quinta-feira, março 28 2024

Imediatamente ao publicar a crítica de Punho de Ferro no Facebook, passei a ser atacado por ditos “fãs” da série (que, vale apontar, sequer havia estreado quando publiquei o texto). Essa reação é, em parte, capitaneada pelas declarações do ator e protagonista Finn Jones. Provando que é bastante sensível a opiniões, ele não apenas fechou sua conta no Twitter como desmereceu toda e qualquer crítica à série que estrela, alegando que “ela foi feita para os fãs e não para os críticos“.

Deixando momentaneamente de lado o argumento pífio em si, além da covardia de esconder os problemas patentes da produção atrás dos ditos “fãs”, apenas para contexto segue a opinião de quem já assistiu: Nerdist, Vulture, The AV Club, The Verge, Rolling Stone Magazine, EW, ScreenRant, Uproxx, Variety, CinemaBlend, IGN, The Hollywood Reporter, Judão, OmeleteCollider, Empire Magazine. Destas, apenas as duas últimas gostam moderadamente, mas com muitas ressalvas.

Estariam todas estas respeitáveis publicações erradas? A série foi de fato feita “só” para fãs como diz o ator? Se sim, gostaria muito de entender como funciona esse processo. Lá no set o diretor parava tudo pra dizer: “opa, opa, tire esse diálogo coerente daí“, ou quem sabe: “cara, dá uma piorada nessa coreografia, porque isso não é série pra crítico não!“, ou até mesmo: “não precisamos construir bem os personagens porque quem é fã mesmo não liga pra isso!”

Aliás, como uma série que sequer foi lançada tem tantos “fãs”? E que lógica é essa, Finn Jones? Até culpar “a eleição de Donald Trump” pela baixa qualidade do show ele culpou. Foi Trump que escreveu o roteiro raso, expositivo e cheio de falhas? Acho que não, hein…

Ainda assim, hoje fui acusado de ser “sequer um bosta” e “que não dá nem pra usar o celular pra limpar a bunda” (oi? vocês limpam a bunda com celular?), bem como ouvi novamente a máxima: “essa crítica não é imparcial”. Dê uma passeada aqui pra ler mais.

Sim, amigos, não é. Crítica nenhuma é ou deveria ser imparcial. A crítica precisa ser é isenta, que é algo bastante diferente. Aliás, é curioso notar que quando elogio qualquer produção da Netflix sou “pago” pra isso, mas quando critico sou “um furioso detrator que odeia a Marvel”. Na cabeça dessas pessoas a Netflix ou a Marvel ficam me dando e tomando dinheiro semana sim, semana não. Além disso, relembro a essa turma que eu sou SIM fã das séries da Marvel/Netflix. Eu e os colunistas deste site gostamos muito de DemolidorJessica Jones e até de Luke Cage que não é nenhuma unanimidade, veja:

Críticas Demolidor S01 | Jessica Jones | Luke Cage | Demolidor S02

Mas essa reação exarcebada tanto do protagonista quando dos “fãs” é o sintoma de um problema muito maior. Há atualmente uma patente necessidade em um certo grupo de pessoas de estabelecer uma conexão obrigatória com qualquer produto que determinadas marcas soltam, evidenciando que eles sequer se importam com qualidade. Até marca de celular tem fã assim. Para eles, quem quer que fale mal tem a opinião necessariamente maculada por interesses ou motivações escusas e os argumentos devem ser sumariamente desconsiderados, pois eles são os verdadeiros donos da razão. Pois eles gostam de verdade.

Eles amam uma pessoa jurídica.

Aliás, eu disse que é Punho de Ferro é ruim, mas jamais diria: “você precisa achar que Punho de Ferro é ruim“. Cada um assiste e tira as suas próprias conclusões. Alguém no Twitter me perguntou: “não dá ao menos pra se divertir?”. Ora, se você se diverte com roteiro expositivo, personagens mal construídos, cenas de ação fracas e subtramas desinteressantes, be my guest e vá à forra.

Não, colegas fanboys de marca: o papel da crítica não é detratar uma produção, e sim comentá-la e trazer elementos que, inclusive, podem servir de feedback para a constante melhoria da arte em si. Toda e qualquer obra artística está sujeita a críticas e o fato de que um crítico, site, influenciador, jornalista ou até mesmo um não ter gostado de algo, especialmente se a opinião está fundamentada, não se trata de ofensa alguma. Já ouvi uma vez que eu deveria ter “respeito” pela série, pois isso “ofenderia” quem a fez. Quem está verdadeiramente ofendido, no caso? Como que magoa um CNPJ?

