. A inteligência e o bom gosto não são para todos!

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