quinta-feira, abril 25 2024

Por Davi Garcia

[com spoilers do episódios 2×01/02] Eu não sei em que momento do 1º ano de The Killing criou-se a expectativa de que o mistério por trás do assassinato de Rosie Larsen seria desvendado com o fim da temporada. Afinal, considerando que a proposta da série é justamente aproximar a narrativa do que seria a investigação real de um crime hediondo de grande repercussão na mídia (explorando a evolução das descobertas dia após dia e principalmente todos os progressos e retrocessos inerentes a um caso high profile), é complicado entender a motivação por trás daquela polêmica que sucedeu o desfecho do ano de estreia. Talvez seja culpa da influência de séries policias fast food (olá CSIs e afins) que resolvem crimes aparentemente complexos em questão de minutos, mas seja lá como for, isso já não tem mais importância porque o fato é que The Killing voltou arrebentando com tudo que a série faz de melhor: equilbrar tensão, suspense, reviravoltas isoladas, expectativas subvertidas e personagens sempre mais complexos do que uma 1ª impressão pode indicar, de um jeito absolutamente envolvente, convincente e diferente de tudo que o gênero oferece atualmente.

Retomando a história a partir do 14º dia da investigação (sim, apenas 2 semanas se passaram desde o assassinato de Rosie), a 2ª temporada de The Killing começa mostrando Sarah Linden encarando o turbilhão de dúvidas surgidas a partir da informação de que a foto (dada por Holden) que incriminaria Richmond era realmente falsa. Dali em diante, a mulher de físico frágil e de semblante carregado que conhecemos – aliás, aqui vale destacar mais uma vez a competência de Mireille Enos para personificar alguém que parece sempre carregar o mundo nas costas -, se vê consumida pela paranóia de não saber em quem confiar à medida em que descobre elementos que apontam para o envolvimento de membros da própria polícia de Seattle e da alta cúpula da política local na conspiração.

Assim, ainda que os eventos do episódio duplo (Reflections / My Lucky Day), possam sugerir um membro do comitê de Lesley Adams (o oponente de Richmond na campanha eleitoral) como o principal arquiteto do esquema, não dá para ignorar o fato de que em The Killing as coisas geralmente não são exatamente o que parecem. Uma noção que fica clara a partir do momento em que Richmond passa a ser desvinculado do crime (graças a uma descoberta de Sarah) e principalmente por conta da revelação de que as estúpidas ações de Holden foram motivadas tão somente por conta de uma promessa de promoção caso ele fizesse parte do esquema que direcionasse a investigação para Richmond (o que, aliás, também explica seus esforços semi desesperados para manipular Belko e convencê-lo de que ele ‘pegou’ o cara certo).

E se essa excelente premiere deixa a evidência de que Benjamin Abani, chefe do comitê de Adams, tem envolvimento direto com a conspiração como nos mostra a cena em que ele se encontra com Gil Sloane (o ex-policial que era padrinho de Holden e o recrutou), será que dá para considerar que a pessoa que fotografa Sarah de longe, também naquela cena, é a mesma tentando expor toda a armação ao promover uma tortura psicológica (indireta?) com a já destroçada família Larsen? É provável, não? Enfim, sejam lá quais forem as respostas, uma coisa é certa: The Killing continua incomparável na arte de complicar (no bom sentido) sua trama criando perguntas instigantes que só fazem expandir o suspense em torno de sua narrativa. Tem como não ser fã?

Outras Observações:

– Além de Mireille Enos, outro ator que sempre merece reconhecimento por seu trabalho na série é Brent Sexton que transforma Stan Larsen num homem atormentado vivendo no limite extremo da sanidade e do equilíbrio, algo que sua respiração ofegante em vários momentos denota. O mesmo também pode ser dito sobre Michelle Forbes (Mitch Larsen) que no entanto não apareceu nessa premiere.

– Notaram que Sofie Gråbøl, a atriz que faz a Sarah em Forbrydelsen (a versão original de The Killing) teve participação especial nessa premiere fazendo a promotora que retira o pedido de prisão contra Richmond?

– Aliás, não deixa de ser curiosa a reação de Richmond ao ouvir de Sarah que ela sabia o que ele havia tentado fazer na noite em que Rosie foi morta. Com uma acusação de assassinato nas costas, e sua integridade física comprometida, ver a notícia de que ele tentara se suicidar chegar a público deveria ser a última das suas preocupações, não? Hum…

16 comments

  1. acho que todos ficaram na expectativa da descoberta do assassino nao foi por conta de CSI da vida e sim pq na VERSAO ORIGINAL O CASO FOI SOLUCIONADO NA 1 SEASON. La cada season é um caso a parte.

  2. E o fato da 1a temporada da original ter 7 episódios (dias) a mais que a da versão americana não conta, né? Ah, tá…

  3. Não acredito que o fato de o assassino da Rosie não ter sido revelado no final da primeira temporada tenha causado todo a “revolta e indignação” dos telespectadores. No meu caso, tive a sensação de ter a inteligência subjugada no desfecho final da temporada, com a revelação de que o Holder foi corrupto e passou uma informação falsa para Sarah. Isso logo apos terem nos mostrado um Holder todo arrependido e tentando se regenerar. E aquela reação de culpa do Richmond? E os e-mails?
    Sinceramente, pareceu um artifício amador e desesperado para conseguir audiência para a 2º temporada.

