quinta-feira, março 28 2024

Foi com alguma decepção que muita gente recebeu este New Business e não é pra menos: faltando apenas seis episódios para o fim definitivo, Mad Men dedica boa parte desta hora a personagens que o público se interessa pouco, com alguns temas já repetidos ou tratados no piloto automático. Mas repetição parece ser mesmo a intenção, com Pete a certa altura questionando “Achamos que vamos recomeçar, mas e se nunca passarmos do início?” É com isto em mente que vemos Don tentar mais um recomeço com a garçonete Diana, tão espontâneo e repentino como foi com Megan. Ter suas duas ex-esposas no mesmo episódio não é por acaso, portanto. Um lembrete das tentativas e erros do protagonista, com direito a participação de outra mulher importante em sua vida, Sylvia, e é de se perguntar se, com Rachel no episódio anterior, não teremos ainda a presença de suas principais amantes até o fim da série. Particularmente, gostaria de rever Bobbie Barrett e Dr. Faye. Esta última, aliás, é quem diz a Don que ele gosta apenas do início das coisas…

No entanto, a tentativa de Don é frustrada pela própria Diana, alguém mais madura e com experiências de vida bastante distintas (lembrando que Megan culpa sua juventude pelo casamento apressado). É curioso que a série traga tanta melancolia e tristeza num novo interesse romântico do protagonista, assim logo de cara, e parece que isso não agradou muito aos fãs. Sua história contada aos poucos, durante todo o episódio, naquele tom de voz lânguido, talvez tenha sido um pouco depressivo demais (mas o humor da série sempre acha frestas pra se manifestar – “Eu menti pra você” “Já?“).

Mas faz todo sentido que a repetição na vida de Don não ocorra por uma decisão dela, em um episódio dominado por decisões e posturas femininas, embora seja possível vislumbrar alguma mudança no personagem que não permita que os inícios sejam os mesmos: Betty diz que fará Psicologia (mais uma decisão feminina importante, tão contrastante com o tipo que ela foi representante dos anos 60) porque as pessoas se abrem pra ela, apesar de não ter funcionado para o ex-marido, e agora ele se permite abrir de uma maneira até mesmo diferente de como era com Megan, quando achava que falar que seu nome é Dick Whitman era o suficiente. Ele se expõe mais a Diana, dá um fim digno ao seu casamento (saindo do ciclo de punição a que Pete se refere), tenta seguir em frente. E pra isso, talvez seja necessário se despir por completo. Pois, se tudo que há é pouco (como questiona a canção do episódio anterior), só assim para que haja um novo começo e, principalmente, que se consiga sair dele.

O trajeto de New Business, inclusive, poderia ser resumido nestas três imagens:

madmen1

madmen2

madmen3

No mais, as questões femininas dominaram o episódio, com velhas posturas ainda se manifestando fortemente (Harry mais desprezível do que nunca) a formas diversas de exercer um poder e liberdade que vão se estabelecendo ao longo da nova década, de Megan defendendo a mãe da irmã parasita (“Ao menos ela fez algo a respeito”) a toda a trama com Pima Ryan, seduzindo Stan e Peggy para garantir novos trabalhos (e antecipando um figurino que Diane Keaton popularizará anos depois no filme Annie Hall). Não é exatamente nada muito empolgante, embora com o capricho de sempre da série. Talvez o maior pecado mesmo do episódio é de não ser memorável. Algo que sempre queremos, e quase sempre conseguimos, de Mad Men.

4star

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2 comments

  1. Bela crítica. A produção é tão perfeita que até imaginamos que realmente a personagem de Pima, criada recentemente, “antecipou” o visual de Diane Keaton em Annie Hall, essa realmente dos anos 70. Quando na verdade deve ter se dado o inverso.

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