quinta-feira, março 28 2024

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[com spoilers do episódio 4×09] Não sei o que estão dando para os roteiristas de Homeland beberem, mas espero que o abastecimento se mantenha contínuo até o final dessa temporada (e em toda a quinta), uma vez que está funcionando como uma relógio suíço patologicamente obcecado com pontualidade. E, caso seja alguma substância ilícita, eles podem usar o 4×08 e 4×09 como defesa jurídica, pois nenhum júri do mundo os condenaria. Afinal, este There’s Something Else Going On dá continuidade ao desconcertante Halfway of a Donut com eficiência, atirando toneladas de tensão e drama na cara do público sem piedade nenhuma.

O episódio já começa mostrando os resultados de Carrie ter agido como GPS: os prisioneiros estão sendo preparados para a troca. Mas a agente da CIA, informada de que Dennis é o traidor, incia o processo de bullying em cima do sujeito para que ele despeje alguma outra informação relevante. Ou seja, são cinquenta minutos de conflito, somente conflito, nada mais do que conflito. O primeiro-embaixador tenta se esquivar, procura não ceder às ameaças – o que torna a situação mais crível e intensa -, e as estratégias utilizadas por Carrie são elaboradas o suficiente para atestar a inteligência da moça (utilizar a embaixadora, por exemplo). Além disso, There’s Something Eles Going On vai construindo a disputa aos poucos (primeiro John tenta sutilmente. Depois eles tentam pegar uma ligação. Depois Carrie chega chutando a porta e o balde), e, conforme o relógio vai desdenhando da turma da CIA, conforme a urgência vai abrindo a porta e pegando algo na geladeira para comer, a situação ganha uma carga dramática absurda e leva a um bate-boca descontrolado – onde Carrie dispara (e “dispara” é a palavra certa) uma das melhores falas da temporada (“você é um traidor e eu sou a porra da CIA“).

Mas a grande estrela da noite é a substituição de Saul por cinco barbudos fazendo cosplay de Orange is the New Black. Mesmo em cenas não diretamente ligadas à trama o evento para estar ao redor, circulando, só esperando a hora de despencar. There’s Something Going On cria a expectativa com cuidado, mostrando a movimentação dos prisioneiros e de Saul – e consegue usar pequenos detalhes, como um garoto vestindo um colete bomba ou Carrie descobrir que Aasar havia ficado de fora da operação, para informar ao espectador a imprevisibilidade do que está para acontecer. O resultado são mais de dez minutos de uma sequência incrivelmente tensa, onde a geografia do local é prontamente estabelecida (sabemos sempre em que lugar as coisas estão acontecendo) e a excelente montagem estica ao máximo possível o tempo da troca, utilizando planos aparentemente simples (alguém olhando pelo binóculo, um soldado com uma arma, etc) para bombear mais suspense e transformar o estômago do público em um tijolo.

Claro, a coisa ganha dimensões bíblicas porque conhecemos aquelas personagens, torcemos para que elas escapem com todos os membros no lugar. Assim, quando Saul para no meio do caminho ou Carrie vai buscá-lo, a tensão aumenta ainda mais porque foge às convenções do gênero, tornando a situação imprevisível e ainda por cima colocando uma das melhores personagens no olho do furacão. Aliás, tanto o comportamento de Saul como o de Carrie correspondem muito bem ao estado psicológico no qual se encontram, e é ótimo ver Homeland matando no peito e fazendo com que as motivações das personagens é que toquem a história para a frente, e não o contrário. Até porque o abraço quase involuntário entre os dois, quando a agente tenta levantar o barbudo no chão  enquanto uma bomba pode explodir a qualquer hora, em um momento onde a relação entre Carrie e Saul parece estar por um fio, é de um simbolismo brilhante e uma das cenas mais comoventes que a série já produziu.

Vou confessar que a ligação de Mira soou desnecessária, como que tentando adicionar ainda mais drama à situação, mas falhando na empreitada. Éntretanto, é um deslize menor em um episódio praticamente irretocável, que parece manter suas personagens sempre no limite e cujo desfecho, mostrando a inteligência dos terroristas, cria um gancho sensacional que vai fazer a semana dos fãs de Homeland se arrastar como nenhuma outra.

5star

7 comments

  1. No final desse episódio eu me peguei com as mãos suadas e levemente tremendo de tanta tensão que senti vendo esse episódio. Homeland teve uma segunda temporada que deveu muito, mas estão pagando essa divida muito bem. Achei esse episódio se não o melhor, um dos melhores da série inteira.

  2. Sensacional, com certeza TOP5 da série.
    Com essa sequência de episódios, é provável que Homeland consiga voltar pros nomeados ao Emmy. Improvável que ganhe o prêmio, mas já foi um grande avanço depois de uma 3a temporada bastante irregular.

  3. Melhor fala do seriado: I’m authorized to kill U.S. citizens on the battlefield, you mother fucker, don’t think I can’t do whatever is required. Don’t think that I won’t.

  4. Tem me impressionado, tbm, essa temporada de Homeland. Se vc falou que o momento que a Mira liga e logo após vem os mísseis, não concordo. Pois, naquele momento, mostrou um Saul acabado, mas teve que vestir a capa protetora (colocar os óculos), para voltar a falar normalmente.

  5. FOI BOM D + !!!!! Quando a terceira temporada acabou eu fiquei pensando “se a quarta for assim a série acaba”, mas eu tomei um “cala a boca” essa quarta temporada inteira, mesmo com uns deslises aqui e ali, eu tenho que reafirmar minha admiração por Homeland e minha paixão pela doida da Carie!!!!! A parte que ela fala pro marido da embaixadora “You are a traitor and I am the fuking CIA”, CARACA!!!!! eu só berrei junto ” AE PORRA!” kkkkkkk

  6. Tá excepcional. Nível de tensão do final da 1ª temporada.

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