  4. The Killing é um jogo de xadrez total.Cada movimento calculado.
    Não concordo sobre estas teses de audiência até pq faz 1 ano atras.
    Lógico q se compara demais a versão original com a americana(pelo menos por aqui),mas creio que os desdobramentos estão sendo bem feitos.Excelente Davi

  5. Eu concordo com tudo. Pra mim, The Killing foi a melhor estreia do ano passado (até chegarmos a Homeland). Mesmo com aquele final controverso. Entretanto, eu temia que a série transformasse Holden em vilãozinho, e fico muito feliz com esse episódio de retorno.
    Não sei se você vê a série em 5.1, mas ela é das que mais proporcionam uma imersão naquele mundo. A edição de som e a mixagem são muito boas. Eu adoro todo esse climão tenso. Eu adoro The Killing.
    Abraço

  6. Finalmente uma opinião sensata sobre essa suposta “enrolação” dos roteiristas de revelar o assassino. Excelente texto, Davi!

  7. Richmond não se sentiu culpado. Sua preocupação era que seus encontros com garotas de programa vazassem, já que ficou claro que ele saía mesmo com garotas de programa e, inclusive, agrediu uma delas. Não creio que nada disso tenha sido enrolação. Vai dizer que todo o caso envolvendo o professor na 1a temporada também foi apenas pra enrolar o telespectador? Tudo faz parte do ótimo desenvolvimento dos personagens que, acima de tudo, é usado para criar suspense.

  8. Essa estreia da segunda temporada de The Killing mostra que não teve nada de enrolação na season finale. A história simplesmente foi cortada no meio, e essa estreia foi uma continuação direta do ponto onde paramos, eles nem perderam tempo tentando situar o telespectador novato sobre o que aconteceu na temporada passada. Repararam que até as mãos do Stan continuam com os machucados provocados quando ele surrou o professor?

    E a galera precisa lembrar que nada em The Killing é preto ou branco apenas. Não é porque o Richmond saia com garotas de programa, como bem citou o Daniel logo acima, que necessariamente ele é o assassino. Cada personagem tem sua história individual, seja ela direta ou indiretamente ligada ao assassinato. Eu acho que é isso que irritou tanta gente, uma parte do público esperava algo mais fácil de ser mastigado e por isso se frustrou quando viu que ainda tinha muito a ser desvendado. Por mais que a tv a cabo lá faça trabalhos bem melhores que a aberta e que o público da tv a cabo também pareça mais disposto a ser desafiado, ainda assim não é sempre que dá pra agradar.

    The Killing foi uma das melhores coisas de 2011 e se essa segunda temporada continuar no mesmo nível desses dois primeiros episódios, será uma das melhores coisas de 2012 também. E a produtora da série andou dizendo que entraria um caso novo nessa temporada, mas honestamente, acho que a investigação da morte da Rosie dá assunto pra temporada inteira e ainda vai sobrar.

  9. A Sarah Linden sorriu mais nesse episodio do que na 1ª temporada inteira

  10. Adorei a volta da série. Nunca me incomodou que o assassino não foi revelado na 1ª temporada. Se tivesse, dependendo do desfecho, as pessoas ficariam putas do mesmo jeito e ainda haveria chances do suposto caso novo não atender as expectativas do ano interior. Então,assim está ótimo, mas espero que seja resolvido nessa temporada.

  11. Ótima review. Não consigo entender a agonia desse povo em só pensar no assassino da Rosie, se o conceito da série é mostrar pessoas e as complexidades que as rodeiam. Acho que anos de CSI e afins geraram esse imediatismo, como se realmente todo crime fosse resolvido rapidíssimo em laboratórios de última geração. Adoro o clima sombrio, a angústia que qualquer aparição da família Larsen provoca, a expressão – como bem disse você – de carregar o mundo sobre os ombros da Sarah. Aliás, a Sarah é uma das minhas motivações pra ter gostado da série desde o primeiro capítulo. A segunda temporada começou maravilhosa, e como citado em outro comentário, que grande alívio não transformarem o Holden num traidor qualquer. Até porque seria um clichê fácil demais, e por mais que para alguns fãs de coisas mastigadas possa de início parecer, clichê é tudo o que The Killing não é.

  12. Assisti a primeira temporada inteira em3 dias, alguns meses após seu season finale. Fiquei curiosíssimo se teriam peito pra solucionar o caso e acabar a série, por vontade própria, na temporada de estreia. Que bom que não rolou. E de certa forma, solucionar o caso é abandonar o drama de uma família que pode render muito ainda.

  13. Ah, outra coisa. Essa narrativa de um dia por episódio é fantástica. Me lembrou 24H. É ousado, não sei por quanto tempo eles vão conseguir dar consistência à série com esse tipo de narrativa.

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