quinta-feira, março 28 2024

por Camila Picheth

[contém spoilers] O sarcasmo, o lado sombrio dos personagens e o humor negro tipicamente inglês foi o que me chamou atenção quando esse spin-off foi lançado. Doctor Who é fantástico, mas por ser um seriado familiar e parte da cultura inglesa, ele tem que ser um tanto quanto moderado e inocente. Torchwood nasceu destinado a uma faixa etária elevada, prometendo usar e abusar dos elementos bizarros e politicamente incorretos da premissa do programa. E a promessa foi comprida. Toda semana havia aquele aspecto grotesco, aquelas criaturas que lhe embrulhavam o estômago e decisões difíceis sendo tomadas, sempre beirando a subjetiva moralidade. E isso foi Torchwood UK, funcionando perfeitamente durante três temporadas. Miracle Day é uma nova série. Isso já estava implícito desde que a Starz virou co-produtora, e a história foi para solo norte-americano. Era óbvio que a textura do seriado iria mudar, agora com um orçamento muito maior e com o aumento da audiência destinada. Consequentemente, a série não poderia ser mais tão dark como antes. O ponto é que não adianta ficar comparando muito as duas versões. Torchwood US é o que temos agora. Captain Jack Harkness e Gwen Cooper estão de volta, inseridos em uma trama que promete. Resta torcer para que os roteiros de Russell T. Davies não sejam muito podados e que a história funcione como um todo.

“No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolumente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma pertubação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes de história universal, nem ao menos uma caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante (…)”. Tal trecho é o começo do livro As Intermitências da Morte, de José Saramago. Ele retrata um universo no qual a humanidade perdeu o dom da mortalidade, e todas as consequências desse fato. Torchwood, mesmo com apenas dois episódios exibidos até o momento, mostra seguir a história do livro e, se continuar assim, é de se esperar grandes dilemas éticos e morais no futuro. Os dois episódios foram meio parados, ainda que com muitos cortes rápidos. Mas isso é necessário para que o novo público se acostume e acompanhe a trama. O importante foi mesmo o retorno dos dois únicos sobreviventes do instituto britânico. Adorei a atuação de Eve Myles, com uma Gwen que claramente sentia falta de toda a ação. Também foi interessante o choque de sotaques. Quem assistia a série antiga estava acostumado com todo aquele sotaque britânico/galês e somente Jack americano. Agora é Gwen quem se destaca, com um delicioso sotaque galês (e ela não perde nenhuma oportunidade para reafirmar sua nacionalidade) no meio de tanto americano. Como bônus, Rhys ficou em Gales  com o bebê (me desculpe quem gosta do casal, mas eu não suporto o cara desde a primeira temporada). Foi ótimo rever Jack depois de tanto tempo, mas ele parece fora de personagem. Não fez suas piadas e tiradas típicas e, o pior, não flertou com ninguém! Era de se esperar que os eventos da terceira temporada tivessem algum efeito sobre ele, mas teria Jack mudado tanto assim?

Também temos Mekhi Phifer, como o egocêntrico agente da CIA Rex (eu ainda vou escrever um artigo sobre esse pessoal de ER que tomou gosto pelas series sci-fi). Ainda não gosto muito dele, mas também não o odeio. As atrizes que interpretam a analista Esther e a Doutora Vera fazem um bom trabalho, e acho que suas personagem têm potencial para cativar o público. Mas na minha opinião, os verdadeiros acréscimos para a série foi Bill Pullman e Lauren Ambrose. Sabia que Pullman iria arrasar na interpretação, mas o que me deixou surpresa foi o caráter de seu personagem. Ele normalmente faz papéis cômicos, e o assistir como um assassino é interessante. Espero que seu desempenho seja algo semelhante o de John Lithgow, na quarta temporada de Dexter. Ao ver Ambrose, já fiquei com vontade de reassistir Six Feet Under. A ex-Claire Fisher entra com uma personagem frenética, e que provavelmente será um problema para a equipe. Resumindo, estou feliz que a série tenha voltado, mesmo que diferente. Ainda é necessário mais alguns episódios para se formar uma opinião mais sólida, mas Miracle Day está se mostrando uma boa temporada. Para os que curtem uma interatividade de mídias digitais, fica a dica de Torchwood: Web of Lies (meio que seguindo o estilo dos jogos da iniciativa Dharma, de Lost). A BBC lançou o aplicativo que, após cada episódio ser exibido, é liberado um mini episódio em motion comic, narrado por Eve Myles, John Barrowman e Eliza Dushku (Dollhouse). São duas histórias simultâneas: uma que se passa em 2007, com Gwen e Jack, e outra durante os eventos de Miracle Day. Você deve resolver alguns problemas de raciocínio para poder seguir em frente. O primeiro mini episódio é grátis e os outros são acumulados em pacotes de três, custando um dólar por pacote.

