sexta-feira, março 29 2024

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[com spoilers do episódio 1×04] Mesmo após um início capenga, Extant parece que vai continuar apostando que ter um mistério no plot é o suficiente para atrair o público: embora melhore ligeiramente em um ou outro aspecto, este Shelter parece ter sido escrito como uma resposta a uma questão discursiva de uma prova de colégio, já que enrola bastante só para ocupar todo o espaço. O resultado é que o episódio começa e termina falando do tal mistério, mas fica devanenando durante esse meio tempo, dando a impressão de que a função dele é apenas ser um gancho de quarenta minutos para o que vem a seguir.

Até porque Shelter mantém um dos problemas recorrentes na série, que é estabelecer personagens pelas convenções, e não pela história. Assim, Yasumoto é um bilionário inescrupuloso e insensível porque vários filmes e séries usam esse artifício, então deve estar certo, né? Seja lá qual for a misteriosa motivação do sujeito, Extant não poupa esforços para torná-lo o mais cartunesco possível, incluindo aí pedir que um pesquisador seu se exponha a um perigo potencialmente fatal apenas para tatuar “vilão” na sua testa (claro que alguém com o tempo limitado de vida pode se dar ao luxo de perder um de seus principais pesquisadores). Da mesma forma, assim que o alcoolismo do pai de Molly é mencionado sabemos que ele vai estragar alguma coisa em algum momento importante, só para alguém perguntar acusadoramente “você bebeu, né?” – e, quando finalmente acontece, o mais impressionante não é a previsibilidade, e sim como a explosão de Quinn com Ethan surge forçada o suficiente para que alguém possa fazer um B.O. de arrombamento e invasão.

extant shelter

Se bem que a credibilidade das personagens e situações não está exatamente no topo das prioridades de Extant. Digo, temos um sujeito que construiu sua própria versão do Haley Joel Osment em A.I. e uma astronauta que sobreviveu sozinha no espaço por mais de um ano e, quando precisam fugir de uma organização incrivelmente poderosa, o melhor plano é fugir para a casa do pai dela? Por acaso eles têm doze anos de idade? Diabos, qualquer pessoa com um Google Maps encontraria eles facilmente. Claro, isso nem é uma decisão tão absurda considerando que, mais tarde, eles resolveram se separar de noite para procurar Ethan mesmo com a tal organização poderosa fungando no cangote do pessoal – o que, considerando os acontecimentos subsequentes, foi realmente a pior decisão da série (quiçá do ano). Assim, Shelter mantém a irritante mania de obrigar suas personagens se adaptarem a decisões que o roteiro precisa, fazendo com que elas não tenham personalidade, e, dessa forma, aniquilando qualquer empatia ou identificação por parte do público.

Ao menos o elenco melhorou. Há um pouco mais de química entre o casal e Ethan, e se torna possível até mesmo aceitar que o final não seja uma reviravolta dizendo que são todos robôs. E, embora falhe miseravalmente como um episódio focado em personagens, Shelter consegue tornar a Molly um pouquinho mais humana ao mostrar a moça dividindo experiências de infância com o filhote e ficando frustrada com o pai. Além disso, o mistério se torna mais intrigante com a introdução de um quindim líquido proveniente de um meteoro e da aparente telecinésia que Molly (ou o que está na barriga dela) possui, tornando o gancho no final eficiente porque realmente promete grandes revelações para o episódio seguinte. A única questão é que, se Extant não responder bem essas questões (ou simplesmente não responder), sobra muito pouco no qual a série pode se apoiar.

2star

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