sexta-feira, março 29 2024

Alan Ball criou o que pra mim é a melhor série que já vi até hoje: Six Feet Under. O drama sobre a família Fisher tinha vários elementos instigantes e lidava de forma aberta com o tema “morte”, afinal acompanhava o dia a dia de uma funerária em Los Angeles. Depois de comandar a irregular True Blood, o autor retorna com uma nova série que estreou hoje na HBO, Here and Now.

A atração segue os passos de uma família multicultural, onde os pais Greg (Tim Robbins, The Brink) e Audrey (Holly Hunter, The Big Sick) decidiram adotar filhos de diversas etnias, no que chamaram de “o experimento”.

O ator Daniel Zovatto, que interpreta o personagem Ramón, falou ao Ligado sobre a diferença desta série de outros dramas familiares:

“A produção retrata uma família moderna e multi-étnica, muito ligada espiritualmente e cheia de pensamento positivo. Por essa estrutura, conseguimos ver como o atual momento que o mundo passa afeta cada um dos membros dessa família, o que possibilita que várias conversas sejam iniciadas – inclusive sobre muitos assuntos que escolhemos ignorar.”

Através de recortes no dia do aniversário de 60 anos do patriarca Greg Bishop, a narrativa divide seu foco em cada um dos personagens pouco (ou nada) carismáticos, retratando trivialidades até que todos se encontram na festa. Conhecemos, assim, Ashley, a filha executiva vinda da Libéria; Duc, um vietnamita que é uma espécie de coach de comportamento; Ramon um programador de softwares colombiano e homossexual; e a jovem Kristen, única filha biológica da família. É lá, durante um discurso do patriarca bem-sucedido, porém deprimido e desmotivado com o casamento e com seu “experimento”, que o capítulo começa mesmo a se desenrolar.

O autor parece querer fazer comentários sobre o mundo atual para que a série se posicione como moderna, ativista e relevante. Há, porém, uma imensa diferença entre uma série querer ser relevante do que realmente ser. Existem hoje muitas produções que discutem questões sociais, raciais, religiosas e sexuais com eficiência, mas que levaram tempo para desenvolver suas narrativas. Em Here and Now, a primeira impressão é que seus realizadores queriam muito fazer parte deste time, sem antes mostrarem a que vieram e, principalmente, qual a motivação de seu discurso.

Daniel Zovatto explica qual a intenção da produção, contudo:

A série aborda questões como equidade de gênero, racismo, saúde mental e outros assuntos que não ganham tanta repercussão em outras séries. O elemento que junta tudo isso é Alan Ball, que conta histórias de uma forma muito humano fazendo com que o público pense.

Eis que subitamente, na tal festa, Ramon passa a ser o foco das atenções quando começa a ter aparentes alucinações com o número 11:11, algo que vinha acontecendo de forma menos evidente desde aquela manhã. As velas da decoração da festa invadem a casa como uma grande aparição, interrompendo até mesmo o momento de Greg. Com isso, os pais são forçados a levá-lo para o psiquiatra e ele decide se tratar ali.

A série pretende adentrar em cada uma dessas histórias, como descreveu Zovatto:

“Cada personagem terá um arco nessa primeira temporada. A gente vai entrar na vida de cada um deles e veremos as histórias que eles tem para nos contar. Acho que as pessoas vão aprender muito com essa série, especialmente sobre quem somos e o que está acontecendo com o mundo. É o que tentaremos fazer. Sobre o que está acontecendo com Ramón, vocês precisarão assistir!”

Não deu pra saber, no entando, sobre o que é Here and Now, se uma série familiar ao estilo This is Us, se é um drama com elementos místicos, ou um grande caso médico para ser desvendado pelo Dr. House.

Apesar de bem executada tecnicamente, o drama peca com um texto que aparenta ser profundo sem, contudo, delinear bem seu real interesse. Não sei como a série vai se desenrolar – espero que pelo menos sua temática seja melhor delimitada -, mas esta primeira visita ao novo drama de Alan Ball evidencia que a cada ano ele está mais distante de conseguir repetir o sucesso e, aí sim, a verdadeira relevância que Six Feet Under teve para sua época, ao discutir todas as questões que parecem permear Here and Now, mas com autoridade e de forma coerente.

Aguardemos…

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