 

8 comments

  1. Me desculpe mas eu não entendi nada. Ok, não acompanho as séries Doctor Who e Torchwood. Li a premissa e me pareceu interessante, por isso se alguém com paciência estiver aí pediria mais esclarecimentos.
    1º Trata de uma série baseada no livro de Saramago? Se for, UAU!
    2º A série inglesa acabou e foi importada para os EUA (nova produção, novos atores – mesmo que sendo interpretados pelos mesmos). OU Ela deixou de ser produzida pela BBC e nos EUA encontrou a 4 temporada?
    3º Sendo assim o nome da série “nova” é Miracle Day ou Torchwood US e Miracle Day é nome da temporada?

  2. Essa temporada não é baseada no livro do Saramago, mas segue a mesma história.
    Torchwood foi lançada em 2006 na Inglaterra, com uma produção da BBC, e assim funcionou durante três temporadas. Nessa 4ª temporada, o canal Starz (americano) entrou como co-produtor, e trouxe a história para os EUA. Todos os atores/personagens (vivos) das outras temporadas continuam na 4ª, que funciona como uma continuação normal das outras. Os roteiristas continuam os mesmos – a diferença é que, como citado no texto, vários aspectos mudaram, como o local e o orçamento.
    O nome continua sendo simplesmente Torchwood, e tem o subtítulo Miracle Day porque diferente de outras séries, a temporada inteira é construída em cima do mesmo tema (não tem episódios independentes). A terceira temporada, por exemplo, tem o subtítulo Children of Earth, novamente seguindo apenas um tema.

    Espero ter ajudado a esclarecer suas dúvidas. Se tiver mais alguma, pode perguntar. Torchwood é uma ótima série – fica a recomendação.

  3. Obrigado Camila! Foi esclarecedor.
    E seguirei a recomendação. Após a leitura de seu texto já estava inclinado a buscar a série e então vejo um teaser desta 4 temporada com Lauren Ambrose apresentando sua personagem… e aí bati o martelo.
    A atriz é excelente e concordo que revê-la nos dá vontade de voltar em “A Sete Palmos” – o que eu faria com mais desenvoltura se assistir a esta série não fosse difícil.
    Daqui uns dias volto por aqui para deixar minhas impressões.
    Obrigado

  4. Legal, Bruno! Quero saber se vc vai gostar da série :)

  5. Camila,

    Não é baseada mas as premissas utilisadas e as sucessivas ideias semelhantes são tantas que para mim os agrgumentistas pelo menos ouviram falar… Talvez nums das sua viagens de férias pelo allgarve tenham lido a contra capa do livro numa livraria e pemsaram… Caramba esta historia é interessante, quem vai cohecer este escritorzinho deste país mixuruca… Só não se lembraram é que Sarcamago é um dos melhores e mais conhecidos escritores contemporaneos portugueses, e a sua obra é publicada em todo mundo, fato assumido pelo seu reconhecimento de um nobel da literatura.

    Existe uma palavra para isso. Plágio. Do pior.

  6. Eu ainda não terminei de ler o livro do Saramago mas, ao que me parece, uma vez que o cenário foi montado, Torchwood seguiu um caminho próprio. Até porque a história do Jack é algo único.
    Quando eu terminar, posso comentar mais. Mas não diria que é plágio. Quando se pensa numa realidade dessas, a lógica é meio que um padrão. Existem vários filmes/séries/livros com o mesmo tema, mas eles acabam seguindo caminhos diferentes.

  7. Gostaria de saber se é necessário assistir as temporadas anteriores a 4ª para poder entender e acompanhar a série.

    Obrigada!

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