sexta-feira, março 29 2024

Para Roland Emmerich a catástrofe está no patriotismo

White House DownO ritmo oitentista de White House Down (O Ataque) renasce com todos os clichês e dita os passos largos da trama, emula seus vilões (James Woods, imperdível) e expõe seu arsenal de explosões e catástrofes sem intenção de educar. Sobre o patriotismo quase vislumbrado perdido nos olhos de uma jovem, Roland Emmerich (Independence Day; 2012) sobe ao palco para discursar o oportunismo da sua obra. Os filmes hoje estão mais dramáticos, e acompanham assim a sociedade cada vez mais preocupada e menos lógica. Um avião, por exemplo, expõe o caráter étnico em detrimento da segurança nacional. Os fins justificam os meios somente no âmbito dos grandes salões, das grandes cúpulas. Tudo em nome da segurança. Channing Tatum é John Cale, um policial do capitólio que trabalha diretamente com o presidente do congresso. Decidido a impressionar sua filha, que vê no presidente (Jamie Foxx) dos EUA um verdadeiro herói para nação, se candidata a uma vaga no Serviço Secreto, enquanto a Casa Branca é invadida e ele se torna a única esperança para os reféns. O filme conduz sua trama com leveza, sem desmerecer a construção da sua história. Pelo contrário, caminhando do lado da autopreservação. O discurso polido do presidente fantasia com flâmulas históricas dos seus antecessores. Há sempre o embate sobre deixar uma marca que não o coloque nos livros. Afinal, americanos, no país da liberdade ofertada, só querem fazer a diferença sem custos adicionais.

White House Down

Em determinado momento, uma bandeira é levantada. E como se não fosse bastante, uma música dramática compõe a cena diante de câmeras e jornalistas. Referência aos tantos pedidos de paz, quase que perpendicular ao que aconteceu em Pequim em 1989 e foi reproduzido na fotografia de Jeff Widener. Aos poucos o filme se desconstrói em um emaranhado de coincidências que são refinadas e autenticadas pelo roteiro sempre coeso, mas nunca previsível. Engraçado notar que, inusitadamente, o humor é o elemento responsável por reviver clássicos como Máquina Mortífera ou Duro de Matar, filmes que sabiam dosar ação com humor e não se levavam muito a sério no processo. No entanto, falta uma trilha que envolva as grandes cenas de ação, que aqui aparecem periodicamente e sempre interligadas com o imediatismo do roteiro. A trama fica copilada em atos que se repetem sempre que o presidente está em perigo, causando certo desconforto. Note que além do presidente, John Cale tem que salvar a própria filha.

White House Down 3

Sem grande esforço, O Ataque consegue divertir. O apelo ao declínio do gênero surge como um sopro para novas produções, que a exemplo de Invasão à Casa Branca, tentam reviver o horror nacionalista e criticar o poder de fogo de uma nação que justifica a amplitude do seu poderio como medida preventiva. Não é à toa que nas duas produções se discuta a retirada das forças armadas do Oriente.

3star

por Adson Santos, colaborador do Ligado em Série.

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