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[Matéria de 01/10/2009] Muita gente acha que as risadas que são ouvidas em comédias como Friends, Seinfeld, The Big Bang Theory etc. são “falsas”. Não é verdade. Na semana passada visitei os estúdios da Warner em Burbank, Califórnia, fui ao set de Two and a Half Men e assisti à gravação de um episódio da nova temporada The New Adventures of Old Christine. Sim, existe mesmo uma plateia in loco onde os convidados literalmente presenciam take a take todo o longo e cansativo processo que é realizado para por um episódio de 22 minutos no ar. Os convites são gratuitos e distribuídos de diversas formas, seja pela Internet ou através de empresas parceiras do estúdio. Qualquer pessoa pode participar, desde que maior de 16 anos. Após entrar no gigantesco lot da Warner, fomos encaminhados para uma fila improvisada no estacionamento (num calor infernal) e, em grupos pequenos, fomos conduzidos para o sound stage onde a série é gravada. Logo de cara a surpresa: tudo é incrivelmente menor do que aparece na TV. De frente para nós estava montado o set da casa da velha Christine e para os lados víamos a sala casa da nova Christine e o consultório do Matthew.

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Nosso grupo do InFilm chegou por volta de três e meia da tarde, mas a gravação em si começou somente depois das cinco. Neste ínterim, um comediante ficou animando a plateia e repassando algumas instruções (fotografias são totalmente proibidas e é quase impossível tirar uma foto sem ser repreendido) e depois passam um vídeo com o episódio anterior já gravado, para o público entender o contexto. Logo em seguida os atores são chamados um a um, deixando Julia Louis-Dreyfuss, a estrela da comédia, por último. O episódio que vi não teve a participação de Wanda Sykes e nem do filho de Christine, mas contou com a ilustre presença de Eric MacCormack (Will & Grace, Trust Me) interpretando um psicólogo colega de Matthew. A impressão dos atores foi muito positiva e eles foram simpáticos com a plateia (especialmente Julia), mas Hamish Linklater (o Matthew) é esquisitíssimo e ficava com uns tiques nervosos o tempo inteiro. Aí, após alguns retoques de maquiagem, remarcação de objetos cênicos de acordo com o padrão da série (continuísmo), as câmeras são posicionadas e a gravação finalmente começa.

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Mais uma vez fui surpreendido com a agilidade dos atores que já chegam com o texto e posicionamentos minimamente ensaiados, assim como pelos cortes de câmera que são realizados na hora, economizando um precioso tempo de pós-produção. Mas o aspecto mais interessante (e cansativo) da gravação de uma sitcom é a edição do roteiro no próprio estúdio. Explico: nem sempre o que está no papel agrada o público e, por isso, muita coisa é reescrita e repassada ao elenco ali mesmo. As mudanças no roteiro chegam a ser drásticas e quase sempre mudam para melhor. As alterações ocorrem desde o timing de algumas piadas até mesmo o corte ou modificação radical de alguns diálogos, o que faz com que cada cena seja gravada pelo menos três vezes para então as câmeras serem reposicionadas para um novo take em um cenário diferente. Quando não temos visibilidade do que está ocorrendo, monitores mostram toda a ação para a captação das nossas risadas e reações. Conversando com o page, confirmei que há sim alguma edição sonora das risadas do público, mas apenas para ajustar a intensidade de forma a não atrapalhar uma cena (mais alto ou mais baixo, somente). Até mesmo as externas pré-gravadas são exibidas lá para captarem a reação real do público.

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Tudo isso pode levar mais de oito horas (dependendo da sintonia de cada produção) e por isso eles distribuem água e comida para os presentes. Contudo, algo que me preocupou bastante foi a orientação do comediante no início para nós “rirmos bem alto de tudo”, já que assim menos cenas seriam reescritas e com isso seríamos liberados mais cedo. Ora, mas se forçássemos o riso apenas para tal fim, não estaríamos contribuindo para que um episódio com um roteiro mediano vá para o ar? Eu entendo que sim, mas depois de cinco horas lá eu já estava gargalhando de cada fala. No final, consegui conversar com a supervisora de roteiro e comentei que a série faz um considerável sucesso no Brasil. Ela então comentou isso com o diretor, que comentou com a criadora da série e a informação chegou aos ouvidos de Julia Louis-Dreyfuss, que estava a poucos metros de distância de nós. Ela respondeu: “É eu sei, nós fazemos mais sucesso na América Latina do que aqui“. Verdade. Enfim, participar de uma gravação dessas é uma experiência interessantíssima, mas bem maçante. Acho que até mesmo se fosse uma série que eu adorasse, também ficaria entediado em determinados momentos. É sempre melhor ver tudo pronto, editado e com as nossas risadas na TV.

Alerta de Spoiler – No episódio que vimos, a velha Christine foi trabalhar como secretária de Matthew na clínica enquanto a academia estava fechada. Lá ela deu em cima da personagem de Eric MacCormack, um psicólogo que já foi condenado diversas vezes por “avançar” em suas clientes. No final ela acaba fazendo terapia com ele, pra felicidade de todos: “Christine finalmente está se tratando? Aleluia”, diz o ex-marido Richard. Aliás, foi neste episódio também que ele reatou o romance com a nova Christine.

4 comments

  1. Olá, achei bem interessante sua matéria sobre a gravação dos seriados… já visitei os estúdios da Warner mas infelizmente não tive a oportunidade de assistir a gravação.
    Me lembro até que o guia do tour comentou algo a respeito, gostaria de saber como fazer para conseguir os convites ? Se não me engano existe um site, não é isso ?
    Se for possível nos ensine o “caminho das pedras” ! :D

  2. Na Universal Studios em Hollywood tem uma cabine que distribui gratuitamente ou você pode tentar pela Internet buscando por TV show tickets.

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