quinta-feira, março 28 2024
Foto: Reprodução/Showtime

[com spoilers dos episódios 03×03 e 03×04] Na última segunda-feira, mais dois episódios da nova temporada de Twin Peaks foram incluídos na Netflix, e eles não poderiam ser mais contrastantes. O terceiro ainda segue muito a linha dos dois primeiros, que foram consideravelmente bizarros e deixaram muitos fãs confusos. Porém, consegue ser ainda mais surreal, atingindo o ápice da doideira Lynchiana (ou Lyncheana?) até agora. Confesso que achei o início desse episódio um pouco difícil, especialmente nas cenas em que Cooper está em uma sala com uma mulher sem olhos. Até ele sair desse local, considerei tudo um tanto arrastado, talvez pela soma da ausência de diálogos com os efeitos utilizados, que fazem com que os movimentos sejam repetidos continuamente.

O arco principal do episódio gira em torno de Dougie, uma outra “cópia” de Cooper criada para evitar que o doppelgänger do mal volte ao Black Lodge. Após uma sequência envolvendo muitos vômitos (evite comer antes de assistir), é o pacato Dougie quem acaba na sala vermelha, enquanto o verdadeiro Cooper é transportado via fiação elétrica (para quem viu o espírito de Josie ficar preso em um puxador de gaveta, isso não vai ser nem um pouco estranho) para o local onde Dougie estava acompanhado de uma prostituta. Como está em uma espécie de compreensível estado catatônico após 25 anos na sala vermelha, sem saber muito bem quem é e como se comunicar, todos o tratam como se fosse Dougie e ele acaba assumindo essa identidade acidentalmente. Já o doppelgänger do mal sofre um acidente de carro e é preso pela polícia, e agora é que o enredo do revival começa a ficar realmente interessante, com pelo menos algumas peças se encaixando melhor e indicando o caminho que a série deve seguir.

Foto: Divulgação/Showtime

Após toda essa loucura, veio o quarto episódio, que serve como um respiro após uma arrancada bastante surreal na temporada e foca um pouco mais naquele alívio cômico que a série sempre teve através de personagens e diálogos excêntricos. De um lado, tivemos isso com Cooper, agora vivendo a vida de Dougie, em cenas hilárias que se passam em um cassino e rapidamente já viraram memes (HELLOO-O). De outro, a diversão veio com Hawk, Andy e Lucy, reunidos para tentar desvendar a mensagem do tronco de Margaret, em uma sequência maravilhosa que me arrancou gargalhadas (“It’s not about the bunny!).

E ainda teria outro momento memorável por acontecer no quarto episódio: finalmente conhecemos Wally, o filho de Lucy e Andy (cujo pai biológico pode ser Dick, nunca soubemos a resposta), e ele é o resultado perfeito que esperaríamos de alguém criado por um casal tão peculiar. O personagem é (muito bem) interpretado por Michael Cera e entrega um monólogo dos mais inusitados, digno de Twin Peaks. Espero que essa participação especial se estenda, pois adoraria ver um diálogo entre Wally e o verdadeiro Cooper.

Falando em participações especiais, esses dois episódios ainda contaram com Naomi Watts como a esposa de Dougie, David Duchovny reprisando o papel de Denise Bryson (que hoje é chefe de gabinete do FBI), David Lynch como Gordon Cole e a participação mais agridoce de todas: o recentemente falecido Miguel Ferrer, que interpreta o agente Albert Rosenfield.

Vale registrar que o retorno de Gordon Cole é fundamental para o prosseguimento da temporada, pois é quem percebe que o homem que está preso não é o verdadeiro Cooper. Ele se dá conta disso pela forma que foi cumprimentado, diferente do que Cooper faria (estalando os dedos e apontando). Tem um outro detalhe interessante nessa cena: no Black Lodge, os espíritos residentes falam daquela forma específica, resultado da gravação de trás para frente, mas o doppelgänger, ao cumprimentar Cole, fala uma das palavras ao contrário (yrev = very). Somando os dois detalhes, Gordon percebe que há algo de errado e provavelmente terá um papel importante para desmascarar o impostor, considerando que o verdadeiro Cooper ainda não sabe bem quem é. Resta aguardar até a próxima segunda-feira para descobrir a próxima parada dessa doida jornada pela nova Twin Peaks.

1 comment

  1. Nossa! Que droga poderosa que o David Lynch usa. Tem que estar doidão para conseguir ver esta série. A impressão que tenho é que a equipe toda desta série não bate bem.

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