O “fanboy de marca” tem uma paixão tão cega que ele é incapaz de identificar demérito naquilo que consome ou, quando identifica, não se vê apto a admitir que tal estúdio ou empresa está sujeita a erros. Punho de Ferro não é boa. Tem 3.000 toques no meu texto explicando porque não considerei boa.

E sim, vi 8 episódios de 13. Faltam 5 pra ver. O último argumento desesperado é o do “não viu tudo, não pode falar”. Sim, claro que posso. A Marvel e a Netflix quiseram assim. Boa parte da imprensa, inclusive, recebeu apenas 6 capítulos. Vi 2 a mais porque participei de um evento relacionado em Nova York. Com 6 ou 8 roteiros é possível dar um diagnóstico sobre o que foi mostrado. E fato é que até onde assistimos a série não é boa. Se os 5 últimos milagrosamente forem muito bons, serei o primeiro a vir aqui e ressaltar, mas não muda nada o fato de que 70% da primeira temporada está aquém do que Marvel e Netflix já fizeram.

Calma, parcimônia. Está tudo bem gostar ou não de algo. Ninguém vai morrer ou não por isso. É mais uma série e já já tem DefensoresJusticeiro aí. Torço pra que todas as séries sejam boas, mas não é trabalho de ninguém adular canais, emissoras e estúdios quando eles erram a mão.

O fã deveria ser o maior  e mais ferrenho crítico de uma obra, pois inclusive é pra ele que a série é feita, certo Finn Jones? Assistam a Punho de Ferro amanhã e venham aqui me contar o que acharam. ;)

24 comments

  1. Hoje a internet e redes sociais permite que cada um se torne um “crítico”, às vezes pessoas que não sabem como analisar ou pior, não sabem respeitar a opinião alheia. A opinião do crítico é dizer o que ELE achou, a nossa é ver seu ponto de vista, concordar ou não. Eu mesmo discordo de várias críticas, acho BvS um dos melhores filmes de quadrinhos, mas é a minha opinião. Não é proibido gostar ou desgostar de algo baseado em uma crítica e é isso que o pessoal não entende ou respeita. Por exemplo, eu gosto de Esquadrão Suicida, sei que é ruim, mal feito, mas gosto, me divertiu. As pessoas precisam parar de se importar com o trabalho dos outros, que não é feito pra agradar ninguém e sim fornecer seu ponto de vista, e passarem a apreciar e gostar seja lá do que for, ao invés de ir xingar muito no Twitter.

  2. Você ter que vir aqui e escrever um texto exclusivamente sobre isso é triste. Eu li a sua crítica e ela é fundamentada, sim, como boa parte das que já li por aqui. Se irei concordar ou não, terei que esperar sexta feira. Mas vc tocou em um ponto interessante, e não apenas para os críticos, mas para o público em geral. Essa questão dos “fãs de marcas” vai além. Eu, como fã de TWD ou GOT, por exemplo, sou impossibilitada de tecer qualquer crítica às séries que logo leio/escuto um “para de ver, ué”. É tudo muito 8 ou 80, ame-o ou deixe-o.

  3. Ótimo texto.
    Parabéns e força pra enfrentar essa correte de intransigência que infesta nossas redes sociais.

  4. Vamos ver, mas confesso que ao ler a sua e a crítica de outros, o T já baixou bte, ainda mais se as lutas forem muito aquém das do Demolidor, daí ferrou de vez.

  5. Imaginar que foi preciso fazer um texto explicando uma crítica. Os dias estão ficando mais complicados mesmo.

  6. Parabéns pelo texto! Mesmo que seria melhor você não ter precisado fazer isso. Abaixo a fãboiolagem.

  7. Nunca gostei das sua críticas. Sempre senti o oposto do que você escreve e pra isso o Ligado em Série é como um termômetro às avessas pra mim. Não gosto do modo como interage com os leitores também. Nada pessoal é claro, nem te conheço… Mas gastar tempo escrevendo pra fanboys é abaixo de você caro Bruno Carvalho.

  8. “E sim, vi 8 episódios de 13. Faltam 5 pra ver. O último argumento desesperado é o do “não viu tudo, não pode falar”. Sim, claro que posso.”

    Tem que avisar isso para seu colega cinéfilo que execrou a Cláudia Croitor por criticar Sense8 sem ter visto todos os episódios.

  9. Fã da Marvel é assim mesmo, não liga não. Um bando de crianças que não sabem argumentar e vai direto pra baixaria.
    Obrigado pela crítica, já estava esperando pouco da série, seu texto só me ajudou a dodge a bullet.

