sexta-feira, março 15 2024

3porcento

É uma tarefa bem complicada escrever sobre 3%, a primeira série nacional da Netflix no Brasil devido à onda de polarização que permeia a Internet hoje: quem gostou é “baba ovo” da Netflix ou a empresa “pagou” pela boa review; quem não gostou está sendo injusto com a série, já que “a intenção é boa” e devemos todos “pegar leve”. Não há meio termo ou ponderação. Vi gente, inclusive, defendendo que a “crítica” no geral deveria relevar os problemas patentes desta produção justamente porque “foi difícil” viabilizá-la e que os comentários negativos “afastariam” novos investimentos da gigante do streaming no país. Outros afirmam que quem não gostou de 3% “aplaudiria de pé” se esta fosse falada em inglês ou produzida por um canal gringo (ignorando o fato de que brasileira, a Netflix não é), levantando até mesmo a bola de que “não gostamos de ouvir nosso idioma na TV”. Vish!

É nesse vespeiro que estou entrando, e avançar fica ainda mais difícil depois que passei a semana passada conversando com produtores e elenco, vendo todos ultra entusiasmados com o resultado no ar e em uma plataforma tão proeminente como esta, ao lado de produções originais como House of CardsStranger ThingsSense8. Esse entusiasmo se justifica. 3% nasceu em 2011 em um piloto que surpreendeu a Internet e trazia elementos interessantíssimos (aliás, não entendi porque o perfil oficial da série o “escondeu” com um cadeado no YouTube). A série, contudo, só iria ser continuada anos depois, quando a Netflix escolheu essa para iniciar a sua produção de séries originais no Brasil, tal qual já fez na França, México e em outros países que opera. É um feito notável e mostra a resiliência do argumento criado por Pedro Aguilera, que também assina a produção.

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A premissa é mesmo boa: jovens com 20 anos que vivem “do lado de cá” numa realidade dura recebem a oportunidade única de participar de um processo que seleciona apenas 3% de todos os candidatos para alcançar o Maralto, um lugar de abundância e riqueza para poucos. É uma alegoria sobre a desigualdade, vivida com muita intensidade em nosso país. Embora a história já tenha sido explorada por outras produções recentes (como Jogos VorazesDivergente etc.), não há qualquer demérito na recorrência temática, especialmente se bem desenvolvida. Não obstante, o fato de 3% ter tido uma trajetória difícil e ser repleta de boas intenções, não a torna imune a críticas ou invalida qualquer comentário negativo, especialmente se fundamentado, e tampouco quer dizer que há uma “torcida” contra o sucesso da produção.

Pelo contrário, é através do exercício crítico que podemos ajudá-la a melhorar numa eventual segunda temporada. Mas vamos lá.

Eu gostei de diversos aspectos de 3%, a começar pelo seu design de produção. A representação das tecnologias desse mundo distópico é eficiente, criando elementos que soam críveis – as telas, os comunicadores, as câmeras e recursos utilizados pelos integrantes da instituição no Processo certamente remetem à plasticidade de um futuro distópico e a ideia de uma “corporação por trás de tudo. São poucas as produções que conseguem estabelecer tão bem um universo e, neste aspecto, as comparações com Black Mirror não são exageradas. Além disso, as locações encontradas mostram boas escolhas produção ante à notória escassez de recursos financeiros (basta reparar na qualidade, digamos, inacabada dos efeitos visuais empregados nas establishing shots aéreas, para compreender as limitações).

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Aliás, talento em si não falta para os envolvidos com 3%. César Charlone (Cidade dos Homens) é um diretor extremamente competente e grande parte dos atores são experientes, incluindo João Miguel (Estômago), Sérgio Mamberti, Zezé Motta, Michel Gomes (Última Parada 174) e Bianca Comparato (Sessão de Terapia).

Mas a série tem, sim, seus problemas.

O primeiro deles é a forma com que o tom da história é estabelecido, fazendo com que a maioria dos personagens soe demasiadamente artificial ou mecânica. Isso não é falta de competência de determinado intérprete, mas sim da preparação de elenco. A cadência de voz, o formalismo e as construções de frases prontas soam inverossímeis e sem emoção, discursando um texto ensaiado. Isso prejudica muito o envolvimento que temos com a história e é a principal deficiência de 3%. Ainda que fosse possível argumentar que os habitantes do tal Maralto usariam um português mais refinado e isento de emoções, isso não se sustenta com a turma do Continente, que teoricamente nem estudada é e apresenta o mesmo problema recorrente.

