quinta-feira, março 28 2024

Escritor de peças de sucesso, criador de séries queridas pelo público e pela crítica e, mais recentemente, roteirista respeitado no cinema. Não é de hoje que Aaron Sorkin é um dos principais nomes da indústria e sinônimo de qualidade nos textos de suas obras. Por ocasião da estreia da ótima The Newsroom, a HBO promoveu uma pequena entrevista com perguntas do público na qual Sorkin falou sobre a importância de esrever para um canal a cabo, sobre seu método e, claro, sobre as decisões que cercam sua nova série. Imperdível!

O que é mais importante para você: trama ou personagem?

Tudo é importante para mim. Os personagens só se revelam através da trama. Eu não gosto de dizer ao espectador quem o personagem é. Prefiro mostrar o que determinado personagem quer.

Por que você decidiu começar a trama de The Newsroom no ano 2010?

A decisão nasceu do fato de que eu não queria ter que inventar falsas notícias. Escolhi 2010 porque no momento em que tive o estalo de que situaria a série num passado recente, eu estava justamente acompanhando imagens do vazamento de óleo na Deepwater Horizon.

O que você mais gosta de escrever? Diálogos ou monólogos? Eles servem a diferentes propósitos dramáticos na sua opinião?

Amo escrever ambos. Você tem apenas que definir e escolher os momentos em que um discurso será usado. Musicais funcionam melhor quando os personagens precisam cantar, porque falar simplesmente não fará a mágica… Quando você não pode simplesmente dizer, “Ei, acabei de conhecer uma garota chamada Maria e gostei dela”, você precisa cantar. Sob o mesmo raciocínio, um discurso funciona melhor quando o ritmo de uma conversa não funciona tão bem.

Há momentos bem divertidos no Piloto. Você tem algum processo que o leve a definir onde e quando o humor deve ser inserido no drama?

Penso que se você puder contar uma história séria de forma divertida, você estará fazendo um grande favor para si mesmo. Há um tom de comédia romântica em The Newsroom, porque a série é realmente feita para ser assistida enquanto se come uma pipoca. Mas não, eu não tenho uma fórmula. É apenas instinto.

Que episódio da série você está mais empolgado para que o público veja?

A resposta para essa pergunta sempre será a mesma: “o próximo episódio.”

Você sente ter mais liberdade escrevendo uma série para a HBO em vez de uma para a rede aberta?

Sim, mas a melhor parte não é nem a liberdade criativa. Um dos desafios com TV é que historicamente ela tem uma relação muito passiva com sua audiência. As pessoas assistem TV quando estão folheando uma revista, jantando ou falando ao telefone. O público da HBO é acostumado a ver TV como se estivesse assistindo um filme. A outra diferença é que por mais que queiramos muita gente assistindo a série, nos interessamos muito em saber quem a assiste. Com a HBO, você vê os créditos de encerramento e a razão disso ser importante é que você tem a chance de ter aquele momento de reflexão. Nas redes abertas, você pode ter um último momento importante sendo imediatamente cortado para dar espaço a um comercial sem que o que foi mostrado possa ressoar. Quando você tem créditos de encerramento, você permite que a audiência respite e possa experimentar o fim de um episódio.

Quando você está criando uma nova série, quão longe você planeja? Duas temporadas, três, talvez? E uma vez que tenha planejado, você se compromete 100%?

The Newsroom é a primeira série em que eu faço um planejamento. Com as outras séries que fiz, eu meio que voava às cegas. Com The Newsroom eu sabia que arco a temporada teria quando comecei. Há espaço para fazer alguns ajustes ao longo do caminho, mas no geral, a 1ª temporada de The Newsroom é uma história de 10 horas particionada em 3 atos.

Qual a grande diferença entre escrever para a televisão e para uma peça de teatro?

Há duas grandes diferenças. Uma é que na TV (e no cinema) eu posso usar a câmera como um personagem. Posso lentamente focar em algo que vai te dizer que aquilo é importante. No palco eu não tenho como fazer isso. Quando estou escrevendo para a TV, eu faço questão de permitir que o diretor veja o que é interessante. A outra grande diferença é que quando escrevo uma peça e a coisa não vai bem, posso parar e recomeçar. Com uma série de TV, o tempo é mais restrito, o que significa que terei que escrever mesmo quando eu não estiver confortável com o resultado e isso é difícil de engolir. Numa temporada de 10 episódios, um desses episódios acabará sendo o 10º melhor episódio e eu não lido bem com isso.

A série vai continuar lidando com notícias reais ou ela também vai abordar casos fictícios?

Todas as notícias que a série abordará são reais ao passo que os personagens são ficcionais. Eu realmente queria recriar o clima do [filme] Jejum do Amor num cenário baseado em eventos reais.

Até que ponto você tende a mudar um roteiro do rascunho até o final? Você acha que é mais difícil consertar quando ele está finalizado?

Eu gosto muito mais de reescrever do que de escrever. Odeio ter de encarar uma página em branco, prefiro muito mais ter que corrigir um problema. Com The Newsroom tenho tido um pouco mais de tempo, portanto tenho conseguido polir mais o roteiro depois de escrevê-lo.

Você já sabia que notícias usaria antes de escrever cada episódio ou você já tinha um arco  temático e só então selecionou as histórias que se encaixariam?

Não escolhi quando um episódio se passaria baseado numa notícia. Escolhi onde o episódio se passaria  baseado no desenvolvimento de personagem. Eu sabia onde a temporada começaria e onde terminaria. Com isso, a primeira coisa que fizemos foi encher a sala com cada notícia importante que ocorreu na linha de tempo da trama.

Quanto tempo você levou para concluir a ideia do Piloto?

Bem, passei um ano pensando a respeito e levei seis semanas para escrevê-lo.

Você tem as histórias de fundo de todos os personagens mapeadas antes de escrevê-las ou você apenas espera que elas surjam depois?

Não gosto de tomar descisões sobre a biografia dos personagens até o momento em que a história exija isso. Eu sabia o motivo que levou Will e MacKensie a se separarem (algo que o episódio 2 revelará) e porque é tão difícil para ele superar isso que também é algo que o público começará a descobrir em breve.

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