quinta-feira, março 28 2024

extant107

[com spoilers do episódio 1×07] More in Heaven and Earth consegue chicotear a história para a frente e coloca suas personagens em posições interessantes, além de aumentar o mistério em torno do rompante de inteligência de Ethan. Entretanto, e como aconteceu outras vezes, o episódio é completamente estéril de qualquer carga dramática ou construção de clímax, surgindo mais como um “melhores momentos” do que a história deveria ter sido que como uma narrativa propriamente dita.

Mas vamos por partes, como diria um filme passando na TV aberta. More in Heaven and Earth cumpre seu papel ao colocar Molly investigando o sequestro intra-uterino de forma determinada, sem ficar de draminha para cá ou desculpinha para lá (tudo bem que não é tanto “investigar” quanto “pesquisar no Google do futuro”, mas ok). A série saiu da zona de conforto e decidiu complicar as coisas para suas personagens, e a conversa entre Molly e Sparks troca o “pisar em ovos” que era a relação de ambos por algo mais direto e brutal: não há mais como fingirem que estão do mesmo lado (e a astronauta/Ripley wannabe mostra bastante inteligência ao provocar o diretor para que o sujeito a leve até o esconderijo, ao invés de tentar desvendar tudo no bate-papo).

Ethan também se torna cada vez mais imprevisível, subitamente aprendendo a andar de bicicleta e a falar japonês (elenquei do mais ao menos difícil) – o que, além de tornar o garoto um grande ponto de interrogação eletrônico, solta algumas migalhas de questionamentos e filosofia sobre a tecnologia, livre-arbítrio, humanidade e outras coisas legais (claro, Extant não confia na inteligência do espectador e faz questão de deixar tudo bem claro em um insano diálogo expositivo durante um jantar). E, ainda que tenha sido um pouco aleatória a aparição de Odin, é interessante ver a série expandir seu universo para abrigar um movimento anti-tecnologia que, pelo viés da conversa, parece querer adotar a Escola Terrorista de Dar Opiniões.

Pena que More in Heaven and Earth não se preocupe muito com a antecipação dramática das situações, simplesmente atirando no ar algumas cenas como se elas fossem pipoca e o público fosse um grupo de pombas em um parque. Assim, a visita da mãe de Gordon e a subsequente conversa sobre o pai dele soam extremamente gratuitos, sem nada que tivesse indicado isso anteriormente. Tipo, dá para perceber que a função da cena é justificar a “mudança de lado” do sujeito, mas ela sozinha é muito pouco e muito súbita para isso. O mesmo com a invasão de Molly (ela aparentemente entra na casa de Sparks sem esforço nenhum), a janta com Yasumoto (que não parece ter grandes funções na trama) e a fuga da protagonista e Gordon diante de dezenas de meganhas armados até os dentes – uma sequência coreografada e editada de forma tão preguiçosa, tão desinteressada, tão de qualquer jeito que dá vontade de atirar com um revólver na TV só para ver se aquilo ganha um pouco de emoção. Extant parece mostrar que sabe onde quer chegar, mas a impressão geral é a de que ainda não decidiu muito bem por qual caminho.

3star

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