quinta-feira, março 28 2024

haltcatch

A segunda temporada de Halt and Catch Fire estreou na AMC na semana passada e está aí uma série pouco vista, mas que merece uma chance.

Se você é da área de computação, é meio imperdível: a trama se passa em 1983, quando um misterioso executivo bom de lábia chega numa companhia eletrônica do Texas a fim de revolucionar o ramo da informática, vendo num engenheiro local e numa jovem prodígio em programação as pessoas que lhe ajudarão a criar o melhor computador do mercado. Tudo começa com engenharia reversa numa máquina da IBM, e a partir daí há uma série de diálogos, situações e obstáculos durante toda a temporada que envolve as limitações e as descobertas de uma época que caminhará a passos largos para criar a tecnologia que temos hoje. Parece inacreditável e suspeito, mas a sinopse de Halt and Catch Fire pode se resumir a isso: é uma série sobre pessoas querendo criar um computador portátil nos anos 80.

Quem não se interessa ou sequer entende algo de computação, não precisa se preocupar. Eu, que sou uma toupeira completa quando o assunto é este, confesso que não entendi o que acontecia muitas vezes, mas também em nenhum momento pareceu ser necessário. Principalmente porque, no que era essencial, os roteiristas sempre têm algum personagem por perto que precisa que as coisas sejam ditas de forma mais simples, em especial o chefe dos protagonistas, algo que funciona menos como muleta e mais para criar conflitos justamente apoiando-se em sua ignorância.

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Mas pra quem não tem interesse em algo tão específico, por que ver a série? Normalmente é a caracterização de personagens e ambientação que mantêm a atenção nesses casos, e os primeiros episódios pecam bastante nesse sentido. Muito se falou dos protagonistas, por exemplo, como versões mais pobres de Don Draper e Walter White (os dois grandes personagens saídos da própria AMC): Joe MacMillan, vivido por Lee Pace, o executivo charmoso e bom de lábia que capricha na aparência pra disfarçar um vazio interior (lá pelas tantas, a programadora Cameron, com quem ele tem um caso, chega a dizer “você é ótimo em atrair pessoas, mas não em mantê-las”) e Gordon Clark, vivido por Scoot McNairy, o engenheiro brilhante mas fadado ao não reconhecimento e um trabalho medíocre. O problema de ambos é que essas personas são apenas um ponto de partida mas maleável de acordo com as necessidades da trama. Já o clima oitentista é mais interessante, embora inicialmente a série abusa de enquadramentos que chamam mais a atenção pra si do que pra o que realmente querem significar (tortos, de ponto de vistas inusitados, etc).

Felizmente, com o tempo essas coisas vão se ajeitando. Na verdade, Halt and Catch Fire pode ser facilmente descartada antes de chegar na metade da temporada inicial, menos por problemas mais graves (ritmo, incoerências narrativas) e mais pela incapacidade de gerar interesse por personagens de construção tão frágil. É o tipo de série que você percebe o potencial e acompanha um pouco mais na expectativa de que os autores (neste caso, ambos novatos) encontrem o tom correto. E isso só vem na reta final do primeiro ano (que tem dez episódios) quando percebem que algumas relações e personagens são mais interessantes se desenvolvidos sem o foco no protagonista vivido por Pace. As mulheres acabam ganhando mais destaque, não apenas Cameron, mas principalmente Donna (a maravilhosa Kerry Bishé), esposa de Gordon.

A boa notícia é que os críticos americanos já viram alguns episódios da nova temporada e são unânimes em dizer que a série alcançou um outro nível de qualidade, e a premiere já dá evidências disso, colocando as mulheres no centro da maior revolução tecnológica da época (não mais a construção de um PC, e sim a própria internet e suas possibilidades), além de um novo tom para o personagem de Pace.

Halt-and-Catch-Fire-Destaque

Por conta disso, talvez quem não conheça a série fique tentado a começar a ver pela segunda temporada. Se você não é como eu, que sinto uma necessidade de ver tudo desde o início, recomendo os últimos episódios da primeira temporada. O oitavo e o nono são os melhores, mas começar pelo sétimo (que eu acho bem ruim, mas dá um contexto melhor para o que vem a seguir) é mais interessante. Mas se você tem o mínimo de curiosidade pela tecnologia da época, a fragilidade dos primeiros episódios é plenamente recompensada pelas enormes ambições de tentar construir um computador com menos de dez quilos e com capacidade de algumas centenas de bytes.

No Brasil a série é exibida dublada pelo AMC todas as segundas, 24h após a exibição nos EUA.

3 comments

  1. Série fantástica! E ela cresce bastante da metade em diante da 1ª temporada…bacana saber que ganhou uma 2ª (chance) temporada…tem um histórico muito massa para trabalhar….

  2. Gosto bastante da serie e ja fico imaginando que talvez ao fim da temporada, a serie chegue no fim dos anos 80 entrando nos 90 na possivel 3ª temporada. Quero que essa serie chegue ate os tempos atuais da computação, mas ai ja seria talvez numa 6ª temporada. Historia para chegar ate lá a serie tem, só não sei se teria audiencia, o que infelizmente, para a tv, muitas vezes é mais importante que a historia.

  3. Um fato curioso: a empresa em questão (muito provavelmente) é a Compaq, empresa texana e primeira a legalmente conseguir clonar a BIOS da IBM.

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