quinta-feira, março 28 2024

[contém spoilers da premissa] Estreia nesta sexta na Netflix o drama britânico Os Inocentes, uma clara tentativa (em parte bem-sucedida) de levar o gênero “young adult” sobrenatural que conquistou jovens do mundo para a tela do streaming. Com oito episódios em sua primeira temporada, a série conta a história da jovem June (Sourcha Groundsell), uma garota que vive em um rígido e controlado ambiente familiar numa cidade do interior e que, logo após completar 16 anos, descobre ser uma metamorfa (ou shapeshifter) enquanto decide fugir de casa com seu namorado de colégio Harry (Percelle Ascott). Quando aparentemente acuada, ela assume a forma da pessoa mais próxima que a toca, embora sua imagem se mantém a mesma quando refletida em um espelho. Bizarro.

Fotografada com cores frias, muitas sombras e uma paleta de cores dessaturada como de costume em séries europeias (The End of the F*cking WorldDark, como exemplos recentes), Os Inocentes se estrutura em torno da perseguição do pai de June e seu irmão e das várias intempéries que o casal de jovens enfrenta em sua fuga. Longe dali na Escócia, sua mãe Elena (Laura Birn) – também uma metamorfa – é alvo de experimentos do Dr. Halvorson (Guy Pearce, único nome notório no elenco), um sujeito que dedicou parte de sua vida profissional tentando desvendar os segredos de pessoas com essa habilidade.

Apesar da base sobrenatural, a série tem os dois pés fincados na realidade, algo que é reforçado pelo uso restrito de efeitos visuais (inclusive nas transformações). Seus primeiros episódios são um tanto arrastados e podem se tornar maçantes, afastando o espectador ávido por “respostas” mais rápidas, algo que este drama definitivamente não traz da forma como se esperaria, ainda mais considerando seu público-alvo. Isso é bom e ruim, já que permite um desenvolvimento maior das personagens e transforma parte de Os Inocentes em uma história de amor adolescente entre June e Harry, mas por outro pode irritar pela perceptível falta de avanço na trama, que só vem em seus episódios finais.

Estranha em sua premissa e eficaz em boa parte de sua abordagem, a série causa um misto de sensações, que vão desde a empolgação pelas descobertas que June e Harry fazem junto do público até a frustração quando respostas a diversas perguntas que fazemos são convenientemente ignoradas ou adiadas pelo roteiro. Bem dirigida do começo ao fim e repleta de locações belas, Os Inocentes não pode ser caracterizada como um “hit” certeiro da gigante do streaming, mas também não merece ser ignorada, pois é no mínimo interessante e diferente dos últimos títulos que a empresa coloca no ar.

Tem quem vai amar incondicionalmente, tem quem não vai se adaptar ao ritmo inconstante de seus episódios, prevejo. Gostei do que vi, mas com bastantes ressalvas, em especial à duração longa de cada episódio (a maioria perto de 1h), sendo mais um dos títulos que se beneficiariam com bem menos episódios. Quatro a seis capítulos (ou quem sabe, um filme) seria o ideal para manter uma trama mais concisa e menos evasiva.


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