quinta-feira, março 28 2024

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Quando o irmão mais velho e malvado de Owen Shaw, que foi derrotado no filme anterior, retorna buscando vingança, os velozes e furiosos precisam se juntar a um agente do governo e realizar missões para localizar o sujeito que está tentando localizar eles. Além disso, carros.

Furious 7 (Velozes & Furiosos 7) é um clipe de rap com cento e trinta e sete minutos de duração. O ápice daquela cultura de ostentação “carros + mulheres + festa + luxo”, das corridas clandestinas recheadas de DJs e mulheres seminuas às areias em Abu Dhabi fotografadas com o nível de dourado no máximo. É também uma produção que abraça o cartunesco nas implausíveis – mas divertidas – cenas de ação, mas que se leva a sério na hora de tentar criar conflitos e antecipações dramáticas, sem se dar conta de que eles involuntariamente soam tão ou mais cartunescos que as sequências de ação.

Além disso, é um filme incrivelmente, absolutamente, desoladamente e miseravelmente estúpido. Não há nenhuma tentativa de encontrar uma desculpa minimamente crível para os acontecimentos: a estrada que exige o paraquedismo automobilístico parece bem acessível, é melhor pular de um ônibus em movimento do que parar ele e descer, carros continuam andando mesmo com os motoristas pendurados do lado de fora, Hobbs mantém seu equipamento na sala de recuperação e por aí vai. A estupidez é tão maciça que, para evitar ter o doloroso trabalho de pensar, o roteirista faz com que os mocinhos levem um objeto central da trama para um confronto mesmo que ele seja tão valioso e não tenha nenhuma eficiência na contenda – onde, claro, acabam perdendo o dito-cujo, criando um novo obstáculo. Furious 7 é uma ode à ausência de raciocínio no desenvolvimento de um roteiro.

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Em certo momento até parece que a produção vai se render à fanfarronice (quando a personagem de Kurt Russel fala “agora que já lhe contei essa informação ultra confidencial”), mas logo o roteiro retorna ao seu tradicional fracasso, investindo em clichês horrivelmente mal construídos para tentar criar draminhas (alguém fala “não aguento mais tantos enterros” após um enterro), tentar fortalecer os laços dos mocinhos (todas as falas de Toretto incluem “família” de alguma forma. Vin Diesel tinha diálogos mais variados como o Groot de Guardians of the Galaxy), enfim, tentar coisas e não conseguir. Talvez porque não tenha uma frase que não seja de efeito (sempre com a trilha crescendo e parando um pouco antes da fala, claro), o que acaba atirando em cena coisas como “acabou de arranjar uma dança com o diabo” para provocar a vergonha alheia no espectador. E mesmo os momentos de humor não funcionam (com exceção da piada da minivan), frequentemente apostando na tagarelice de Roman, o reclamão, que já marcou seu nome como uma das personagens mais chatas da história do cinema (eu realmente torci para que ele morresse em algum momento do filme).

Para dar vazão à toda a adrenalina automobilística, Furious 7 utiliza recursos como timelapse, câmera lenta, elipses dinâmicas, objetificação das mulheres, travellings circulares e montagem frenética (média de um corte a cada soco). A câmera vive sacudindo e tudo é sempre muito rápido, com ênfase nos planos-detalhe nas sequências de corrida (mãos no volante, troca de marcha, bundas femininas).  Tudo precisa ser o mais descolado possível – até o famoso salto em Abu Dhabi é com o sol ao fundo, como se pular de carro entre dois prédios não fosse o suficiente – e, nessa busca pelo impacto visual constante, James Wan acaba repetindo e tirando a força de alguns recursos (na terceira vez em que o enquadramento acompanha algum sofá/mesa virando, a coisa já perde a graça).

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O que acaba salvando o filme são as sequências de ação insanas, e aqui Wan e sua trupe conseguem atingir níveis altos de erguer os braços para cima e gritar “é isso aí!”. Ao esticar os limites ao máximo e reduzir a física mecânica ao mínimo, Furious 7 produz cenas envolventes não só nas situações que por definição já soam absurdas (paraquedismo, ponte aérea entre prédios), mas também nas disputas mais “normais”, que, com cavalinhos de pau (aliás, no universo de velozes e furiosos é impossível fazer uma curva sem dar cavalinho de pau) e destruição maciça, acabam se tornando igualmente épicas – e ver um drone ser destruído por uma ambulância é algo surpreendentemente satisfatório. Já o elenco se resume a dizer as falas na ordem certa, até porque o roteiro não dá muitas oportunidades de ir além. Ainda assim, Vin Diesel e Dwayne Johnson se destacam negativaente: enquanto o primeiro parece estar sempre desconfortável, o segundo, mesmo anabolizado o suficiente para interpretar um caminhão, não consegue dizer uma frase sem soar ridículo.

Ao final, ainda há espaço para uma homenagem bonita e tocante a Paul Walker, que morreu durante as filmagens. Um momento mais contido, que nem tenta se disfarçar como parte da história. Dessa forma, Furious 7 se encerra com um tom ligeiramente agridoce no único momento que consegue ter realmente um pouco de alma e autenticidade ao longo de toda a projeção. Porque a produção parece querer dar uma direção mais emocionante à história, mas, maculando suas cenas de ação ensandecidas com tentativas de ser profundo e manualderoteirices, acaba é derrapando feio.

2star

6 comments

  1. Alguém ringa dúvidas de que mais essa sequência seria uma bomba? !

  2. odeio comentar mas preciso comentar que vocês são muito ruins em fazer críticas.

  3. odeio comentar mas preciso comentar que vocês são MUITO RUINS em fazer críticas[2]

  4. Acho que um filme como Velozes & Furiosos depende sempre da expectativa que colocamos sobre ele. Fui ao cinema esperando assistir muita ação frenética e sem noção e saí bem satisfeito. Eu nunca fui fã da série, acho os dois primeiros filmes bem bobos, mas desde o Operação Rio curti o rumo que a série tomou. E a homenagem ao Paul Walker foi bem emocionante.

  5. odeio comentar mas preciso comentar que vocês são MUITO RUINS em fazer críticas[3]

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