Outro grande problema de 3% é o seu roteiro e suas inconsistências. É óbvio que uma série de ficção exige uma suspensão da descrença maior por parte do espectador, mas aqui a quantidade de concessões que temos que fazer a cada episódio é imensa. Um exemplo: logo no início vemos na primeira etapa do processo um sistema que é capaz de “detectar” todas as emoções e sentimentos de um participante para dar um diagnóstico claro e objetivo para o analista (autocontrole, motivação, oscilação elevada na voz, pouca tolerância). OK, nós perfeitamente aceitamos que isso é algo que existe nesse mundo. Porém, é inexplicável que os “agentes” do processo simplesmente não utilizam a mesma tecnologia já estabelecida pela série para identificar quem é a pessoa infiltrada pela “Causa”, preferindo levá-las para um interrogatório apartado e sem qualquer tipo de aparato a não ser uma espécie de venda que deixa a pessoa toda suja e um ampulheta com sabão líquido. Aliás, os únicos momentos em que a alta tecnologia da série nunca é utilizada acontecem justamente nos interrogatórios sobre a Causa, que novamente ocorrem em uma “salinha” no episódio 1×07.

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Outro grande problema diz respeito às motivações e às características constantemente mutáveis das personagens, aliada à imensa falta de sutileza nas composições. Veja o caso do personagem de João Miguel, o Ezequiel, que percorre a temporada alternando entre a compaixão e a crueldade com os candidatos, ora indicando que quer vê-los bem-sucedidos e ora desejando o insucesso coletivo. O próprio episódio com flashbacks do Chefe do Processo, o quinto, deveria explicar as mudanças repentinas e aleatórias nas escolhas e decisões do sujeito, mas acaba levantando ainda mais dúvidas sobre suas reais intenções (e as da própria série, que parece condenar a injustiça do Processo em determinados momentos, mas acaba celebrando seus métodos, em outros, com na questão da hereditariedade). Isso se repete com vários outros personagens, incluindo Aline (Viviane Porto), Rafael (Rodolfo Valente) e até Michelle (Bianca Comparato) no episódio final. Isso evidencia que essas alterações são para servir às necessidades imediatas do roteiro (criação de conflitos, avanço rápido da trama etc.) em vez de partir dele.

É certo que falta ainda à produção o estabelecimento de uma mitologia que explique como funciona, por exemplo, o Continente, sua economia, a organização da sociedade ou que mostre – para o espectador e para os integrantes do “lado de cá” – mais sobre o Maralto, quem produz as riquezas, como circulam os bens de consumo, qual é a das roupas, etc., mas darei o benefício da dúvida e aguardarei essas explicações na possível segunda temporada e esperar que tais escolhas não sejam puramente estéticas.

3% é toda ruim? Claro que não. Como eu disse acima existem diversos aspectos positivos, incluindo uma boa fotografia (quando não exagera em planos inclinados), direção eficiente de sequências de ação (aquela no corredor com gás e a segunda no subsolo com as alavancas são ótimas), uso moderado de efeitos sonoros e inventividade na construção das provas – e da tecnologia empregada – em especial à da cena do jantar, com um excelente trabalho de projeções mapeadas  em toda a série. É uma forma econômica e inteligente de emular grandes telas que inviabilizariam o custo da produção.

3% infelizmente não teve, por enquanto, o suficiente para vencer o Processo e viver no Maralto de séries.

2stars

27 comments

  1. Ufa. Achei que só eu percebi que só 3% do elenco não fala pelo c..

  2. Justamente o crítico deve fazer parte da galera q pagaria muito pau se a série fosse em inglês ou da HBO.

  3. Eu concordo com a crítica. Também não gostei da série. A questão da superficialidade do texto é um ponto-chave, mas percebe-se nos oito episódios que não houve um cuidado com o roteiro, um texto planejado que mostrasse exatamente os conflitos dos personagens, suas motivações, os pontos de virada da história. No final, só acompanhamos mesmo por se tratar de uma série brasileira. Porque a vontade que dá é de deixá-la pelo caminho nos primeiros episódios.

    Abraços.

  4. A Critica esta ok, realmente a série é estranha, os atores não estão legal, e o portugues forçado….

  5. Todas as motivações são mostradas e de forma bem didática e os pontos de virada, idem.

  6. Cara, você resumiu bem. Tem gente dizendo que quem não gostou é porque tem síndrome de vira-lata e só gosta de produto americano, mas foi bem o contrário. Se fosse uma série americana eu teria largado depois do piloto, só assisti até o final por ser brasileira. Mas foi bem difícil assistir um episódio atrás do outro com as péssimas atuações de praticamente todos os envolvidos.

