quarta-feira, abril 24 2024

Esta não é uma crítica sobre a adaptação dos livros para a série, é apenas do episódio em si.

O season finale da quarta temporada de Game of Thrones foi especial. Dessa vez, não tivemos um encerramento mais dedicado a posicionar os personagens no mapa e na trama, deixando para o episódio anterior os acontecimentos mais chocantes. Não vou dizer que a série deixou o melhor para o final – pois é difícil afirmar isso sobre uma temporada em que tivemos a morte de Joffrey já no segundo episódio, o discurso de Tyrion em seu julgamento e a luta entre Oberyn e a Montanha, além de outras coisas –, mas foi um season finale que mexeu seriamente nas estruturas do jogo político e no destino da série. Também foi um episódio com um ótimo ritmo, em que tivemos pouco tempo para respirar.

Foi bem interessante a forma que o episódio iniciou, retomando o final do anterior, com Jon Snow saindo pelo túnel sob a Muralha. Isso dá uma noção de continuidade que não costumamos ter muito em Game of Thrones, que tem uma estrutura mais fragmentada para acompanhar os diversos arcos. Jon vai então negociar com Mance Rayder (e brindar aos que pereceram em batalha, o que rendeu bons diálogos) e ficamos roendo as unhas quando a situação complicou para ele. Mas tropas se aproximam, e Stannis e Davos chegam ao norte, dando fim ao conflito entre Jon e Mance. Sim, foi um deus ex machina, mas também foi uma forma de passar para a próxima fase no Castelo Negro e na Muralha, mantendo mais uma vez essa sensação de continuidade.

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O encerramento desta temporada, que contou com tantas mortes importantes, ter se dado com Arya entregando a moeda do homem sem rosto e recitando “valar morghulis” representa não apenas essas mortes físicas, mas também as simbólicas que estiveram presentes durante toda a temporada, transformando diversos personagens, apresentando a eles duras realidades que os fizeram crescer, evoluir ou apenas se transformar.

Daenerys pode não ter tido seus melhores momentos durante esta temporada (e chega de incluir todos os nomes pelos quais ela é conhecida antes de cada cena dela, não é mesmo?), mas no season finale aprendeu que nem todos querem ser livres e também, de forma dura, que dragões são dragões, estão fora do seu controle e oferecem um grande perigo para os outros. Isso a levou à triste decisão de acorrentá-los nas catacumbas, deixando muitos de nós sofrendo com ela enquanto dá as costas a seus “filhos”.

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Já Bran e cia. finalmente chegam a seu destino. Fi-nal-men-te. Confesso que andava bem cansada com esse arco. Saber que essa missão chegou ao fim me deu um grande alívio, e até para a série vai ser melhor que este núcleo inicie uma nova fase, sem mais a busca pelo corvo de três olhos. O ponto alto foi a horda de esqueletos que vão saindo da neve, criando uma boa sequência de ação que envolveu Hodor sendo guiado para a luta através dos poderes de warg de Bran e culminou no surgimento de uma das crianças que dão nome ao episódio. Por fim, o corvo de três olhos (por enquanto na forma humana) é revelado em um cenário digno de True Detective e deixa um gancho para o papel que Bran ainda pode desempenhar nessa história.

Acredito que o mais tenso momento do episódio foi a luta entre Brienne e o Cão de Caça. A sequência começou com um encontro entre Brienne e Arya, rendendo belos diálogos entre as duas “meninas” com mais apreço pela luta e espadas do que para os grandes salões. Enquanto isso, também ficamos experimentando uma grande ansiedade para que algo revelasse que aquela menina era Arya, uma das Stark que Brienne tanto procurava, e o clima de tensão foi muito bem construído pelo diretor Alex Graves. Mas quando a revelação aconteceu, resultou em uma feroz luta entre Cão de Caça e Brienne. Além de ter sido muito bem produzida, coreografada e interpretada pelos dois atores, a luta teve um belo cenário como pano de fundo. Mas que confusão para nossas cabeças: como decidir para quem torcer? Brienne é uma personagem muito querida pelos fãs e guiada pela honra e lealdade, já Cão de Caça é capaz de atos terríveis e covardes (como agredir e assaltar quem acabou de lhe dar comida e abrigo), mas tem uma relação tão interessante com Arya, e que expressa algum nível de bruta afetividade, que também não queremos vê-lo saindo da série.

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No fim, é Brienne quem leva a melhor, e isso resultou em mais uma cena digna de reconhecimento a Maisie Williams, que chegou ao ápice da frieza ao deixar Cão de Caça para morrer dolorosamente, apesar de suas súplicas para que o matasse. Ao longo da temporada, vários momentos da evolução de Arya enquanto personagem foram sendo pontuados, mas certamente este foi o mais significativo. Não é só um nome que foi riscado da sua lista, é um relacionamento que tem fim, assim como sua posição como refém, “filha” e dependente. Arya está pronta para partir sozinha e iniciar uma nova jornada, rumo a Braavos. E ao som da épica trilha composta por Ramin Djawadi, que vocês podem escutar novamente abaixo.

Mas o arco que abala todas as estruturas do episódio é evidentemente o de Tyrion. Libertado pelo irmão (a despedida entre os dois já entrou para os melhores momentos da série), resolve, mais uma vez, agir movido pela emoção. O Tyrion inteligente e estrategista não tem mais lugar em King’s Landing, só resta se transformar no tal mostro que o acusam de ser. Após matar Shae (e é importante ressaltar que os acordes de Rains of Castamere são rapidamente ouvidos ao fundo), Tyrion enxerga a besta que era de Joffrey (e mais uma vez os acordes da simbólica música tocam) e sai em busca do pai. Um diálogo tenso tem lugar, em que o patriarca tenta mais uma vez manipular o filho, mas Tyrion mata o pai da forma mais humilhante possível.

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Sim, tivemos aquele momento de catarse por Tyrion finalmente dar um basta e voltar contra o pai todo o ódio que recebeu. Mas só consigo pensar em que grande perda será para Game of Thrones não contar mais com as grandes atuações de Charles Dance. Além disso, se agora o verdadeiro Lannister que comandava Westeros está morto, quem irá de fato governar nos bastidores? Ironicamente, seria justamente Tyrion o mais preparado, mas ele partiu, tendo Varys como companhia.

Muitas questões ficam para a próxima temporada. A única certeza é que vai ser uma longa espera até 2015.

Últimas considerações:

– foi uma bela cena a troca de olhares entre Jon e Melisandre, mas que real interesse ela terá em Jon?

– digna de nota a fotografia no momento em que Jon se despede de Ygritte, quando a câmera filma seu corpo de cima na pira.

– o que significa que Montanha pode ficar diferente? Estão imaginando o mesmo que eu? ;-)

4star

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