quinta-feira, abril 18 2024

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Eu nunca diria que The Last Ship é a próxima LOST, porque não é. LOST é LOST.

Jack Bender chegou para a nossa entrevista sobre The Last Ship no México e foi direto ao ponto. Simpático, amigável e conversador, ele – que dirigiu os  melhores episódios de LOST – iniciou a conversa evitando comparações entre o sucesso da ABC e a nova empreitada de Michael Bay que é exibida toda segunda às 23:20 na TNT. “Tudo é diferente, e por isso deve-se evitar comparações. Cada série que eu procuro fazer tem que ter uma história diferente. LOST foi a série certa na hora certa para capturar a imaginação do mundo e, especialmente, de pessoas bem inteligentes que conheci ao redor do planeta e que a cultuavam. Existem muitas outras histórias que valem a pena ser assistidas e eu acredito que The Last Ship é uma delas”

Nós perguntamos a ele, então, o que ele aprendeu com as produções que dirigiu como AliasThe Sopranos e a própria LOST e o que trouxe a The Last Ship: “Eu tento levar tudo de melhor que eu tenho quando eu tenho que entrar num novo projeto. E espero que esta seja uma série que tenha algo a dizer ao mundo, especialmente num momento difícil como o que estamos vivendo”. Assim como o protagonista da série Eric Dane nos disse, Bender também crê que as produções artísticas tendem a retratar o momento, anseios e os medos da sociedade. O assunto do vírus era inevitável na semana em que a epidemia de Ebola fugiu do controle na África e The Last Ship fala justamente sobre isso: um navio que carrega a última esperança da humanidade, após ser praticamente dizimada por um vírus.

Daí, passamos a falar do cenário da TV mundial.

A TV antes era vista como a filha bastarda, mas hoje é almejada por atores, diretores e autores como um meio viável e excitante para contar suas histórias.

Séries tem um grande impacto no público porque é o meio e a mensagem juntos. Muitos autores estão pretensos a querer escrever uma história maior, como se fosse um livro cheio de conteúdo e não necessariamente um filme. Até Stephen King disse que com Under the Dome, livro que derivou a série homônima, ele recebeu muitas críticas pelo final. Com a série, agora, ele pode ir além. Stephen  me contou que no livro ele tinha que terminar a história uma hora, mas na série não.” Bender comentou também o fato de The Last Ship ter menos episódios em comparação a outras produções e como ele reage a isso:

É ótimo ter menos episódios, pois permite você a contar uma boa história em 10 ou 12 episódios mantendo o foco. Ainda bem que não são mais em 22.

E ele completou, falando sobre as possibilidades que as séries de TV abrem: “Os realizadores tem mais tempo para explorar as séries e enveredar em diferentes caminhos autorais quando você é um dos realizadores ou roteiristas. E é isso que eu acho que as séries trazem: narrativas mais pessoais, únicas e inimistas. Atualmente estou desenvolvendo algo novo com Stephen King, a adaptação do livro Mr. Mercedes em uma minissérie, pois o livro funciona bem com uma história fechada.”

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Em 2012, no RioContentMarket, nós já havíamos encontrado com Bender. Na ocasião ele comentou sobre a necessidade de se achar a “verdade” em cada história, independente de qual seja: “Eu disse isso? Parece muito inteligente para o meu gosto, mas concordo. Eu acho que é uma grande sorte achar algo “verdadeiro” em determinadas produções. Todo mundo quer contar histórias que ressonem, que possuam aquela ‘luz no fim do túnel’ e é muito bom quando uma série traz isso para as pessoas. Eu acho que existe um número limitado de histórias para contar. As pessoas usam diferentes figurinos em épocas diferentes e é isso. LOST poderia ser sobre um monte de gente que morava num bairro misterioso e ainda assim teria sido similar. Pareceria diferente, mas a verdade por trás de tudo seria similar: ‘como sobrevivemos no mundo?’

Sobre The Last Ship, o diretor acha que o tema também veio na hora certa, especialmente nos EUA pós-11 de setembro, porque “de repente todos nós americanos estamos ‘Oh, meu Deus, isso pode acontecer aqui’. A verdade de The Last Ship é também sobre sobrevivência e como sobrevivemos. Acho que isso se relaciona com o mundo de hoje. Além disso, é um entretenimento explosivo! Como diretor/produtor eu nunca havia feito uma série militar.” 

Odeio navios

“É um mundo do qual eu não conhecia, por se tratar do militarismo envolvido. Eu estava muito cético. Odeio navios, fico enjoado. Como eles me quiseram para essa série? Eu sou um rebelde dos anos 70, então lidar com marinha e autoritarismo foi desafiador. Disseram que quando eu estivesse à bordo eu teria que pedir para ir ao banheiro, para descer o deck, subir o deck e eu achei que eu ia ficar louco para gravar dez dias assim, mas tudo não podia ter sido melhor. As pessoas eram ótimas e respeitosas, então aprendi muito sobre isso e sobre o meu comportamento nesse tipo de ambiente.

Sobre a sua carreira, ele destacou como acabou se tornando errática a sua trajetória: “É engraçado, pois comecei como o ‘diretor sensível’, que fazia séries sobre os personagens e crianças… E agora eu sou o ‘diretor da ação’ depois que fiz AliasThe Sopranos e LOST, então a gente recebe diferentes rótulos ao longo carreira. Mas nunca fiz uma série como essa e no fim eu me importava com o que eu estava fazendo.”

Rapidamente o assunto se voltou para o Brasil e como ele está querendo retornar ao país desde 2012. “É um lugar incrível. Tenho muitos amigos lá“.  Inevitável para nós, então, mencionar Rodrigo Santoro, que já trabalhou em LOST e agora vai estar na nova série de J.J. Abrams, Westworld:

Rodrigo Santoro, que cara fenomenal! E a gente acabou matando ele em LOST. Bem, eles [Carlton Cuse e Damon Lindelof] nunca escreveram bem o personagem dele direito. E eles admitiram isso! Santoro é um cara bem legal.

jackbender02Pra terminar, Bender contou como lida com a sua veia artística aflorada: “Pintar, esculpir e ser criativo é o que eu sou. Eu sempre tenho que criar algo, isso me faz bem. E isso ouvindo de Bob Dylan, Joni Mitchell às ótimas bandas contemporâneas que temos hoje. Tenho também alguns livros saindo que combinam a minha arte com narrativas. ‘Aquele que não está ocupado nascendo está ocupado morrendo’, disse Dylan e esse é o lema da minha vida. Temos que ter algo toda manhã pra acordar e fazer. Pra alguns pode ser fazer arranjos de flores, para outros é ajudar as pessoas, mas pra mim é ser criativo e criar coisas. Muita gente abriu as portas pra mim, mas eu também trabalhei duro para que essas portas fossem abertas.”

Todo dia é uma luta para conseguir acertar e conseguir ser o melhor artista que você pode ser. Se eu não estiver sendo criativo, eu não estarei vivo.

Namaste, Jack Bender! Foi ótimo o papo!

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