quinta-feira, março 28 2024

por Camila Picheth

Todos gostam de um bom enigma. Quando crianças, somos confrontados com aqueles quebra cabeças de doze peças que demoravam para se tornarem cansativos. A partir de então, escolhemos ficar horas tentando finalizar um jogo de palavra cruzada ou Sudoku. Passamos a mesma quantidade de tempo assistindo filmes ou séries de mistério ou lendo um livro com o mesmo tema. A razão para fazermos isso pode variar, seja por gostar de seguir um caminho lógico que o leva a respostas absolutas e definitivas, por apreciar o desafio ou simplesmente para se sentir superior aos outros. Não importa a razão, o fato é que diariamente somos submetidos a algum tipo de enigma; e nós gostamos. No entanto, as histórias de Sherlock Holmes dão ainda mais um estímulo ao seu público: a competição. Estamos tratando de um dos homens mais inteligentes da história fictícia e conseguir acompanhar seu raciocínio na tentativa de obter respostas antes do protagonista é um exercício viciante. Juntando toda essa premissa com uma qualidade altíssima de roteiro, é impossível resistir a uma série como Sherlock, da BBC inglesa.

A série foi criada por Steven Moffat e Mark Gatiss, dois roteristas de Doctor Who, enquanto faziam suas viagens de trem até Cardiff para a produção do programa. Como grandes fãs das histórias de  Sir Arthur Conan Doyle, eles imaginaram como seria se o personagem vitoriano vivesse no mundo moderno, tendo toda a tecnologia atual ao seu alcance – e adesivos de nicotina no lugar do tradicional cachimbo. Não precisa nem dizer que a série é um total sucesso. Baseando-se nas tramas originais e misturando sua própria criatividade, Moffat, Gatiss e Steve Thompson (mais um roterista de Doctor Who) realizaram duas temporadas e já garantiram uma terceira, que somente deve estrear em 2013. Cada temporada possui três episódios de 1h30 de duração. Pode parecer muito longo, mas o ritmo e a agilidade de como a história é retratada faz com que o público não fique entediado. O que também contribui para que os episódios não fiquem chatos é a identificação do telespectador com os personagens, que resolvem os casos com bastante uso da internet e mensagens de texto. Sem contar que Watson agora é blogueiro. Mesmo com toda a modernidade instalada, alguns elementos como o chapéu característico de Sherlock e o número 221B gravado na porta da residência foram mantidos, não cortando totalmente o padrão canônico dos textos originais e dando o equilíbrio necessário para o drama funcionar.

Durante a primeira temporada, fomos apresentados aos personagens principais, nos acostumando com os seus relacionamentos. Também conhecemos Moriarty, o arqui-inimigo de Sherlock, que construiu o arco principal da trama. Nessa segunda temporada, tivemos um começo fantástico com a entrada da personagem de Irene Adler (interpretada por Laura Pulver, que fez a fada madrinha de Sookie em True Blood). Passando pelos cães de Baskerville e a participação de Russell Tovey (Being Human, Him & Her, Doctor Who), chegamos ao grande season finale, com conto de fadas, ideias plantadas estilo Inception e a participação de Katherine Parkinson (The IT Crowd). A trama foi baseada no conto “The Final Problem”, no qual Doyle decidiu mostrar o confronto de Sherlock e Moriarty e matar ambos. Olhando para as temporadas, fica claro que a série só poderia ter sido escrita pelos roteristas de Doctor Who, uma vez que os personagens são basicamente os mesmos. Temos o gênio capaz de resolver qualquer enigma e sair de qualquer problema (Sherlock/Doctor); o fiel companheiro, que embora não seja tão inteligente, é indispensável para a resolução dos problemas (Watson/Companions); o arqui-inimigo louco tão esperto quanto o protagonista (Moriarty/The Master); e o interesse amoroso também genial que gera cenas de tensão e trapaça (Irene Adler/River Song).

Em 2007, Moffat escreveu uma série de seis episódios relatando a história de O Médico e o Monstro chamada Jekyll. Apropriando-se de muito humor negro, o programa transformou um ótimo livro em algo tão bom quanto. O escritor está repetindo a dose em Sherlock em nível avançado. Com a falta de criatividade moderna, o remake de filmes e a roteirização de livros rotineiramente retalha os grandes clássicos. Mas quando uma adaptação é tão bem feita quanto Sherlock, ela deve ser colocada como referência. Com as brilhantes atuações, roteiro exemplar e consistente, essa é já é uma série obrigatória para quem gosta de séries de TV.

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18 comments

  1. Oi amigos do Ligado em Série,

    Quando a policial Donovan diz para Watson que Sherlock Holmes é um psicopata em percebi uma coisa: Watson é a figura que não deixa a previsão da policial se concretizar. Sem Watson, um Sherlock solitário acabaria se tornando exatamente o que Donovan disse: um assasino psicopata. Após se entendiar com a resolução de crimes ele acabaria por querer realizar o crime perfeito. Watson salva a vida de Sherlock. E vice-versa.

  2. Steven Moffat é também o criador da excelente série Coupling, que infelizmente teve apenas 4 temporadas de 6-9 episódios. Completamente diferente, uma comédia com roteiros geniais sobre casais e relacionamentos. Consegui comprar em DVD há poucos meses e estou reassistindo. Recomendo.

    Ou seja, o cara é genial.

  3. Eu estou totalmente sherlocked com essa série. Confesso q apesar de a 1ª temporada ter sido lançada em 2010, eu só fui saber que ela existia em junho do ano passado, depois q comecei a assistir Doctor Who. Fiquei fascinada pelo escritor Moffat, descobri q sem saber já tinha assistido Jekyll (que foi brilhante) foi então q comecei a ver Sherlock, e desde os primeiros minutos a série me surpreendeu. Sempre fui fã dos livros, já assisti vários remakes para a tela, mas essa foi realmente inesperada e bem interessante.

