quarta-feira, março 27 2024

O texto a seguir NÃO contém spoilers do filme

Mais que um prólogo para Uma Nova Esperança, episódio IV da saga Star Wars, Rogue One é um filme sobre escolhas, sacrifícios e, principalmente, escala. Essa última característica, aliás, é um elemento marcante (e talvez um dos que mais tenha me impressionado) ao longo de toda projeção, quer seja pela noção que Gareth Edwards (de Godzilla) nos dá sobre quão imensa é a galáxia da franquia (somos apresentados a uma larga variedade de novos e deslumbrantes cenários e planetas) ou pelas muitas evidências de quão devastadora e terrível era a opressão do Império sobre os que ousavam se insurgir contra ele. E nesse sentido, por mais que pareça óbvio, Rogue One é, de fato, o primeiro filme dentre todos produzidos pela Lucas Films que te faz sair da sala de Cinema efetivamente convencido de que não é à toa que a franquia tem Wars em seu título.

Com roteiro de Chris Weitz e Tony Gilroy (a partir da história de John Knoll e Gary Whitta), essa primeira investida da Disney – no que promete ser uma série de histórias isoladas dentro do universo Star Wars -, é eficiente e empolgante o bastante para, mesmo sem tratar diretamente dos Skywalker ou ter cavaleiros jedis em sua trama, contextualizar e conferir peso e real importância às ações do tal grupo rebelde responsável pelo roubo dos planos da Estrela da Morte que os créditos de abertura do Ep. IV apenas mencionavam brevemente. Nessa perspectiva, Rogue One – Uma História Star Wars é um adendo muito bem-vindo nesse universo e como prólogo que é da trilogia clássica, sob alguns aspectos funciona (bem) melhor que os tão criticados Episódios I, II e III dirigidos por George Lucas.

Dando senso de urgência permanente e indiscutível à narrativa (algo que, em certa medida, faltava nos filmes centrados na juventude de Anakin Skywalker, por exemplo), Edwards faz com que a passagem de uma sequência à outra de Rogue One pareça um grande compartimento que se fecha em torno de seus personagens pressionando-os constantemente. Uma ideia que fica clara, aliás, à medida em que um determinado evento ainda na primeira metade do filme, faz crescer de maneira irrefutável a noção de que a Estrela da Morte poderia de fato representar o fim de todo e qualquer esforço da resistência rebelde que nesse filme ganha inclusive nuances novas nunca exploradas na trilogia clássica.

Há no filme, sem dúvida, um código moral implícito que separa claramente um lado do outro do conflito que trata Star Wars, mas é curioso perceber que em Rogue One especificamente, a Aliança Rebelde se divide entre aqueles que abraçam o ideal político fazendo uso de táticas de guerrilha (que inclui até assassinatos isolados); os que recorrem à fé no poder da Força (mesmo sem serem jedis) ou ainda outros tantos que encontram na mescla dos dois estilos a ferramenta para conseguir fazer frente aos esquadrões do Império em maior ou menor escala.

Assim, se Cassio Andor (Diego Luna) surge como expoente máximo desse contexto guerrilheiro, o cego Chirrut (Donnie Yen) é a porção do homem que tem na Força sua principal aliada ao passo que Jyn Erso (Felicity Jones) é a protagonista que vê sua compreensão de mundo (e o papel que teria que desempenhar nele) inteiramente modificada a partir do momento em que percebe que não se envolver já não era mais uma opção. E se a jornada desses personagens – que incluem ainda o piloto desertor do Império, Bhodi, feito por Riz Ahmed; o guerreiro Baze além do carismático androide K-2SO (que traz no sarcasmo um alívio cômico bem-vindo) – soa apressada pela urgência da trama, está aí provavelmente o ponto fraco do filme: a falta de tempo e desenvolvimento que não nos permite criar uma real conexão com eles ainda que seja impossível não se importar com seus destinos.

E se mencionei o ponto frágil do filme, um dos grandes acertos de Rogue One, por outro lado, reside em seus vilões, já que Gareth Edwards soube valorizar suas participações fazendo com que dois deles (resgatados da trilogia clássica) jamais surjam como desculpas para mero fan service. Nesse contexto, o diretor Orson Krennic feito pelo excelente Ben Mendelson aparece sempre imponente e ameaçador (mesmo quando confronta um outro vilão que os trailers esconderam razoavelmente bem e que surge aqui de forma surpreendente) perdendo força de fato apenas quando divide a cena com Darth Vader (na voz possante de James Earl Jones) que, mesmo aparecendo pouco, impressiona de maneira absolutamente marcante quando o faz graças à sutileza de suas ações em determinada cena ou à demonstração de força em outra.

Bem sucedido nos temas que explora e tecnicamente impecável (a direção de Edwards é segura; a fotografia de Greig Fraser é um desbunde visual; o design de produção um espetáculo e a bela trilha de Michael Giachinno emula, mas não copia os acordes criados por John Williams), Rogue One consegue ser um capítulo à parte dentro da franquia ao mesmo tempo em que a complementa com seu desfecho agridoce que traz novas e ainda mais ricas camadas não apenas para Uma Nova Esperança, mas para a saga como um todo.

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