quinta-feira, março 14 2024

Por Davi Garcia

Estamos todos interconectados. Nossas vidas estão ligadas, de forma invisível, às daqueles cujos destinos tocam os nossos. De forma geral, é essa a premissa de Touch, nova e promissora série criada por Tim Kring (sim, o de Heroes) que marca o retorno de Kiefer Sutherland à TV dois anos depois do fim de 24. Descrita pela Fox americana como uma produção que mescla ciência, espiritualidade e emoção, Touch narra a história de Martin Bohm (Sutherland), um homem comum que ficou viúvo após perder a esposa no 11 de Setembro e que não consegue, apesar de todos os esforços, criar um relacionamento com Jake, seu filho de 11 anos que manifesta sintomas do que parece ser autismo, mas que guarda, em sua obsessão por sequências de números, o dom de enxergar padrões e de prever eventos que podem mudar vidas.

Estabelecendo a ideia que cerca a trama da série logo em seus minutos iniciais através de uma curiosa narração em off feita por Jake (seguida de uma abertura bacana, diga-se), Touch surge como mais um projeto ambicioso de Kring que (assim como já fizera em Heroes) usa um cenário global para contar uma história de vidas que se cruzam de maneira irreversível. As semelhanças, contudo, param por aí, já que ao deixar de lado o elemento fantástico da série dos heróis, Touch investe num traço bem mais humano e, por isso mesmo, mais factível, para sustentar a narrativa de seu episódio Piloto de maneira atraente e envolvente.

Nisso, destaque para a performance de Kiefer Sutherland que, mesmo ainda dando ecos a seu Jack Bauer de 24 em alguns momentos (ele grita ao telefone; corre contra o relógio em determinada situação e até solta o famoso Damn it! em outra bem inusitada), consegue construir, de forma notável e marcante, um personagem frágil e crível que não abre mão de tentar formar uma relação com o filho apesar de todas as dificuldades, e que se fascina com a descoberta de que ser uma espécie de porta voz e intérprete para o dom do garoto pode representar sua única chance de efetivamente se aproximar e se conectar com ele.

À primeira vista, o conceito que move a trama de Touch – o do garoto que enxerga padrões e prevê eventos, e de pessoas ao redor do mundo que acabam influenciando as vidas umas das outras de um jeito supostamente coincidente demais –  pode parecer complicado ou mesmo exagerado. Nesse contexto, se por um lado a sensação de manipulação é notória ao longo dos acontecimentos que vão sendo cobertos no episódio Piloto (vide, por exemplo, as circunstâncias que aproximam o personagem de Sutherland ao do sempre competente Titus Welliver), por outro fica o sentimento de que tudo acaba funcionando de maneira orgânica (e até mesmo emocionante) dentro da proposta da série que, por si só, sustenta-se num grande Deus ex machina.

Sendo assim, ainda que o bom senso (e o histórico de Tim Kring, claro) recomende que fiquemos com o pé atrás em relação à sequência da série (como se darão as ações do personagem de Sutherland ajudando uma pessoa desconhecida a se conectar com outra a partir das indicações de Jake?), afirmo sem qualquer receio que o episódio Piloto de Touch dirigido por Francis Lawrence (Eu Sou a Lenda) realmente me tocou fisgou do início ao fim de uma maneira bastante intrigante. Dito isso, não faço ideia se os próximos episódios serão tão bons quanto este ou mesmo se a série conseguirá dar peso a discussões aleatórias que falam sobre a contradição da tecnologia que nos conecta e nos distancia. Contudo,  já tenho uma certeza: a de que estarei a postos para acompanhá-los e descobrir se Touch é mais do que uma série promissora ou só outra boa ideia que Tim Kring estragará.

Touch estreia oficialmente no dia 19 de março na Fox americana e deve estrear em toda a América Latina em Março numa data a ser definida.