  7. Essa questão do texto parecer declamado acontece há tempos no Brasil, seja nas séries do GNT, seja nas séries da HBO. Assistindo a “O Negócio” percebo que o tom de todos os personagens é bem deslocado da realidade, e isso ficou evidenciado pra mim. Conforme o Bruno escreveu, o enredo tem sim seus méritos, torço para que haja uma segunda temporada que apare as arestas da primeira, afinal a série não é assim tão ruim quanto pintam. Como roteirista, sei o quanto as produções brasileiras precisam melhorar, mas sei também o tamanho envolvimento existe para fazer um projeto assim dar certo, e é injusto que as pessoas criem essa resistência a tudo o que é nacional, quando endeusam roteiros medíocres como Once Upon a Time por exemplo.

  8. Gostei da crítica. Realmente, a série tem falhas, mas achei que foi um ótimo primeiro passo. Afinal, o Brasil não tem tradição em produzir esse tipo de conteúdo, ainda mais com uma temática diferenciada como essa. E lembrando que os EUA produzem dezenas e dezenas de séries todos os anos, então é óbvio que eles farão coisas melhores, afinal eles tem um grande mercado nesse sentido, e o Brasil está engatinhando nesse tipo de produção (estou ignorando algumas séries da Globo, pois a linguagem deles ainda é muito novelesca, e infelizmente isso se reflete em todos os lugares). Assim, mesmo com as falhas, acho que 3% é um marco na produção nacional, e espero que ela inspire novos e melhores projetos.

  9. Concordo com boa parte da crítica. Vale ressaltar que 3% é dirigida, encenada, roteirizada e.t.c. por pessoas oriundas de uma cultura de novelas e pornochanchadas. Vai demorarr perder este ranço. Até lá, vou continuar prestigiando e concordar com quem disse “se fosse americana teria desistido no primeiro episódio”.

  10. Bruno, achei sua crítica ponderada e acertada. Pontos positivos e negativos. E de fato não sei o que acontece com os atores brasileiros. Eles não falam como as pessoas falam na vida real. Isso é o que mais incomoda na série na minha opinião. Atuação robótica, diálogos travados…

  11. Provavelmente pq seguem o texto a risca… é bem chato mesmo.

  12. Lamento que até fora da TV convencional (aberta ou paga) insistam em perpetuar o padrão siliconado. Mel Fronckowiak não tem razão nenhuma p/ estar ali a não ser promover esse padrão machista e imposto como um exemplo do que uma mulher deve ter p/ ser alguém de sucesso.

  13. Odiei esse seriado, muito sem sentido suspense brasileiro é novela mal contada.

  14. Assisti 3% em 1 dia, assim como fiz com “Stranger things”, então me perguntei: Gostei ou não?; bom, se não tivesse gostado ou perdido a atenção teria abandonado como fiz com tantas outras séries que assisti no Netflix. Digo que gostei da série, os defeitos bobos de discurso me irritaram mais do que o visual. O fato do preconceito por ser uma série com atores do Brasil, acho que estas pessoas não devem ser levadas a sério. No Twitter muitos meteram o pau na série sem ao menos assistir. Vai entender. Digo que a série vale a pena assistir, e tirem suas próprias conclusões.

  15. Cala a boca idiota, a série tem mulheres de todos os tipos e gostos, só porque apareceu a Mel em alguns minutos do 5º episódio você julga a serie inteira como machista? perpetuando padrão siliconado? ela é a UNICA siliconada da série e você diz que estão perpetuando um padrão?

  16. Acho que uma das coisas que falta realmente, é menos diálogos expositivos, textos formalizados. Sinceramente, pela qualidade do ator João Miguel em “Estomago” e “A hora e a vez de Augusto Matraga”, não acredito que seja uma atuação pobre dos atores e sim uma preparação melhor do elenco, uma melhor construção das falas, como o Bruno Carvalho bem disse, é que ficou a desejar.
    O filme ‘A que horas ela volta’ devia servir de exemplo para os roteiristas e a atuação magnífica da Regina Casé também.

