quinta-feira, março 28 2024

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[contém spoilers] Depois de chegar ao topo, descobrir que o que tem é insuficiente e tentar um recomeço que parece mais do mesmo, é a vez de encarar um novo futuro. The Forecast continua traçando um caminho de metáforas muito evidentes para Don Draper nessa reta final, mas nem por isso desinteressante, com o apuro e a elegância de sempre.

Muitos já notaram um padrão nas cenas finais dos últimos quatro episódios de Mad Men, mas não concordo que sejam “o mesmo final”, como já disseram. O caminho é claro: depois de ser informado pelo fantasma de Bert Cooper que as melhores coisas da vida são de graça, Don passa por “tenho tudo, mas tudo é isso?”, depois por “é preciso recuar um pouco nesse tudo” (ainda que seja um movimento feito pela sua ex-sogra na questão dos móveis, houve também a forma como termina com Megan) e, por fim, “o futuro está aí e eu não sei o que fazer ou o que me espera”.

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É um desenvolvimento meio óbvio e muito claro para os padrões da série. Aqui, não só há a venda do apartamento, como o protagonista tem que fazer um discurso sobre o futuro e até mesmo encontra com amigas de sua filha que discutem o que querem ser quando adultas. Tudo muito na cara, mas é aguardar os últimos quatro episódios para saber aonde esse caminho vai dar.

Por enquanto, é interessante ver como Don está perdido. Ele acha que é mais fácil vender um apartamento vazio para que os novos donos possam visualizar seus próprios móveis ali, mas é incapaz de elaborar um discurso sobre o futuro em uma folha em branco, precisando recorrer a qualquer tipo de referências que encontrar: Ted, Peggy e até copiar seu próprio release da época da criação da SCDP. Daí que, apesar da obviedade, a série ainda manter a qualidade e o final ser tão poderoso, e é essa “fineza” do roteiro: um casal compra o apartamento pelo preço pedido, ou seja, consegue imaginar um futuro ali, algo que Don falha durante o episódio, e por isso parece tão assustador fechar aquela porta e ficar do lado de fora.

E é um episódio em que ele tem que se confrontar com suas capacidades e responsabilidades, não só nessa tentativa de escrever o discuro para Roger. Por duas vezes ele tem que dizer a alguém para não culpá-lo por suas próprias falhas (a corretora Melanie e Mathis), por duas vezes ouve alguém dizer que ele nada mais é do que “um rostinho bonito” (Mathis de novo e Sally). Don Draper está em crise, uma nova crise para uma nova década, e talvez por isso a opção da série em avançar para os anos 70: não se pode abordar e refletir sobre uma época sem comentar também o que fica dela para a época seguinte, que continuidade existe e qual o prognóstico que se pode realizar. Don pode não saber o que fazer, mas Matthew Weiner com certeza sabe.

O episódio ainda traz Joan representando este novo papel feminino, o da mulher bem sucedida profissionalmente cujo papel de mãe não lhe permite uma relação amorosa totalmente livre, mas que termina numa nota positiva. O personagem de Bruce Greenwood tem uma química tão boa com ela (ele tem um momento desprezível, mas Joan não tem o mesmo logo depois, recebendo um “bye bye” de seu filho que é de cortar o coração?) que é de se imaginar se não é drama adicionado para os momentos finais da série entre Joan e Roger. Imagino que muitos fãs torcem para um final feliz para esses dois.

Há ainda o retorno de Glenn, que se mostra preso ao passado logo de cara ao ainda chamar Betty de Mrs Draper e com um futuro nada promissor (ou o único possível). Mais assustador, talvez, seja a própria Betty, sempre orgulhosa dos efeitos que causa nele e é de se imaginar que tipo de psicóloga ela vai se tornar…

A trama parece existir para vermos mais uma vez o quanto Sally quer se distanciar de seus pais, e seu olhar de reprovação, tanto para a mãe quanto para o pai ao final, é impagável. No entanto, Don pode estar perdido em sua própria vida, mas é esta confusão que o faz dizer algo de relevante para a filha: ela é igual a eles, mas é capaz de fazer algo diferente com isto. Um conselho precioso e só resta aguardar pra ver o quanto fará efeito em Sally.

5star

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1 comment

  1. Eu sou do time dos que torcem pela Joan. Ela merece ter final feliz. Aliás, acho que só Peggy e Pete merecem finais de humilhação. Dois baita invejosos que nunca estão – ou não aparentam – estar satisfeitos com as coisas.

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