terça-feira, abril 23 2024

Aos trancos e barrancos, série entra no arco narrativo final da temporada

homeland309

Eu sinceramente espero que Carrie tenha alguma espécie de cartão de fidelidade do hospital, pois em One More Time, nono episódio da temporada, mais uma vez encontramos a loirinha bipolar sob cuidados médicos/presa pela CIA. Por outro lado, acompanhamos a envolvente e dolorosa recuperação de Brody ao mundo e a trama do go-go boy de Mira se encerra de forma descartável. Além disso, Saul, Carrie e a galerinha da CIA botam em andamento um plano audacioso. E Dana reaparece. E assim segue o episódio, inquieto e inconstante.

Sendo claramente o início do ato final da temporada, One More Time encerra algumas subtramas e agrega personagens e situações em algumas outras. Infelizmente isso traz à tona o fato de que os roteiristas da série tem problemas de intimidade, preferindo encerrar o relacionamento com uma subtrama de forma covarde e fácil e que não os obrigue a pensar muito a respeito: o namorico de Mira com Alain Bernard serviu só para que Saul obtivesse uma vantagem sobre o senador Andrew, já que em nenhum momento apareceu de forma orgânica na narrativa, nem ficou claro porque Mira está apaixonada pelo cara e em nenhum momento o espectador conhece ele (e, mais importante, sua conexão com qualquer tipo de contraespionagem jamais é sugerida, erro primário que torna a solução da trama algo completamente aleatório e digno de figurar em um episódio de Scooby-Doo). Pra piorar, Saul jamais realmente se incomodou com os pombinhos, tornando tudo uma grande perda de tempo.

Da mesma forma, Brody, completamente quebrado, viciado, fraco, largado às moscas, deprê como alguém que acaba de assistir a uma maratona de The Big Bang Theory, em vinte minutos já está escalado como titular no timezinho de Fuzileiros que convocaram para tocar o terror no Irã. É sério. Ele vai basicamente de uma gelatina para um coadjuvante de Black Hawk Dawn, e tudo que precisa para que isso aconteça é uma elipse, um lettering e uma montagem óbvia. Reparem que, em resumo, é da sanidade e capacidade dele que depende tudo que todo mundo têm feito na temporada. E One More Time comete o equívoco de simplesmente informar isso ao espectador, em vez de construir a situação, realmente mostrar esse crescimento (falta de tempo não é desculpa, já que só a enrolação dos primeiros episódios já garantiria horas suficiente para tal).

carriebrody

Outra coisa que torna a recuperação de Brody tão forçada é que, paradoxalmente, a queda dele foi muito bem ilustrada. Já háviamos testemunhado seu sofrimento em Tower of David, mas aqui, rapaz, fazem barba, cabelo e bigode: além das alucinações (e é interessante perceber como a morte de Walker ainda o atormenta), dos enquadramentos tortos e dos planos bem fechados – quase claustrofóbicos -, temos uma atuação extremamente sensível por parte de Damian Lewis, que não puxa para o overacting (abraço, Claire Danes!), preferindo adotar um tom choroso e quase infantil que só mostra ainda mais o quanto aquele sujeito regrediu. Tipo, dá para ficar realmente com pena de Brody, e olha que foi ele que botou a Dana no mundo.

Puxando todas as cordinhas, Saul tem se mostrado cada vez mais inteligente e implacável, manipulando tudo até a última ponta (ainda que com motivações – aparentemente – bacanas). O plano que ele bota em prática com a ajuda de Carrie (aliás, é interessante como a marcação de cena no momento em que se encontram no hospital evidenciou de forma simples e eficiente o distanciamento de ambos) consegue reunir boa parte das tramas da temporada – sejam as bem feitas, como o sofrimento de Brody, ou as mal feitas, como Saul ter “prendido” Carrie no hospital – e alinhar elas em uma direção assaz promissora. Nessa parte Homeland está voltando à boa forma, criando tramas envolventes que unem planejamento político (Javadi em uma posição privilegiada pode facilitar a comunicação EUA-Irã), estratégico (fazer Javadi jogar no mesmo time que os ianques), militar (assassinar Akbari, fornecer apoio tático, ajudar Brody no momento “sebo nas canelas”) e diversos outros elementos que se espera de uma agência de inteligência.

Infelizmente isso não encontra respaldo na parte da série que diz respeito aos relacionamentos, pois mais uma vez Homeland apela para o básico do básico – troca de olhares piegas entre Brody e Carrie – ou a tentativa de criar uma catarse emocional com a Dana brigando com o pai, pois até aqui ela meio que brigou com todo mundo (mãe, namorado, se bobear até com os roteiristas) justamente em busca de algum momento dramático mais intenso. O que só faz a cena entre ela e Brody soar repetitiva (porque o público haveria de dar importância às reclamaçoes de uma personagem que só reclamou o tempo todo? É comum. É o status quo), estéril de qualquer emoção, apesar da já citada boa atuação de Damian Lewis. Resta esperar que, nos três próximos episódios da temporada, possamos ver mais sobre o plano no Irã e menos sobre relações datadas que seguem de forma burocrática a cartilha de relações hollywoodianas.

2star

Deixe um comentário