  17. Acho que você não deveria fazer o seu comentário levando em consideração os demais comentários que estão sendo feitos sobre a série, como se o fato de você reconhecer os dois lados da discussão, lhe se tornasse o isentão, o diferentão, apenas para não ser enquadrado em nenhum dos dois lados. De qualquer forma concordo com você que o exercício crítico ajuda no processo de melhoria de qualquer série. Os meus pontos mais divergentes são com relação as atuações, pois não considero que exista um excesso de formalismo, existem certas oscilações, mas em termos gerais as atuais são decentes e o João Miguel, por exemplo, está maravilhoso e o episódio que se dedica ao seu passado é lindíssimo do ponto de vista narrativo, tornando-o mais complexo e ambíguo. Você comentou que a tecnologia permitiu que se identificasse as emoções dos participantes, mas não ajuda a descobrir quem é o infiltrado? Mas não é o fato do infiltrado enganar essa tecnologia o principal mérito da sua atuação? Ou seja, ele foi capaz de enganar o sistema e por isso que a prova real teve que ser tirada olhos nos olhos, frente a frente. Acho plenamente aceitável. Acho que um furo maior é o fato de dois integrantes que vão até o final serem ilegais e facilmente identificáveis pela marca atrás do pescoço e não ser percebido por ninguém, nenhum outro participante (só entre os próprios), algo que poderia até enganar o escaneamento médico, mas que não passaria tão facilmente pela sua exposição física, não é algo tão fácil de esconder como o veneno, por exemplo. Gostei bastante da série e acho que os seus méritos devem ser tão bem reconhecidos como seus deméritos que não devem ser ignorados e merecem ser devidamente mencionados.

    3%

    Primeira produção brasileira da NETFLIX, “3%” é uma série dramática com pano de fundo de ficção científica que parte de uma distopia para estabelecer um discurso ideológico e social. Em um futuro talvez não muito distante, a sociedade se divide entre fartos e escassos e, aos 20 anos de idade, as pessoas são submetidas a um desgastante processo de seleção em que apenas 3% dos candidatos fazem por merecer a oportunidade de ingressar na utópica cidade de Maralto, lar dos fartos. Esse potencializado e distorcido conceito da meritocracia é capitaneado por Ezequiel (João Miguel), responsável pela coordenação do Processo, mas que vem sendo questionado a partir do registro do primeiro crime da História de Maralto, o que pode colocar em xeque os métodos de seleção pela primeira vez em mais de 100 anos. A jovem Michele (Bianca Comparato) é uma das candidatas que pretendem ascender socialmente com a esperança de reencontrar o namorado do lado de lá e durante o processo ela irá interagir com outros que possuem a mesma ambição em uma disputa que pode ser de vida e de morte.

    Sob a direção geral do experiente diretor de fotografia Cesar Charlone (“Cidade de Deus”, “O Jardineiro Fiel”, “Ensaio Sobre a Cegueira”), a série tem uma qualidade de produção bastante destacável, especialmente por fazer o uso dos bons efeitos especiais de maneira eficiente e prática que realçam o visual estéril e “clean” da direção de arte e capturado por uma fotografia de tons ora claros, ora acinzentados. A trilha sonora que explora alguns clássicos da MPB em versões descoladas e/ou diferentes da que estamos habituados a escutá-las ajuda na construção do clima de estranheza da distopia, mas sem perder a essência das melodias tipicamente brasileiras. Aliado à montagem dinâmica, Charlone sabe construir tensão e suspense e, mesmo que se precipite um pouco com o uso da câmera na mão ou de zooms rápidos, o senso de urgência da narrativa é palpável e orgânico, especialmente na prova do túnel de gás ou durante um episódio que se passa dentro de uma prisão. Algumas soluções estéticas acabam sendo mais discutíveis que outras, como o uso de uma espécie de gosma para cobrir os olhos ou os uniformes rasgados dos fartos, e algumas escolhas narrativas são frágeis já que em alguns momentos há a sensação de que o Processo tem um grave problema de número de funcionários já que em diferentes situações os mesmos colaboradores se apresentam para o serviço, chegando ao ponto do próprio Ezequiel se expor, o que dá uma incômoda sensação de improviso ou limitação. Questiona-se também a existência não apenas de um, mas de dois importantes participantes que ingressam no processo de seleção de maneira ilegal, sendo que eles seriam fisicamente desmascarados com um simples exame médico presencial, o que convenientemente não acontece.