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23 comments

  1. Enfim, ainda irei assistir. Mas desde o seu anúncio, me interessei pela idéia da série. Vamos ver se vai ser boa mesmo…

  2. Vi agora o episódio e sim, é mais do que o esperado.
    Me surpreendi como tudo se “interconectou” no final.
    A cena do telão, a cena final… Muito boas.

    Faço de suas palavras finais as minhas, Davi. Excelente review!!

  3. Estou surpreso por ter gostado. Tenho um problema sério com séries/filmes que tratam de eventos em cadeia, mas realmente achei que Touch conseguiu tratar do tema de forma bastante satisfatória. Gostei bastante das histórias paralelas, principalmente o muleque que queria um fogão pra família e acho que a série tem bom potencial. Meu único medo é o nome Tim Kring, mas vou acompanhar torcendo para que ele não estrague tudo.

  4. Esqueci de dizer que vibrei quando o Kiefer Sutherland gritou Damn it, hahahaha.

  5. Pode parecer cedo, mais durante o episodio, em dado momento, aquele sentimento de “dude, we are?” voltou,ainda que pouco mais voltou. Adorei de ponta-a-ponta e como voce disse ‘e valido ficar com receio, mas espero que a serie venha e com tudo.
    Otimo Review Davi.

  6. Achei legal a premiere, roteiro bem amarrado.

    Mas acho a proposta bastante ousada. Vai ser difícil manter o nível, e os próximos episódios vão ser decisivos.

  7. 24 revolucionou os dramas de tv aberta, e com a merda de UM episódio essa é a melhor serie do Kiefer Sutherland???

    As vezes vcs se superam

  8. Estou com praticamente as mesmas impressões.

    Excelente piloto, mas fico pensando no tempo que levaram elaborando esse piloto para tudo ficar amarradinho. E daí penso que vai ser difícil conseguiram algo desse nível ou próximo toda semana.

    Mas muito legal. Só quero ver se acostumo com Sutherland sendo paizão ao invés do Bauer.

  9. eu adorei o piloto, a premissa da serie mas nao confio nesse povo p manter o nivel nao. medo de estragarem viu…

    ah, so eu achei a historia mt parecida com filme PRESSAGIO, com nicolas cage. coisa de numeros q preveem acidentes desastres??

  10. Bem pensado.

    Do Presságio vem os poderes mediúnicos-autistas.

    De heroes vem a coisa politicamente correta / globalmente consciente. Que acho interessante não restringir aos EUA.

    Ainda tem um que de Person of Interest, ao invés da “Machine”, o Gurizinho, ao invés de “CPF”, dá um celular.

    Mistura doida :)

  11. Otima serie,perfeito o piloto,tomare que os outros episodios tenham o mesmo desempenho do primeiro,fiquei emocionado no final do episodio

  12. Muito bom esse 1ª episodio, Kiefer sempre nos agrada com uma boa intrepretação, mas e impressão minha ou essa série tem a mesma história do Filme Codigo para o inferno ( Em Português ) com o Bruce Willis ?

  13. Ainda é cedo pra dizer que a série é boa, mas senti a mesma coisa que senti quando vi o piloto de Lost.
    A série me intrigou, estou doida pra assistir o próximo episódio, a muitos caminhos que ela pode tomar, gosto muito quando tudo acaba se amarrando de forma ogânica, como dito no texto.
    Também me lembrei daquele filme antigo com o Bruce Willis e de outro mais recente com o Nicolas Cage.

  14. Eu não vi uma série ai. Sem uma texturização mitológica, o garoto é basicamente “Deus” mandando o pai e a assistente social “ajustar as conexões da semana”.

  15. Luiz Castanheira, o que seria texturização mitológica?

  16. O garoto: “ter limitações” , “não ser o único a fazer o que ele faz” , “ter capturada a sua visão de mundo” etc.

    E em termos de caracterização transforma-lo em um ser humano e não o contrário.

  17. cade o 2 episodio, já fazem dias que lançou o primeiro, quero assistir o segundo episodio.

  18. Piloto aprovado e torçendo por uma série mantenha o padrão.

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