quarta-feira, março 13 2024

O texto a seguir aborda eventos dos episódios 2×01 e 2×02, contendo “spoilers” conhecidos de quem tem familiaridade com o caso real. A série começa a ser exibida no Brasil nesta quinta, 18 de janeiro às 23h no canal FX.

O gênero dramático conhecido como “true crime” veio para contrapor com vigor as produções procedurais que ainda tomam conta da televisão. Exemplares como Making a MurdererThe JinxMindhunterO Povo Contra OJ Simpson foram eficazes em estabelecer a tendência para a atual era televisiva, sempre utilizando criminosos que, de alguma forma, despertam ou despetaram a curiosidade – talvez mórbida – do coletivo (seja por conseguirem escapar de condenações, protagonizarem crimes hediondos e notórios ou por estarem presos aparentemente de forma injusta). Há nessas produções um elemento comum: personagens centrais ou secundários fascinantes e capazes de trazerem elementos de surpresa ao público.

Infelizmente, O Assassinato de Gianni Versace: American Crime Story, pelo menos com base nos dois primeiros episódios que o FX exibiu à imprensa, não parece beber desta fonte. Isso porque mesmo tendo o falecido estilista como personagem título, sua narrativa foca mais tempo em seu algoz, Andrew Cunanan: um assassino que não tinha nada de fascinante a não ser portar o gene da psicopatia clássica que o levou a cometer uma desastrosa série de crimes antes de tirar a própria vida.

Darren Criss (Glee) dá vida a Cunanan de forma enérgica como um sujeito intenso e confuso, mas que em sua essência é apenas um psicopata egocêntrico. Os demais players dessa história, Edgard Ramírez (Bright), Penélope Cruz (Profissão de Risco) e Ricky Martin, estão satisfatórios interpretando, respectivamente, Gianni Versace, Donatella Versace e Antonio D’Amico (namorado do estilista).

Mas O Assassinato de Gianni Versace não empolga como os outros exemplares citados, em especial a primeira temporada desta antologia do crime, que é excelente. Primeiramente porque a repercussão do crime na sociedade foi bem menor do que aquele visto em O Povo Contra OJ Simpson, além do fato de que na história estrelada por Cuba Gooding Jr. ainda haviam elementos controversos sobre todo o caso, seu julgamento etc.  Em segundo lugar, porque a forma como a história é contada prejudica a própria atração: seus capítulos são desenrolados de trás pra frente na maior parte do tempo, com direito a flashbacks, flashforwards e tramas paralelas desinteressantes. Assim, a série começa pelo crime em si, montada de forma confusa.

Por outro lado, Ryan Murphy – muito mais contido na direção, diga-se – e seu time de produção mostram que, pelo menos em aspectos técnicos, O Assassinato de Gianni Versace segue impecável como na primeira temporada, desde a caracterização e figurino dos personagens até às situações retratadas, idênticas aos eventos reais (uma rápida comparação das imagens do crime principal em si evidencia o capricho da produção). A fotografia é belíssima e capta exatamente a aura de grandiosidade em torno da família da moda e evoca uma época glamurosa na Miami dos anos 90.

Resta saber se, pela toada dos dois primeiros capítulos, o restante da série se desenvolverá de forma mais enérgica e menos plástica, discutindo mais à fundo alguns dos temas pincelados (a conturbada relação da família Versace, preconceito contra homossexuais e o surto de AIDS dos anos 90). Acho difícil, porém, que esta segunda temporada consiga trazer uma trama que instigue o espectador a acompanhar por dez semanas um caso como foi com OJ, ainda mais este que já resolvido e, aparentemente, não traz em si nenhuma justificativa que mereça revisitá-lo. Se conseguir, será mérito dos roteiristas e realizadores, mas não vi nada muito promissor nesse sentido por este início.

A crítica completa quando a temporada terminar na TV. Espero que melhore.

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