sexta-feira, abril 19 2024

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O grande artista sempre se esconde em suas obras.” No texto que publiquei semana passada, destaquei que um dos elogios que a narrativa de Westworld merecia estava relacionado ao fato de ter conseguido dar importância a um personagem que, embora bastante citado ao longo desses seis episódios, ainda não nos foi formalmente apresentado. Com isso em mente e considerando todo o grande desenvolvimento envolvendo o mistério do labirinto (somado ao da própria questão da aparente espionagem industrial evidenciada neste The Adversary), a frase que abre essa crítica – e que foi mencionada por Ford no episódio – grita um “preste atenção, isso é sim uma grande dica sobre o que descobriremos do Arnold!”

Nesse sentido, o tal adversário do título desse sexto episódio aponta que um claro embate (físico e sobretudo de ideias) se aproxima com a revelação de quem/o que é Arnold, afinal. E a função do labirinto e sua natureza (é um ambiente físico de fato como pensa o homem de preto ou um conceito que leva à catalização do processo de consciência dos anfitriões do parque?) parecem assumir agora um papel ainda mais fundamental para a história.

E se é verdade que o grande artista se esconde em suas obras, imaginar à essa altura que Arnold seja o tal homem que morreu mil vezes (conforme Teddy menciona em dado momento parecendo falar sobre si mesmo), já dá até pra especular que sim, ele pode quem sabe até não ter mais o corpo físico que Ford outrora conhecera, mas continua vivo, sob outra forma, como uma inteligência artificial escondida no sistema do parque e agora exercendo influência maior sobre os eventos que estamos vendo.

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Considerando essa possibilidade – e também aquela teoria de que existe mais de uma linha temporal na narrativa (mais sobre isso no fim do texto) – já imagino que a série possa nos reservar a revelação do tal incidente referenciado desde o início da série como o ápice da trama envolvendo Dolores e William e o destino de Arnold no passado que poderíamos classificar como a primeira tentativa deste em despertar as IAs do lugar, ao passo em que o desenrolar da trama do homem de preto com Teddy agora nos levará à revelação da segunda – e dessa vez mais contundente – ação de Arnold (na forma que ele tiver “hoje”) para atingir seu objetivo.

Essas possibilidades e especulações sobre a trama, contudo, empalidecem frente o aspecto realmente mais importante e interessante que Westworld tem apresentado até aqui: o de nos mostrar, através do despertar das inteligências artificiais de Dolores nos episódios anteriores e, nesse sexto episódio mais explicitamente, Maeve, o que de fato significa ser humano além de suscitar a reflexão sobre até que ponto somos de fato livres em nossas escolhas. Afinal, em maior ou menor escala, a “vida” daquelas IAs, reflete também a grande verdade de que todos nós vivemos nossos próprios loopings diários com rotinas que se acumulam entre casa, trabalho e estudos e se diluem nos pequenos prazeres, sucessos, fracassos e dilemas experimentados no dia a dia.

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Sob essa perspectiva, a caminhada de Maeve (ao som da belíssima e dolorosa versão de “Motion Picture Soundtrack” do Radiohead) pelos andares superiores da Delos Corporation, traz não só o choque de realidade que a personagem tem, mas também aquele que cada um de nós conscientemente (ou inconscientemente) prefere negar. Aquela sequência é a representação de que cada um de nós, num contexto diferente também está preso à uma ideia de programação que nos dá a falsa sensação de um controle total e absoluto, que de fato não temos.  

Não à toa, o despertar aparentemente definitivo de Maeve (num trabalho excepcional da atriz Thandie Newton, diga-se) é precedido por um um trauma temporário representado pela falha sistêmica (será que as IAs usam Windows?) que surge como resposta automática ao confronto da tomada de consciência (um elemento novo para ela) contra a própria programação de linguagem, reações, improvisos etc. que ela estava designada à seguir.

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Esse momento por si só (seguido daquele em que ela descobre que o que achava ser uma memória perdida de sua vida era agora uma reles propaganda do parque) é poderoso o bastante para que enxerguemos o primeiro traço de humanidade que a personagem ganha, visto que ela parece experimentar aquele turbilhão de sensações de forma genuína. Nisso, aliás, até a revelação de que Robert Ford mantém escondida no parque uma versão IA de sua família (a propósito, vocês repararam como o “pai” dele lembra muito o Arnold da foto mostrada no episódio 3?) também serve para humanizar um personagem que sempre pareceu apenas frio e pragmático, mas que ganha agora uma interessante camada nova refletida no saudosismo de uma memória feliz que ele alimenta.

E pra fechar a brincadeira por enquanto, falemos sobre mais um indício de que a possibilidade de duas (ou mais) linhas temporais na trama pode se confirmar em breve (quem sabe já no episódio 7?). Quando Bernard desce até uma das partes isoladas do prédio da Delos e usa um computador claramente arcaico (se comparado aos tablets futuristas que os funcionários usam na parte ativa do prédio), um símbolo diferente do parque \W/ pode ser visto. Essa, contudo, não foi a primeira vez que esse símbolo especificamente apareceu na série.  Nós o vimos no segundo episódio, o mesmo que mostrou a chegada de William ao parque. Ou seja… Ou isso é um erro de continuidade bizarro ou é uma baita dica. Com qual você fica?

5stars

8 comments

  1. Essa questão do logotipo me parece quase que uma confirmação de que existem sim duas linhas temporais. Além de todos os flashbacks terem exibido o “W” antigo, uma série tão bem produzida não teria um descuido tão primário em relação a isso, caso seja realmente um erro.

  2. Bernard está procurando o computador antigo e utiliza uma lanterna, em meio a sua busca, ele se depara com um vulto com chapéu de cowboy e mãos na cintura a lá Yul Brynner na versão feita para o cinema de Westworld. Bela homenagem!!

  3. Percebi esse detalhe também. Pensei que o Yul Brynner ia se mexer naquela hora!

  4. win vista precisamente kkkkkkk
    quanto ao logotipo falou bem…seria bizarro
    não acredito

  5. Posso estar viajando, mas aquela história do Wyatt que foi adicionada no presente já não acabava com a teoria das linhas temporais?

  6. Olá, queridos!
    O que vcs acham da teoria de que Bernard é um “andróide clone” do Arnold, recriado por Ford depois que o sócio supostamente se matou? Desse modo, estaríamos vendo não apenas duas, mas sim 3 linhas do tempo: a mais antiga, quando Arnold ainda estava vivo e aparece conversando com Dolores e tentando estimular a consciência dela para que se torne livre; a segunda quando Dolores interage com Willian no parque, logo após a morte de Arnold e a terceira, 30 anos depois, com Dolores conversando com Bernard, um andróide à imagem e semelhança de Arnold e interagindo no parque com o homem de preto, que seria Willian no futuro.
    Vcs concordam?

  7. Ele simplesmente foi usar um computador antigo porque nao tinha acesso ao que precisava pelos mais modernos, só isso… tanto que ele usa o tablet junto o comoutador antigo…

  8. Eu acho essa historia de duas linhas temporais uma viagem enorme…

    Sobre Bernard ser um androide,,. nao acho impossivel…

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