quinta-feira, março 28 2024

Em 20 de maio de 2015, David Letterman fez o sua última aparição regular na TV após 33 anos no ar e 6.028 programas gravados. O comediante, roteirista e produtor estreou o talk-show Late Night with David Letterman em 1982, que era exibido após o lendário The Tonight Show starring Johnny Carson na NBC. Ele ficou conhecido por seu Morning Show na NBC, programa de variedades cômico que durou poucos meses. Para todo mundo, Letterman era considerado o sucessor óbvio e natural de Johnny Carson no comando do Tonight Show. Mas um dos comediantes que frequentemente fazia stand-ups nos segmentos cômicos de Carson estava cada vez mais chamando a atenção do canal e ele era Jay Leno. Este arquitetou nos bastidores um plano para suceder Carson, forçando Letterman a mudar-se para a concorrente CBS e criar o seu Late Show with David Letterman. Leno novamente aprontaria uma dessa décadas depois com Conan O’Brien. Mas isso é história pra outra hora…

Dave sempre foi uma bola fora da curva no show-business, um inquieto e inconformado, constantemente quebrando paradigmas, convenções e conceitos do gênero. Ele não fazia pré-entrevistas com seus convidados, comandava todos os aspectos de seu show e acreditava no bom e velho papo. Letterman foi o último representante de sua geração nos talk-shows (Jay Leno e Craig Ferguson já se aposentaram) e agora vivemos a era dos “Jimmies” (Fallon, Kimmel, Corden) com suas hashtags, pílulas em vídeo para a internet, joguinhos e memes forçados para rodar as redes sociais.

Ranzinza, ermitão e sempre irônico, Dave não estava lá pra ser “amiguinho” de seus entrevistados. Nesse vídeo abaixo, por exemplo, ele preparou uma pequena armadilha para Donald Trump: o magnata foi lá pra lançar sua linha de gravatas e falar mal da economia norte-americana, já que muitas empresas terceirizam trabalho para a China. Eis que David Letterman pega uma de suas gravatas e questiona: “Onde foram fabricadas? China”:

É por coisas assim que seu retorno à TV pelo Meu Próximo Convidado Dispensa Apresentação merece ser celebrado. Nessa leva de seis episódios exibidos um por mês (adorei este formato em pílulas), Dave agora escolhe com quem vai falar e começou com o presidente Barack Obama no capítulo que estreou na última sexta-feira (12/01).

Sem as amarras do formato tradicional dos talk-shows e sem blocos comerciais, Letterman tem espaço para brilhar naquilo que mais sabe: entrevistar. Numa conversa de quase uma hora com Obama, foram discutidos variados temas: de trivialidades, questões raciais e política internacional. Crítico ácido do governo Trump, Letterman não mencionou o atual presidente ou fez piadas. Ele sabe que o contraponto do que ele está exibindo com o que acontece fora dali é crítica suficiente.

O programa também abre espaço para reportagens e entrevistas gravadas fora dali, mas que guardam relação com o convidado ou com o tema que está sendo proposto, o que se mostra um acerto fenomenal no formato – que também não tem nenhum tipo de cenário, banda, produção ou luxo. São apenas duas poltronas num anfiteatro de faculdade.

Dave e seu convidado já bastam. Nos próximo meses, George Clooney, Jay Z, Tina Fey, Malala e Howard Stern sentarão com ele e tomara que esta seja apenas a primeira temporada de muitas.

1 comment

  1. Provavelmente é impossível, seria muuuito interessante neste formato mais livre ver David Letterman entrevistar o próprio Jay Leno.

Deixe um comentário