quinta-feira, abril 18 2024

Ficou fácil resumir o impactante nono episódio de Westworld: um verdadeiro banquete de revelações. E se esse movimentado The Well Tempered Clavier confirmou muitas teorias à medida em que nos apresentou novas perguntas, trouxe também uma certeza:  a de que o casal Jonathan Nolan e Lisa Joy (showrunners da série) sabe muito bem o que está fazendo, que tipo de história quer contar e onde quer chegar. Afinal, se é preciso um mínimo de talento para conferir peso, importância e significado nas discussões de cunho filosófico que a série propõe, o mesmo também vale para as surpresas e reviravoltas que muitos de nós já especulávamos e prevíamos.

E se muitas pistas já estavam ali o tempo todo  – seja para sustentar a ideia de que havia mais de uma timeline na trama; que Bernard era um anfitrião e podia ser uma versão do tão falado Arnold etc -, o verdadeiro ponto aqui é um só: nada disso realmente importa na hora que a revelação é finalmente dada se uma série (ou um filme) não for muito mais que a soma de seus mistérios. E Westworld não se tornou essa baita série por causa das viradas que apresenta, mas porque sabe muito bem como revelá-las fazendo com que a trama e seus personagens evoluam e ganhem desenvolvimento no processo.

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Nesse sentido, ver Bernard descobrindo que é uma reinvenção de Arnold por si só não nos diria muita coisa. Agora, se a revelação é feita numa sequência de cenas carregadas de tensão e que envolvem uma direção segura (e aqui o mérito é todo da sempre excelente Michele MacLaren) e atores que nos convencem de que o peso de cada reação, emoção ou fala é real e tangível, aí sim temos todos os elementos que fazem com que a virada tenha um efeito genuíno. E dessa forma, a graça surge não de termos sido capazes de “advinhar” que surpresas poderiam surgir, mas sim de ver como esses plot twists impactam a trama e principalmente seus personagens.

Dito isso, ainda que o episódio termine com o que parece ser o fim trágico de Bernard (que na teoria só poderia ser reativado pelo próprio Ford, já que pro restante do staff da Delos ele seria visto apenas como outra vítima humana tal qual Theresa), não dá para desconsiderar a hipótese de que Maeve o salve visto que com a sentiência adquirida, ela é a única que sabe da real natureza de Bernard e pode enxergar nele um importante aliado no seu esforço de escapar do domínio de seus opressores no parque, os humanos, os mesmos que Ford diz que não são dignos de confiança.

Um outro ponto muito importante que esse episódio parece destacar é a ideia de que tudo – e não apenas as vidas dos anfitriões – funciona numa espécie de loop ali no parque. E essa hipótese fica forte quando consideramos as dicas de que a recém criada memória que Ford deu a Teddy relacionando-o com o ainda misterioso Wyatt no massacre de Escalante tem tudo a ver com o incidente ocorrido 30 anos antes envolvendo Dolores e a morte de Arnold (que agora sabemos ter sido assassinado pela própria anfitriã mais antiga do parque e com quem ele mantinha constantes conversas afim de despertar sua sentiência).

Considerando essa ideia, dá para imaginar que adquirir consciência é uma característica que em determinado momento foge da programação de alguns anfitriões e que o backdoor que Ford usa nessas ocasiões é criar uma nova narrativa que dizime os “revoltosos” re-estabelecendo então seu controle absoluto. Não à toa aliás, imagino eu, vimos tanto Ford quanto o Homem de Preto dizer, em momentos distintos, que tudo isso já aconteceu antes. Com isso em mente – e considerando o que o episódio nos mostrou – acredito que o conflito na relação entre Ford e Arnold deve ter nascido justamente do desejo do primeiro em massacrar os anfitriões conscientes e da negativa do segundo que acabou então morto por Dolores.

Sob essa perspectiva, ao matar Arnold 30 anos atrás, dá para imaginar que Dolores tenha tido o mesmo tipo de reação que Bernard teve quando descobriu que matou Theresa com quem tinha uma relação (lembra que ele tentou atacar Ford depois disso?). E se a coisa toda seguiu essa mesma linha, ainda que tenha usado a “donzela” para matar Arnold, Ford – seguindo a própria lógica/crença de que “os homens massacram tudo que desafia sua primazia” – tenha como um tipo de punição bizarra em resposta à perda do amigo, feito um reboot na programação de Dolores colocando-a presa num loop de 30 anos que constantemente a transformava em vítima dos maiores atos de violência possíveis (perder os pais assassinados, ser violentada etc).

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Agora, se tudo ali funciona num tipo de loop mesmo, já não parece exagero especular que o tal Wyatt da narrativa “nova” de Ford tenha sido a própria Dolores 30 anos antes programada para massacrar todos os anfitriões em processo de despertar de consciência. Assim, como não especular que isso possa ocorrer agora de novo? Afinal, como sabemos que o Homem de Preto espera encontrar Wyatt no labirinto, quem sabe não tenha sido exatamente isso que aconteceu na cena em que Dolores, na Igreja, chama por William apenas para dar de cara com o Homem de Preto entrando no lugar?

Para mim, a ideia é interessante porque traria duas situações bem curiosas: primeiro porque poderia confirmar de uma vez por todas que William e HdP são a mesma pessoa e segundo porque faria com que o HdP descobrisse que o antagonista que ele tanto procurou no parque através de sua jornada para achar o labirinto é Dolores, justamente a anfitriã por quem se encantou no passado. E se por um lado essa reviravolta (que a essa altura é puro palpite) poderia a princípio diminuir a jornada de Dolores, por outro faria sentido no contexto de um loop a partir do momento em que Ford usaria a nova narrativa não apenas para se livrar da incômoda ameaça que a sentiência dos anfitriões poderia lhe render, bem como da pessoa que parece representar sua maior ameaça hoje: o homem de preto, o figurão do conselho da Delos que quer tirá-lo do parque.

E onde entra Maeve nessa equação toda? Algumas pessoas tem torcido o nariz para o andamento da história envolvendo a personagem por acharem que não faz sentido que ela tenha adquirido novas habilidades com tanta facilidade sem chamar atenção de alguém e principalmente de Ford, por exemplo. Ok, mas e se Ford sabe de tudo e não fez nada justamente porque ele queria que a anfitriã ganhasse habilidades que seriam úteis na tal narrativa que ele vem desenvolvendo? De novo apostando na ideia do loop das coisas, se Dolores era o Wyatt do passado que recrutava Teddy (um pistoleiro/sheriff) para um massacre, Maeve hoje recruta Hector (também um pistoleiro) para auxiliá-la no processo que ela crê poder lhe dar independência total, mas que na verdade é apenas mais um jogo controlado por Ford o tempo todo.

Seja lá o que nos reserva o episódio de 90 minutos que vai encerrar essa primeira temporada de Westworld, uma coisa me parece bem provável quando lembro Ford dizendo que no início o parque fracassou porque as narrativas tinham finais felizes demais: um desfecho cruel e quem sabe até mesmo desesperançoso para os “heróis” dessa história é o que provavelmente nos aguarda. E vocês, apostam no que?

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2 comments

  1. Eu acho que Ford está tentando criar uma narrativa que saia do parque.

  2. Uma coisa cheira muito mal pra mim no fato de Bernard ser uma versão do Arnold,
    seria muito fácil pra qualquer um verificar isso olhando os arquivos do Parque, das pessoas que o construíram, a não ser que Ford não só o matou, como o apagou da história, o que é ainda mais improvável.

    Enfim, isso tá meio forçado por enquanto.

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