quinta-feira, abril 18 2024

thegoodwife

Há pouco tempo, os spoilers vinham de sites e colunas que inadvertidamente soltavam informações de episódios recém-exibidos sem avisar em críticas ou notícias, seja em troca de pageviews ou sem querer (querendo). Hoje, contudo, há um consenso básico na relação entre crítico-leitor de que spoilers devem ser pré-avisados, já que necessariamente nem todo mundo vê uma série ou filme na estreia.

Eu sei disso, você sabe disso e os canais que estão perdendo mais e espectadores para o streaming onlinedownload digital (mesmo o pago), DVR etc. sabem muito bem disso. Está começando a surgir de forma descarada uma nova e cruel forma de trazer de volta a audiência para a frente da TV no horário marcado: ameaçando-o com spoilers. Ora, se funciona até numa sala de aula, por que não funcionaria com o público migrante para as outras mídias, certo?

[Aviso: os links conterão o spoiler de The Good Wife] Esta semana a série The Good Wife trouxe um grande acontecimento, que hoje sabemos ter sido guardado em segredo por mais de um ano (não falarei aqui qual é, claro). Diante disso, a estratégia da CBS, canal que exibe a produção lá fora, foi pra lá de controversa. No último domingo, logo após o tal evento, vários críticos e colunistas norte-americanos que costumam ter acesso a capítulos antes da exibição, demonstraram a reação choque e (a maioria deles) manteve respeito com seus leitores e seguidores.

Mas o canal e a própria série não tiveram este mesmo cuidado. Talvez numa tentativa de fazer barulho, o acontecimento foi inadivertida e exaustivamente repercutido pelo próprio site da emissora, pelos perfis oficiais da série nas redes sociais [Twitter dos roteiristas, Twitter da série, Facebook] e até mesmo por outros programas de alcance nacional, como o Late Show with David Letterman. Os roteiristas soltaram uma carta pública aos fãs comentando o evento sem nenhuma cerimônia. Vídeos do canal da série no YouTube – que andava bem desatualizado – pipocaram mostrando tudo que aconteceu, em mais de um clipe.

E isso tudo em apenas algumas horas da exibição; não estamos falando do sujeito que reclama, em 2014, de um spoiler do fim de LOST ou Sopranos de 10 anos atrás. Releases foram enviados e, a partir daí, a imprensa geral começou a replicar a informação de forma descontrolada, expondo o acontecimento em suas manchetes e em textos analíticos. O espectador que gravou, que esperou um dia ou até mesmo aquele que iria comprar a série em DVD ou os episódios avulsos no iTunes não foi levado em consideração, mesmo sendo parte do sistema que avalia audiência. Você, provavelmente, já tomou o spoiler na cara. Esse e outros.

Mas por que? Por que os canais lá fora estão desesperados pelo chamado “público ao vivo”. Ora, quem grava ou baixa pode pular comerciais ou sequer assistí-los. E mesmo com a renda de download digital, streaming em sites como Hulu e Netflix e venda de discos físicos, os canais norte-americanos da TV aberta se reportam única e exclusivamente a anunciantes e estes querem o espectador sentado na cadeira pontualmente. Ou isso ou você acorda no dia seguinte sabendo tudo o que aconteceu e mais um pouco.

Esse, anotem, será o padrão da TV norte-americana que irá se intensificar daqui pra frente.

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