quinta-feira, março 28 2024

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Guillermo del Toro (The Strain) é um cineasta que possui uma visão muito particular. Sua assinatura é um estilo visual único, obscuro, com elementos fantásticos. Em seu universo, o verdadeiro horror está nas pessoas e em seus atos, e é por isso que o diretor é categórico em afirmar que A Colina Escarlate não é um filme de horror, mas um romance gótico. Com isso ele quer dizer que o longa traz uma história de amor sombria, com ingredientes sobrenaturais e um clima sinistro. Para deixar ainda mais claro, espelha essa definição na própria protagonista, Edith Cushing (Mia Wasikowska), que afirma sobre seu livro: “não é uma história de fantasmas, é uma história COM fantasmas”.

Edith é uma jovem decidida, mais interessada nos livros do que nas relações e eventos sociais. Apesar dos galanteios de seu amigo e médico Alan McMichael (Charlie Hunnam, o Jax de Sons of Anarchy), é o o recém-chegado baronete Thomas Sharpe (Tom Hiddleston) que consegue atrair sua atenção. Thomas veio da Inglaterra acompanhado de sua irmã Lucille (Jessica Chastain) em busca de financiamento para uma máquina desenvolvida por ele. E é na relação entre Edith, Thomas e Lucille que o filme se desenrola, especialmente após a mudança do trio para a mansão dos Sharpe na Inglaterra, em um local apelidado de A Colina Escarlate devido ao efeito causado pela argila que existe sob a área ao emergir e se misturar à neve.

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A casa (que foi efetivamente construída para as filmagens, por del Toro acreditava que evitar os efeitos especiais e fazê-la existir traria melhores resultados), tem arquitetura gótica, predominância de tons escuros e um ambiente sombrio. Como as peças da casa se conectam, a câmera consegue produzir bonitos movimentos sinuosos, seguindo personagens ao entrar e sair de cômodos.

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Apesar de A Colina Escarlate possuir uma estrutura narrativa básica (a personagem virginal que entra em um universo obscuro e sai transformada), o filme encontra sua força na imagem. Del Toro foi cuidadoso em cada detalhe (uma de suas especialidades), criando uma unidade visual e uma atmosfera que passa do sofisticado para o lúgubre de forma elegante, gerando frames que parecem pinturas. Além disso, os caprichados efeitos sonoros e a trilha sonora criada por Fernando Velázquez (O Impossível, O Orfanato) foram fundamentais para reforçar o clima fantástico. O lindo figurino possui ainda a função de destacar os contrastes entre a dureza de Lucille e a suavidade de Edith, sem falar quando replica o movimento dos próprios fantasmas com o esvoaçar de trajes pela casa. Esse contraste de luz e sombras também está presente ao longo do filme de outras formas, como na metáfora das borboletas x mariposas (del Toro é um fascinado por insetos, trazendo-os constantemente para seus filmes) e no lindo efeito do vermelho da argila sobre o branco da neve.

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Del Toro peca apenas quando cai na na armadilha do susto fácil em alguns momentos, repetindo truques de inúmeros filmes de “casa mal-assombrada” e enfraquecendo o belo efeito fluído produzido pelos fantasmas. É possível que alguns desses momentos menos inspirados causem sustos, mas são as cenas mais violentamente “humanas” que causam as piores reações. No fim das contas, A Colina Escarlate realmente é um filme com fantasmas, não sobre eles.

4star

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