quarta-feira, abril 24 2024

leftovers207

[contém spoilers] Se alguém pegasse o arquivo de vídeo de A Most Powerful Adversary e o carregasse em uma impressora 3D, certamente o resultado seria uma bigorna, visto que este sexto episódio da segunda temporada de The Leftovers é uma sequência de marteladas dramáticas nos espectadores incautos. Uma abordagem que despeja intensidade na trama e resulta em um dos finais/cliffhangers mais poderosos da série até aqui.

É verdade que a partida de Nora soou um tanto súbita, até porque ela é faca na bota e uma das coisas que realmente não tem medo é bater de frente com tudo. Mas o que A Most Powerful Adversary consegue fazer é mostrar o cansaço e a saturação de Kevin, que é praticamente abandonado por todo mundo com exceção de Patti, a fantasminha camarada. Ao longo do episódio, o ex-policial percorre um arco dramático gigantesco – e a série faz questão de colocar isso na tela, investindo tempo nas situações que vão desgastando Kevin aos poucos (Nora não retornar as ligações, a desconfiança de Jill, a possível descoberta de que ele esteve no lago, a “solução” bastante extrema para sua situação, a aparição de Laurie e por aí vai). Ao contrário do que aconteceu em No Room at the Inn, cada evento entra de forma orgânica na narrativa e vai se empilhando em cima dos anteriores, o que constrói tipo um contêiner de carga dramática que justifica a atitude de Kevin (lembrando que ele havia inclusive ficado ofendido com a solução proposta pelo velho-sábio-e-místico-genérico).

Parte desse desgaste também vem da fotografia escura e claustrofóbica, pois mesmo em uma floresta à luz do dia as coisas parecem tão iluminadas quanto uma festa de uma faculdade de comunicação (e a direção de arte ajuda: percebam como no trailer do velho-sábio-místico-genérico o teto baixo e a quantidade de móveis e decoração quase não dão espaço para respirar). A diretora Mimi Leder acerta também ao investir em planos bem fechados e manter a câmera na mão, distribuindo uma sensação de urgência e aumentando a inquietação com relação ao que está para acontecer. Aliás, o capítulo inclusive explica a situação envolvendo o sumiço da água e o semi-suicídio de Kevin, e, se por um lado a resposta pode desagradar alguns que esperavam algo mais grandioso,  por outro ela casa perfeitamente com o andamento da história.

Além disso, Justin Theroux transmite com eficiência a sobrecarga de estresse que atinge o protagonista. Critiquei muito ele na primeira temporada, mas aqui vem se superando: deixou de lado o ranger de dentes para apostar em uma atuação mais sensível, vulnerável – o momento em que ele implora a Patti para deixá-lo em paz é comoção descontrolada. Assim, com exceção de um ou outro tropeço (o sumiço de Nora, Jill voltando a ser a adolescente histérica e contra tudo e todos), o episódio atira o espectador no furacão que se tornou a mente do protagonista, mostra como tudo está se esfacelando e carrega o público junto com Kevin para um desfecho que só posso definir como “chumbo grosso no cérebro”.

5star

6 comments

  1. “as coisas parecem tão iluminadas quanto uma festa de uma faculdade de comunicação”

    Mano, esse cara é muito ruim, não deixa ele fazer mais review, não, pelamor…

    Fora isso, puta episódio!!!!!

  2. A parte do Azazu foi piada ou é a explicação do fenômeno? Fiquei na dúvida.

  3. Qual a explicação pro sumiço da água? Preciso rever, hahaha.

  4. Ah, lembrei, foi o terremoto que fez a terra se abrir e engolir toda a água. :)

  5. O momento que o Kevin vira o copo com o veneno PQP, que série foda!!!

  6. Mas como eh q eh, o Kevin foi-se pro além msm? quase começando o 8º episodio aqui….cachola a mil com saporra!

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