quinta-feira, março 28 2024

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Acho razoável dizer que já assisti a muitas séries na vida. Umas passaram em branco, outras deixaram uma boa marca e algumas considero verdadeiras obras-primas, me conquistando com seus roteiros e personagens. Recentemente, incluí Rectify na última categoria.

Produzida pelo canal Sundance e criada por Ray McKinnon (que já participou como ator em Sons of Anarchy e Deadwood), Rectify acompanha a história de Daniel Holden (Aden Young), que foi libertado do corredor da morte após 19 anos quando uma prova de DNA muda os rumos da investigação do estupro e morte de sua namorada na adolescência.

Fugindo do caminho que seria mais fácil, o foco de Rectify não é descobrir quem realmente estuprou e matou a garota (a nova prova invalida a condenação pelo estupro, porém Daniel ainda segue como principal suspeito da morte), mas sim acompanhar os eventos e o impacto que a liberdade do personagem causa em sua família e na pequena cidade de Paulie, na Georgia, EUA. Especialmente porque em 19 anos muita coisa aconteceu. A família de Daniel está maior – a mãe (Janet, vivida por J. Smith-Cameron, de True Blood) casou novamente e, com isso, ele ganhou um padrasto e um meio-irmão, já adolescente. Com o padrasto (Ted Talbot, interpretado por Bruce McKinnon), veio ainda Ted Jr., filho de seu primeiro casamento, acompanhado de sua esposa Tawney.

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Além do próprio protagonista, os mais afetados pelas mudanças são sua mãe e sua irmã. A mãe, por ver realizado um desejo que já havia considerado impossível, lidando com uma certa culpa por ter desistido. A irmã, que nunca deixou de lutar pela inocência do irmão e colocou a própria vida em segundo plano, porque tem que começar a olhar para si mesma. Aliás, parabéns para a Abigail Spencer (True Detective, Suits), que constrói muito bem essa mulher obstinada e tão afetada pela prisão do irmão mais velho quando tinha apenas 12 anos.

Daniel volta então para uma família diferente daquela em que cresceu, assim como para um ambiente diferente. Quando foi preso, ainda ouvia suas músicas no walkman. Agora, está no mundo da internet e smartphones. Além da sua própria adaptação, precisa lidar com a reação da comunidade. Daniel está livre da prisão, mas não do julgamento da cidade. Muitos seguem acreditando, independente de qualquer coisa, que ele ainda é o culpado pela morte de Hanna, o que traz péssimas consequências, especialmente na segunda temporada.

O mais interessante é que, ao fim da terceira temporada, ainda não temos uma visão clara do que realmente aconteceu. As dúvidas seguem no ar, principalmente porque o protagonista vai ganhando camadas e camadas de profundidade, demonstrando variados sentimentos e ímpetos. E é aqui que o belo trabalho de Aden Young como Daniel vai se destacando e crescendo cada vez mais.

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Na verdade, todo o elenco de Rectify é muito talentoso e eficiente em mostrar o quanto a prisão e consequente libertação de Daniel afetaram cada um e as relações entre eles. É uma série em que cada olhar, cada silêncio e cada reação contam uma história. E a trilha, os planos e a fotografia da série ajudam muito a contar essas histórias.

Daniel é um personagem bastante complexo, intenso, despedaçado pela prisão e com uma imensa dificuldade de se comunicar. É aí que entra Tawney (Adelaide Clemens), a esposa de Ted Jr. (Clayne Crawford, de 24, Justified). A doce moça cristã é a única que consegue realmente dialogar com Daniel, o que vai despertar profundos sentimentos nele. E em Rectify não tem nada mais bonito do que observar o desenvolvimento de algumas relações: a cumplicidade entre Daniel e Tawney, o apoio feroz de Amantha ao irmão, o dolorido amor entre Daniel e sua mãe, além da linda amizade entre ele e seu vizinho de cela no corredor da morte, apresentada em flashbacks.

Essa é uma das coisas que mais me encantou na série, a sutileza e a delicadeza em traduzir sentimentos. Rectify consegue tocar de uma forma muito particular, emocionando com uma simples brincadeira entre família, com um momento de compreensão entre mãe e filho ou com a mais tênue prova de afeição, gerando uma grande empatia. Não são raras as vezes em que quase sentimos a dor e o vazio que o protagonista sente. É uma série contemplativa e sensível como nunca vi.

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Quem quiser conhecer Rectify, tem três ótimas temporadas pela frente. Depois vai precisar conter a ansiedade, pois a quarta estreia apenas em 2016. No Brasil, a exibição também é feita pelo Sundance Channel.

11 comments

  1. Ana, fui atrás da série depois de ler seu post…arrebatadora no primeiro capítulo! Estava atrás de uma série boa faz um bom tempo, por sua causa finalmente encontrei. Obrigado querida!

  2. Oba! Fico muito feliz em saber disso. Aproveite, é uma belíssima série! :-)

  3. Cara Ana,

    Não preciso acrescentar nada ao que escreveste. Precisamos sim falar sobre Rectfy…mas …impossível não senti-la em cada poro do corpo.
    OBS: na minha opinião, um das das personagens mais bonitas como ser humano é a mãe do personagem principal, Janet. Que personagem maravilhosa em generosidade!

  4. Adoro essa série. Vejo desde que começou e recomendo para todo mundo

  5. Vale muito a pena…super sensível essa série, as vezes um pouco estranha, mas é muito top.

  6. Excelente série, me ganhou no primeiro episódio quando começou a tocar Flume do Bon Iver!

  7. assisti a primeira temporada e achei muito intensa ,e mostra uma realidade q eu nunca tinha parado pra pensar é como se o mundo parasse por 20 anos .Otima serie!

  8. Realmente desperta o interesse! Personagens densos, introvertidos e complexos,, muito diferente das superficialidades tão comum nas séries americanas! Gostaria que o Daniel fosse inocente! Na verdade, o entendo assim! Vou assistir à continuação com essa expectativa! Me decepcionaria muito com a equipe de filmagem se decidissem revelar um assassino covarde e dissimulado!

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