quinta-feira, abril 18 2024

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The Walking Dead terminará sua quinta temporada no próximo domingo, com exibição simultânea pela FOX no Brasil. Desde que Scott Gimple se tornou o showrunner da série, a partir da quarta temporada, foi possível perceber melhorias. Primeiro deu um basta no que havia de pior: o fim definitivo do Governador e do confinamento na prisão, espaço fechado que não funciona quando não se tem personagens muito interessantes; depois separou o grupo pra que, em situações diversas, pudesse desenvolver e tornar aquelas pessoas em algo menos irritante e superficial – funcionou muito bem com Daryl e Betty, criou uma Michonne mais empática, e chegou ao ápice com Carol e Tyreese.

Assim, a primeira parte da quinta temporada permitiu um avanço também no deslocamento geográfico: Terminus e Atlanta foram apenas etapas frustrantes pra nossos heróis, mas desculpas perfeitas para muita ação e terror vinda do conflito com outros humanos e zumbis sendo os divertidos coadjuvantes que atrapalham tudo. E o mais importante é que duraram meia temporada. Os canibais foram um grande achado, o hospital chefiado por Dawn parecia promissor, mas Gimple se deu conta que, após 50 episódios, é preciso mover as coisas com mais rapidez pra que não fique a sensação de mais do mesmo e personagens simplesmente estagnados em arcos que duram uma eternidade. O melhor é que todas as situações permitiram desenvolver o aspecto forte da série que é a desesperança com o mundo que sobrou, aliada a uma vontade de viver muitas vezes vacilante, e como isso muda os personagens: mesmo os canibais tiveram um momento de flashback bastante forte mostrando os horrores por que passaram, e alguns de nossos protagonistas chegaram a um nível de brutalidade (Ricky, principalmente) que não parece ter mais volta.

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A segunda parte da temporada veio como um teste para essas mudanças sofridas por eles: é possível uma vida normal em um lugar tão perfeito como Alexandria? Se não (e obviamente que não), de quem é a culpa? Do mundo que mudou ou deles? Certamente que um pouco de cada, mas o fato é que o paraíso estava muito bem antes da chegada do grupo, ainda que com aspectos sombrios bem escondidos (um marido abusivo perdoado por ser cirurgião, a covardia que mata um ou outro em situações adversas etc.). Foi o contato da experiência de quem viu as mudanças do mundo com a inexperiência de quem não viu nada que fez ruir a perfeição de Alexandria. É um momento especial da série, ao colocar Ricky e Carol como vilões prestes a sabotar o Paraíso. E por tudo que passaram, sabemos que eles não estão errados. “Não é porque somos bons que não vamos mata-lo”, Ricky diz a Aaron, deixando bem claro que os limites entre Bem e Mal são outros.

Mas este aspecto moral da série é muito mais estimulante como ideia do que como realmente foi representado: The Walking Dead tem dificuldades narrativas com elenco tão grande, com personagens aparecendo e sumindo de acordo com a conveniência, que isso dispersa alguns de seus melhores temas, deixando marcas mais fortes em pequenos momentos, como quando Carol ameaça uma criança ou um Ricky ensandecido (e ensanguentado) nocauteado por Michonne. Mas o que importa é que a série conseguiu sair daquele padrão em que os mocinhos chegam a um lugar que se torna ameaçador, para eles mesmos se tornarem a ameaça. E isso graças a esta construção dramática dos dois últimos anos, brutalizando os personagens, não ignorando os efeitos psicológicos e físicos decorrentes de cada situação vivida.

A série também tem conseguido sair do trivial no que diz respeito à ação e ao terror. Perseguições e massacre de zumbis são necessários em todo episódio, e os roteiristas ainda continuam bem imaginativos, com um carro despejando “torsos-vivos”, uma ação noturna que se aproveita da quantidade de sangue, luzes e sinalizadores para criar uma ambientação “cool” ou um errante munido de granada ou ainda uma situação de vida ou morte envolvendo uma porta giratória. Junta-se a isto a possibilidade de que a maioria dos personagens pode morrer a qualquer momento, e temos tensão (e diversão) garantida sempre. A se destacar o grafismo das últimas duas mortes de impacto (no episódio “Spend”), em que um close durou o suficiente para vermos os personagens (inclusive um querido por muitos) serem devorados vivos.

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E o que esperar do season finale de 90 minutos de duração? O recente Try, apesar de escancarar o conflito entre Ricky e Deanna, deixou bem claro que uma nova ameaça vem aí em forma de W, letra marcada na testa de quase todo zumbi visto no episódio e que Daryl e Aaron vislumbraram apenas a crueldade em uma mulher nua e amarrada que serviu de alimento para alguns errantes. Se há alguma solução para que todos possam conviver em harmonia, só pode ser pela união contra uma ameaça externa. E aí, talvez, haja uma ainda maior adesão à desesperança e visão de mundo dos protagonistas, quando os pacíficos habitantes de Alexandria sentirem o gostinho do mundo real invadindo suas casas.

Que isto aconteça sem que seja culpa de Ricky e seu grupo, me parece importante. Que Deanna e seu grupo percebam que não podem continuar o sonho do Paraíso, também. Que nem todos sobreviverão para contar esta história na próxima temporada, disso tenho certeza.

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7 comments

  1. A 2ª metade desta temporada está incrível. Quem diria…Alexandria fez um bem enorme pra série.

  2. Dizer que a quarta temporada foi ótima é tampar o sol com a peneira… pior temporada ever e fora q a quinta teve aquele episódio enchimento de linguiça da Daryl e Carol em Atlanta mas admito que desde que a série chegou em Alexandria subiu o nível e gostaria q tivesse uma temporada focada só nesse local… um sopro de novidade no masmarro da série. A 5T tem as duas mortes mais bobocas de toda a série

  3. Oi, Victor. Mas eu nem disse que a quarta temporada foi ótima, e sim que vieram melhorias a partir dela: se livrar do que era ruim e desenvolver personagens. A série era uma bagunça e acho que foi uma temporada importante pra botar ordem na casa. E alguns episódios na reta final (o de Carol e Tyreese com as meninas) foram bem marcantes.
    Abços!

  4. Pois é, Fabiano, vamos ver o que vai sobrar dela pra próxima temporada e que o potencial não seja desperdiçado.
    Abços!

  5. O mais curioso é que Alexandria no arco da HQ foi terrível, caiu drasticamente a qualidade da história. Na série já foi um ponto positivo.

  6. Concordo, principalmente a 2ª metade da 5ª temporada teve grandes melhorias. Focaram num lugar e desenvolveram a história direito e interessante. Em outras temporadas que ficaram parados não conseguiram fazer de modo interessante, e quando estão andando de lá pra cá o foco acaba ficando no destino e problemas e não tanto nos personagens.
    Betty você quis dizer Beth, certo? E achei engraçado chamar o Rick de Ricky, pareceu apelido carinhoso hehe

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