    A metáfora é óbvia, mas muito bem ilustrada e defendida pela narrativa e mesmo que alguns diálogos sejam expositivos ou que as provas tenham um efeito didático, os conflitos entre os participantes levantam importantes discussões sobre a ambição e o individualismo em detrimento da vida em sociedade, valores morais sendo distorcidos em favor de valores materiais, um viés religioso que flerta com a doutrinação alienatória, a disputa entre classes sociais e uma série de outros elementos que buscam reacender o que ainda resta de humanidade e solidariedade entre os participantes. Nesse aspecto, a Causa, organização rebelde que luta contra o Processo, infiltra integrantes para derrubar a ordem dominante ao passo que Ezequiel e os membros do Conselho se mostram cada vez mais dispostos a manter o “status quo”. Os mistérios envolvendo os passados de alguns personagens, especialmente Michele e Ezequiel, servem para criar um clima de instabilidade dentro da narrativa que ajuda na construção de uma espécie de conspiração ainda que tímida e silenciosa e os “flashbacks” funcionam para dar uma maior complexidade dramática aos personagens que não se resumem a meros mocinhos e vilões. O episódio “Água”, por exemplo, que revisita o passado de Ezequiel é de uma poesia narrativa inebriante cuja emoção transborda, apresentando-se como o ponto alto da temporada.

    De maneira geral, o elenco é muito bom e todos têm a sua chance de brilhar. A jovem e talentosa atriz Bianca Comparato se apresenta como uma protagonista forte e carismática de trajetória trágica e melancólica. João Miguel realiza um metódico trabalho de composição repleto de nuances que torna Ezequiel uma figura fria e imprevisível, servindo como um enigmático e complexo antagonista. Mel Fronckowiak é uma grata surpresa e tem a oportunidade de interpretar Julia, esposa de Ezequiel, em um nível de atuação altíssimo, trazendo emoção à flor da pele em um trabalho marcante e impactante. Michel Gomes também merece destaque pela sua intensa e sensível interpretação de Fernando, um obstinado cadeirante, embora se enfraqueça um pouco quando ele se transforma em um mocinho romântico e idealista. Vaneza Oliveira tem uma forte e hipnotizante presença de cena na pele de Joana, uma jovem amarga e traumatizada, e Rafael Lozano esbanja simpatia e segurança como um autêntico líder de grupo que passa por um radical arco dramático. Já Rodolfo Valente tem uma qualidade de atuação que oscila, mas em escala crescente ao se apresentar como Rafael, um personagem ambíguo que varia entre o moralmente repulsivo e o típico anti-herói.

    Originada a partir de um curta metragem lançado em 2011 por Pedro Aguilera, criador e principal roteirista da série, “3%” apresenta uma riquíssima primeira temporada em oito episódios que avançam muito além da analogia social de sua premissa e em nenhum momento sacrifica a narrativa, afinal também funciona como uma ótima e excitante peça de entretenimento. Inconclusivo, o desfecho é pessimista e anticlimático já que sugere que a série assumirá diferentes linhas narrativas em uma próxima temporada, inclusive dando mais espaço ao universo dos escassos, mas a sensação de dever cumprido é nítida pelo apelo e pela eficiência da sua proposta que faz por merecer o seu devido reconhecimento.

    8.0/10

  18. Concordo plenamente com a crítica. Tive um êxtase quando li sobre a superficialidade da fala das personagens. Realmente fica nítido, na maioria das vezes, que o cara tá ali fazendo um texto. Talvez o ator que mais fuja disso, na minha opinião, é o que faz o Rafael. Esse português certinho demais a gente até tolera nas novelas, mas numa série dessa que traz uma expectativa de algo grandioso como as séries norte-americanas não poderia cometer esse tipo de equívoco. No mais gostei bastante da série, me envolvi com a história e acho que se fosse mais bem produzida seria um grande sucesso no mundo todo. Quero deixar uma ressalva sobre a dublagem em inglês. Credo, horrível, pelo menos nisso acredito que ganhamos de 10 a 0 deles viu…

  19. kk Concordo foi exatamente oque pensei antes de abandonar a série, parecia que eu estava assistindo BBB só que um pouco mais radical.

  20. Finalmente uma critica decente, e que aponta os varios erros dessa serie. Alguns bem absurdos. Sem falar nos furos de roteiro, que sao muitos. Parabens pela critica. Vc conseguiu passar tudo, o que eu pensava, assistindo essa serie

  21. Ah man releva aí porra, pouco orçamento, eu to gostando… não se compara a nenhum trampo da gringa, é claro, mas ruim não é não.

  22. Brasileiro gosta de criticar tudo que vem do brasil. kkkkkkk
    Se olhar no imbd, vai ver que a critica de quem já viu em outros países, foi positiva, então chega de criticar e vamos prestigiar para que tenhamos mais produções BRs pelo mundo.

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