quinta-feira, março 28 2024

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[Texto SEM Spoilers] Um filme feito por fãs para os fãs. Essa poderia ser a síntese de O Despertar da Força (The Force Awakens), sétimo e aguardado episódio da saga Star Wars iniciada em 1977. Porém, resumir o filme a este conceito seria não só injusto como também absolutamente simplista. Afinal, JJ Abrams (LOST, Star Trek) e Lawrence Kasdan (O Império Contra-Ataca, O Retorno de Jedi), respectivamente diretor e roteirista, fazem desse filme muito mais que um instrumento capaz de reativar o fascínio e o espírito de uma história que cativou milhões de fãs mundo afora com a trilogia clássica (ignoremos a trilogia mais nova por favor, né?).

Referencial e reverencial, O Despertar da Força é uma viagem nostálgica carregada de fan service, é verdade, mas que jamais se acomoda em ser apenas isso. E é aqui que Abrams e Kasdan acertam em cheio, já que além de darem o que o fã espera, apresentam também fatos e personagens novos que refletem um universo fantástico bem mais diverso, heterogêneo e complexo que aquele que encerrava o Episódio VI, abrindo assim possibilidades ainda maiores pra saga criada por George Lucas há quase quatro décadas.

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Aliás, a maior sacada do roteiro de Kasdan (e com o qual Abrams também colaborou), foi conseguir contextualizar os eventos do filme e as motivações dos personagens novos, com ideias e temas que refletem discussões que vemos hoje mundo afora (como o real e necessário protagonismo da mulher na sociedade, os caminhos que levam a um radicalismo irracional, a tirania como método de governo etc), sem que, contudo, soe panfletário.

Nesse contexto, se é inegável que a Rey da ótima Daisy Ridely percorre a jornada do herói descrita por Joseph Campbell da mesma maneira que Luke Skywalker experimentara um dia, aqui ela faz de forma ainda mais eloquente e pungente, já que, ainda que surja como a sonhadora aparentemente frágil esquecida num planeta isolado, ela jamais se permite ser a mocinha que precisa ser salva, um diferencial, aliás,  que marca parte dos trabalhos dirigidos por JJ Abrams (vide Alias).

E se o Kyle Ren de Adam Driver (da série Girls) revela-se um vilão multifacetado à medida em que descobrimos a natureza da sua ligação com personagens veteranos da saga e o claro conflito que o consome, o Finn do carismático e divertido John Boyega, representa o perfil do jovem que ao romper com o status quo, vai finalmente descobrir sua real identidade e qual é o lado certo da história que o poder estabelecido deturpara.

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Acertando muito ao dar protagonismo, tridimensionalidade e rosto a personagens que a trilogia clássica sempre deixara em segundo plano (como stormtroopers, no caso do Finn, ou pilotos de X-Wing, na figura do Poe Dameron de Oscar Isaac), O Despertar da Força permite que tenhamos também a real dimensão da importância que cada um deles representa na luta entre a Resistência (outrora conhecida como Rebelião) e a Primeira Ordem (um grupo de grande poderio militar remanescente do Império e que carrega sua ideologia ditatorial).

E quanto aos veteranos Leia,  Han Solo, Luke e cia… Bem, basta dizer que contribuem e muito para fazer uma transição fluida com a nova geração. E não é que eles simplesmente passem a ter menos importância na história (porque tem e muita), mas sim porque representam agora o ideal ou o exemplo que inspira os mais jovens em suas jornadas. E não é à toa, aliás, que Skywalker, o último jedi vivo, se transforma no grande MacGuffin que move a trama desse novo e empolgante capítulo que abre uma miríade de possibilidades para a saga.

Inteligente ao perceber que menos é mais (esqueça aquele festival de cores exageradas ou as distrações sem propósito que George Lucas abraçou em sua trilogia mais recente), esse novo filme dá para o espectador um gostinho de tudo que a trilogia clássica trouxe de melhor, quer seja quando emula cenários que remetem à singularidade de planetas desérticos, florestais ou gelados que vimos nos episódios IV, V e VI ou quando aposta num humor orgânico e diluído entre os personagens (BB-8, eu te amo cara!) que diverte sem jamais nos tirar da história.

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E assim, quando termina, a certeza que fica é a de que O Despertar da Força conseguiu a proeza de se inspirar nos mesmos temas da trilogia clássica revigorando-a, ao mesmo tempo em que escapa da armadilha de simplesmente copiá-las, para apostar numa ampliação de seu escopo de forma surpreendente e intrigante. Algo, aliás, que o lindo plano final – e a revelação que ele traz – corrobora de maneira veemente.

Como fã de Cinema e de Star Wars, nenhum elogio poderia ser maior para este O Despertar da Força, portanto, do que dizer que seus 136 minutos são capazes de fazer não só com que voltemos a nos apaixonar por aquele universo tão tão distante, mas também de torná-lo familiar mais uma vez. Sim, Han Solo, estamos em casa!

5star

7 comments

  1. otimo texto! Acabei de sair do cinema e concordo plenamente!

  2. Davi, excelente análise. O trabalho de J J Abrahms foi excelente. Ele é um fã assumido de Star Wars e muito competente. Enquanto Lucas tem o mérito por ser o criador do universo não pode se dizer que tevea mesma experiência previa que J J Abrahms antes de seu primeiro filme Star Wars. J J é melhor diretor que Lucas. O filme ficou sensacional e entregou tudo que esperávamos, algo que os episódios 1, 2 e 3 não tiveram êxito. O episódio 7 é a direta continuação do legado de inspiração deixado pela trilogia original.

  3. Fanservice é uma ótima definição pra esse filme.
    Bem, eu gostei. Muito.
    Apesar de o filme ser basicamente uma refilmagem e do vilão xiliquento.

  4. Não vi o file mas acho que o JJ Abrams andou treinando com a franquia Star Trek. Percebeu que os fãs de syfy amam as lentes analógicas. Vamos aos cinemas conferir.

  5. Pensei o mesmo Robson: Severo Snape, o que você está fazendo aqui? kkkkk

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