  10. Texto ótimo; alias achei meio pesado ver que alguns “fãs” chegaram a esse tal ponto de ninguém pode falar mal de alguma coisa que a massa vêm e quer destruir a pessoa; como algumas pessoas citaram anteriormente; se gosta de alguma coisa ok, a galera chama pro clube mas aí fala que não gosta e a mesma galera que estava te apoiando começa a xingar e essas coisa ;vergonha disso. Um exemplo é minha pessoa não gostar de The Walking Dead; conheço pessoas que acham a melhor série que já assistiram e quando falo que não acho tudo isso elas me olham parecendo que falei a pior coisa do mundo mas há um ou dois que aceitam minha opinião. Parece que hoje em dia as pessoas não aceitam mais as opiniões que não sejam positivas a respeito de coisas que elas gostem; até quando se fala que a Netflix lançou uma série ruim; parece que tudo têm que ser 100% mesmo não sendo; affs. As pessoas que chegam a esse ponto não pensam direito e nem sabem o que significa a palavra crítica. Têm que parar de dar atenção para esse tipo de fan (sqn), pq enquanto eles verem que esse tipo gesto infantil/ignorante está dando certo eles não vão parar tão cedo….

  11. As pessoas confundem profissionalismo com a vida alheia cara; elas pensam que xingar e fazer outras coisas nesse sentido vá mudar a forma de como se ver certo produto do mercado de entretenimento!

  12. Não é só eles; são a maioria de fans de qualquer coisa hoje em dia; até fan da Netflix!

  13. Fanboy é fanboy e nunca aceitará critica que não seja boa do que ele gosta. kkkkkkkkkkkkkkkk

  14. Achei infantil um texto pra justificar uma critica e ainda citar que fulano e ciclano também não gostaram, como para validar ou reafirmar uma opinião. É mesmo necessário? Talvez um texto mais abrangente sobre fanboyzismo na cultura pop em geral fosse mais proveitoso e soasse menos como defesa.

  15. Que coisa chata. E realmente, e infelizmente a Netflix, esta cheia desses fanboys, que hoje qualquer coisa que esse serviço faça, por mais porcaria que seja, se torna a melhor coisa do mundo. E ai de vc se falar mal. Uma pena que hoje em dia, nao possamos mais expor nossa opiniao sem ser agredido na internet.

  16. É por críticos como você que boas séries não são renovadas. Não voltarei a esse site novamente.

  17. Ué… e os fãs da DC que fizeram a MESMÍSSIMA coisa em relação às críticas negativas que Batman v Superman recebeu?

    Diga o que pensa a respeito disso…

  18. Bruno, se você fosse realmente isento o suficiente para falar sobre o assunto, não teria se referido EXCLUSIVAMENTE aos fãs da Marvel que reclamaram de sua crítica.

    Todo mundo sabe que, no ano passado, o fãs da DC, em número muito maior e de forma mais maciça, reclamou das críticas negativas a Batman v Superman. Restringindo o fanboyzismo diante das “críticas não desejáveis” exclusivamente aos fãs da Marvel, você soou um bocado tendencioso, o que é uma pena para alguém que se dedica a esse tipo de trabalho.

  19. Apesar do texto ter um tempo, vamos lá colocar os pingos nos i’s…
    1- Alguns vezes, sua opinião apresenta um cunho de âmbito duvidoso;
    2- A maioria dos sites citados no segundo parágrafo, criticaram a série com a desculpa de apropriação cultural. Quem toca nessa estupidez não pode ser levado a sério, ao menos, pode se dar ao luxo de ser chamado de crítico;

    3- Não, Finn não é sensível à críticas. O fato é que ficaram enchendo o saco dele com essa besteira citada anteriormente, como todos sabem, twitter é antro com maior número de pessoas retardadas da internet.
    4- Não, ele não culpou Trump. Sites apenas pegaram uma frase fora de contexto e transformaram em clickbait.

    Não gostou? Ótimo, sua opinião. Mas boa parte desse texto foi desnecessário; se aprofundar em detalhes faz toda a diferença.
    #pas

  20. Cara, pior do que nego te criticar por tu dar a TUA opinião sobre o qualquer coisa é tu escrever um texto desse tamanho pra justificar a TUA opinião. E ainda precisar anexar opiniões semelhantes pra tentar fortalecer um argumento que em momento algum precisou ser fortalecido/reforçado. Tu não gostou e ponto final… já expôs a opinião, fundamentou a mesma e pronto. Teu erro é justamente tentar se defender e “converter” os demais.

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