    Na primeira temporada vimos uma apresentação de todos os personagens q conheceços e alguns novos nos tempos de hj, já nessa segunda formos apresentados as emoções do sherlock, mal posso esperar pra ver o q a 3ª temporada vai nos trazer. Agora eu naum sei como vou conseguir aguentar toda essa espera, fico imaginando quem assistiu qdo a série foi ao ar pela primeira vez e teve que esperar quase dois anos para a 2ª. Pelo menos dessa vez parece q naum vai demorar tanto assim. Mas o Moffat já falou, a 3ª temp só vai sair qdo estiver pronta.. só nos resta esperar.

  4. Camila, parabéns pelo texto! Sherlock é obrigatória mesmo até para quem não é muito fã do gênero :)

  5. Minha série favorita. Nunca fui um grande fã do Sherlock dos livros, muito embora tenha lido a maioria das histórias – além é claro de possuir a coleção quase completa em minha estante. Sempre tive preferência pelo detetive belga Hercule Poirot, da Dama do Crime Agatha Christie.
    Mas essa série é fascinante – acho que é uma das melhores adaptações que um livro já recebeu. As atuações estão impecáveis, o roteiro é muito bom e você nem percebe que já se passaram uma hora e meia.
    Seu único problema? Só ter 3 episódios por temporada. Mas se esse é o preço para ter uma qualidade tão absurda, então que fiquemos só com esses. Muito melhor 3 episódios ótimos do que 12 mais ou menos.
    Estou juntando o dinheiro pra comprar em BD – alguém sabe se tem extras?
    Abraços!

  6. Ah, esqueci de dizer – achei o Sherlock da BBC tão perfeito, que não tive coragem de ir ver o Sherlock do Downey Jr. no cinema pra não estragar a minha imagem, sei lá. :P

  7. André, vale a pena conferir o Sherlock do Downey Jr por um motivo pelo menos: ter a certeza de que a leitura contemporânea do personagem é infinitamente melhor :)

    Sobre o BD, o da 1a temporada tem quase 4 horas de extras, incluindo faixa de comentários com Moffat e cia, além de um doc sobre o processo de modernização do personagem e até a 1a versão do Piloto (com 55 minutos de duração) que não foi exibido na tv inglesa. Resumindo: item indispensável na estante!

  8. Fui ver o filme ontem e, embora ele seja bem produzido, não alcança a qualidade absurda do roteiro da série. A genialidade dos diálogos, as interpretações brilhantes do Benedict e do Martin, a forma como as informações são atualizadas para o mundo atual… É tudo tão interessante e cativante que ofusca a releitura do Guy Ritchie – que trouxe, na época do primeiro filme, boas novidades para a história. Quem não viu a série está perdendo uma das melhores produções da TV dos últimos tempos!

  9. Sem querer gerar polêmicas, mas não entendo como o escritor de uma série tão mal feita como Doctor conseguiu, com maestria, adaptar a história de Sherlock. Já li todos os livros e a casa de Sherlock e Watson é exatamente como imaginei que seria. Só dou risada com a legenda tentando forçar o “Elementar, caro Watson”, sendo que, nos livros, isso nunca foi dito.

  10. Sherlock é infinitamente melhor que DW. E eu gosto de DW. Os filmes também são bons demais.

  11. Amo Doctor Who, mas Sherlock é muito melhor, a melhor série que já assisti. Por causa dela eu comecei a ler os livros de Conan Doyle, e a admirar ainda mais o trabalho do Moffat. Recomendo para todo mundo que precisa de um seriado para assistir ^^

    mas eu achei a comparação entre essas duas séries no texto meio infeliz. Há algumas semelhanças sim, mas dizer que os personagens são basicamente iguais, por favor, né? Mas consegue descrever muito bem o programa. Estou ansiosíssima para a 3ª temporada, mas não estou com pressa. Melhor demorar e vir com mais três episódios brilhantes como dessa vez do que apressar e termos adaptações medianas.

  12. Concordo, o roteiro é um primor incessante, as atuações todas são sensacionais e a produção é impecável, o que, no geral, torna Sherlock uma série imperdível pra qualquer fã de séries.

    [j]

  13. Eu não entendo porque todo mundo está falando sobre o Moffat e comparando seu trabalho em DW com Sherlock, quando o verdadeiro gênio por trás de Sherlock é o Mark Gatiss.

  14. Cara, série obrigatória!!!!Eu descobri graças ao ligado em série que no último podcast comentaram sobre ela. Vou começar a assistir a 2a temporada. Já to achando que depois que terminar a 2a, rever tudo novamente…hehehehe…o único ítem complicador dessa série é o que vc não pode nem piscar pq os ingleses falam muito rápido…kkkk

  15. Eu descobri esta série este ano. Pensei em não assistir por falta de tempo, mas mudei de ideia e estou acompanhando a série. E ainda bem que mudei de ideia pq eu iria me arrepender amargamente por não ter assistido. Sem sombra de dúvidas, concordo com a autora do texto quando ela diz que é uma série obrigatória a quem gosta do gênero policial. Uma série muito sensacional, maravilhosa,bem feita, com um ótimo roteiro e produção espetacular.

    Sobre o filme do Guy Ritche: Odiei. A série Sherlock é superior ao filme. Não gostei do filme, não sei. Acho que o filme passa uma imagem de um Sherlock atrapalhado, digamos, o que não corresponde, ao meu ver, na característica do personagem. Uma das melhores que já vi o/

  16. Acho que a ultima linha do texto ficou sem coesão: “Uma das melhores que já vi o/”. Quis dizer que A série Sherlock foi uma das melhores séries que já vi.

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