Vingadores: Guerra Infinita tinha a hercúlea e sem precedentes missão de juntar, em um único filme, o enorme grupo de herois apresentados a nós nos últimos 10 anos e 18 longas com o selo Marvel. Seus diretores, Anthony e Joe Russo (Community, Arrested Development), precisavam não apenas ter em mente os últimos acontecimentos do universo cinematográfico, como também homenagear o evento que vem sendo preparado há tanto tempo.
Felizmente, o resultado visto em tela é extremamente satisfatório, devido a um enorme trabalho de produção (Kevin Feige, em especial), roteiro, atuações e efeitos visuais. Como então lidar com tantos personagens, histórias paralelas e egos em poucas horas? Simples, Vingadores: Guerra Infinita mantém seu foco naquele que esteve sempre presente, mas que mal foi visto nos últimos anos, Thanos.
Apresentado como um personagem inicialmente frio e ameaçador na busca pelas seis joias do infinito, o longa investe tempo e cuidado na caracterização do vilão que tem motivações genuínas (sob seu ponto de vista) e reais, ao mesmo tempo em que retrata com habilidade suas falhas e vulnerabilidades. Assim, a Marvel aqui conserta um longo e duraroudo problema de seu universo: vilões ruins, salvo raras exceções como Loki e Kilgrave.
Na busca de impedir o plano de Thanos, que ao conseguir juntar as seis gemas terá um controle absoluto de tudo, a Iniciativa Vingadores ganha uma sobrevida tácita através dos encontros, desencontros e reencontros de vários herois, agora espalhados em diferentes “núcleos”.
Ao mesmo tempo em que é interessantíssimo ver o retorno da dupla Tony Stark e Peter Parker, é igualmente marcante a união destes com o Doutor Estranho, Bruce Banner e, mais adiante, Peter Quill e os Guardiões da Galáxia. Da mesma forma, é impossível não comemorar quando vemos Thor surgindo em tela para salvar o dia ou mesmo quando rostos familiares como o Capitão América, Viúva Negra e os recém vistos habitantes de Wakanda se juntam para (tentar) salvar o dia.
Equilibrado, o filme não permanece muito tempo num lugar só e percorre não apenas diversas localidades na Terra, como também no espaço. Todos parecem ganhar tempo de tela similar e ter seus momentos de destaque de forma orgânica e fluida, sem aparentar o que poderia ser um desfile de nomes (e marcas) ao longo da projeção. Até mesmo as “piadinhas” características da franquia Marvel são dosadas, eficientes e jamais prejudicam o tom mais sóbrio e de urgência retratado.
Sem entregar spoilers a pedido dos diretores Anthony e Joe Russo, posso afirmar que o terceiro e final ato de Vingadores: Guerra Infinita faz justiça à grandiosidade deste evento, ao mesmo tempo em que foge em parte da covardia e pausteurização que se tornaram comuns na franquia. Aqui, aparentemente, os riscos são reais (embora não necessariamente irreversíveis, já que existe uma joia que controla o tempo, né?), marcando um necessário e esperado ponto de virada para uma nova fase.
Tecnicamente impecável, sim, Guerra Infinita apenas deixa a desejar na construção de seu visual. Embora traga a tradicional paleta colorida da Marvel, ele muitas vezes é ambientado em cenários genéricos, estéreis e pouco inventivos, especialmente nos diversos planetas em que os herois percorrem.
Ainda assim, o saldo é positivo e o que é entregue aos fãs que investiram tantas horas nesta franquia é coerente e evidencia o esforço coletivo de tantos envolvidos.
Há apenas uma cena – excelente – ao final dos créditos.